Economia e Finanças

Escolhido para Comércio doou milhões de dólares para campanha de Trump

(Arquivo) Howard Lutnick, em 2007 (Crédito: EnergeticNYC/Flickr)

Por Isabelle Silva Soares, com supervisão de Aline Regina Alves Martins* [Informe OPEU] [Trump 2.0] [Comércio]

O presidente eleito Donald Trump toma posse neste 20 de janeiro. Para assumir o cargo de secretário do Comércio, Trump escolheu Howard Lutnick, o copresidente de sua equipe de transição. Inicialmente, Lutnick havia sido cotado para o cargo de secretário do Tesouro, uma indicação que teve forte apoio de Elon Musk, CEO da Tesla, proprietário do X, fundador da SpaceX, entre outros negócios. Ao ser nomeado como secretário do Comércio, Lutnick desbancou Robert Lighthizer, representante comercial dos EUA durante o primeiro mandato de Trump, e Linda McMahon, copresidente da transição, junto com Lutnick, e administradora da Small Business Administration. 

Durante a campanha de Donald Trump, Lutnick não apenas ajudou no trabalho da equipe de transição com a gestão de pessoal, as avaliações e os aconselhamentos para Trump sobre os indicados ao gabinete, como também apoiou o candidato financeiramente. Ele doou milhões de dólares para o esforço de reeleger Trump, sendo que cerca de US$ 5 milhões foram para o Make America Great Again PAC, de acordo com registros da Comissão Federal Eleitoral (FEC, na sigla em inglês), e também organizou uma arrecadação de fundos em agosto de 2024 que chegou a US$ 15 milhões. Essa não foi a primeira vez que Lutnick doou dinheiro para uma campanha presidencial. No passado, chegou a investir nas eleições ao lado dos democratas, mas recentemente afirmou que “eles se afastaram dele”. 

Para Trump, Lutnick é uma “força dinâmica em Wall Street” e desempenhará um papel central como secretário do Comércio. O titular da pasta tem a responsabilidade de dar suporte às empresas dos EUA e, frequentemente, atuar como um elo nas negociações comerciais com as demais nações, a fim de costurar acordos comerciais e fomentar os investimentos estrangeiros. O Departamento do Comércio supervisiona 13 bureaux, incluindo o Departamento do Censo dos Estados Unidos (U. S. Census Bureau, sigla em inglês), a Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (NOAA, sigla em inglês) e o Escritório de Patentes e Marcas Registradas (USPTO, sigla em inglês). O secretário trabalha ao lado de outros membros do gabinete presidencial para executar e aconselhar sobre a política econômica. 

ustr_logo - United States Department of StateCaso confirmado, Lutnick enfrentará desafios significativos, como o financiamento de novas fábricas de semicondutores, a imposição de restrições comerciais, a divulgação de dados econômicos e o monitoramento das questões climáticas. Além disso, terá a tarefa de fortalecer as conexões cruciais com os CEOs e a comunidade empresarial. Segundo Trump, Lutnick vai liderar a agenda de tarifas e comércio e terá responsabilidade direta pelo Escritório do Representante Comercial dos EUA (USTR, na sigla em inglês), o qual negocia acordos comerciais estratégicos. 

Carreira e experiência 

Órfão na adolescência, Howard Lutnick construiu sua fortuna como trader de títulos do governo em Wall Street, onde ganhou reputação de competidor “implacável”. Embora fosse pouco conhecido fora do mercado financeiro antes de ser anunciado por Trump como copresidente da equipe de transição presidencial, sua notoriedade cresceu rapidamente após a indicação. A primeira vez em que Lutnick ganhou destaque foi durante a tragédia em 2001, na qual a sede da Cantor Fitzgeral — empresa da qual se tornou presidente e CEO aos 29 anos, em 1996 — foi atingida durante os ataques do 11 de Setembro. Seu irmão, Gary, estava entre os 658 funcionários que não conseguiram escapar antes que a torre desabasse. Lutnick sobreviveu ao ataque, porque chegou atrasado ao trabalho, depois de deixar seu filho na escola para o primeiro dia de aula. 

Após a reconstrução da Cantor Fitzgerald, Lutnick se manteve ativo no apoio às famílias das vítimas do ataque e expandiu a abordagem da empresa, que, atualmente, conta com diversos negócios, incluindo operações com criptomoedas. Além de comandar a firma de serviços financeiros, Lutnick é presidente e diretor-executivo da companhia de investimentos BCG Group e presidente-executivo da corretora imobiliária Newmark Group. Sua participação em múltiplos empreendimentos, somada ao papel de copresidente da transição e à indicação para secretário do Comércio, levantou questionamentos sobre possíveis conflitos de interesse. Lutnick negou, no entanto, qualquer interferência entre suas funções, afirmando que administra suas responsabilidades de forma adequada. 

Durante os últimos dias da campanha, Lutnick e Trump estiveram lado a lado em diversos eventos. Em um comício no Madison Square Garden, o futuro secretário disse que os EUA eram mais prósperos no início dos anos 1900, quando não havia imposto de renda, apenas tarifas. Essa declaração revela que as intenções de Lutnick são muito próximas das intenções do futuro presidente. A defesa do uso de tarifas sobre as importações estrangeiras para construir a economia dos EUA e o afrouxamento da regulamentação de criptomoedas são ações que vão de encontro à vontade de Trump e são assuntos de destaque na agenda do CEO da Cantor. 

Agenda comercial 

Lutnick será responsável por aplicar as tarifas propostas por Trump durante sua campanha, das quais é um fervoroso defensor. Para ele, a imposição de tarifas é uma forma estratégica e eficaz de proteção do trabalho estadunidense, mas que deve ser usada para a negociação de acordos comerciais com outras nações. Além disso, ressaltou que os bens que os EUA não conseguem produzir não deveriam enfrentar tarifas. Para ele, as tarifas podem, eventualmente, substituir a receita gerada pelo imposto de renda, uma vez que, ao criar um ambiente favorável aos negócios, é possível reduzir gradativamente as alíquotas tributárias.

Department of Commerce Building - 14th Street NW facade | FlickrPrédio do Departamento do Comércio, em Washington, D.C. (Crédito: Tim Evanson/Flickr)

As tarifas propostas por Trump, que chegavam a 60% para a China e a cerca de 20% para todo o restante dos países dos quais os EUA importam, sinalizam, segundo Lutnick, que haverá um grande excedente de dinheiro. Em relação à China e às promessas rígidas, espera-se que o foco seja maior, já que há um senso de urgência em ser capaz de fazer a economia crescer e correr mais rápido do que o adversário. O desempenho como secretário do Comércio também implicará um papel de liderança na supervisão de políticas para os semicondutores, a segurança cibernética e as patentes. 

Embora tenha-no retirado da disputa pelo cargo de secretário do Tesouro, a indicação de Howard Lutnick agradou a muitos, mas gerou questionamentos em outros. Suas promessas estão amplamente alinhadas com as do presidente eleito, e ele mantém uma colaboração direta e significativa com Musk, que irá coliderar o Departamento de Eficiência Governamental (DOGE, na sigla em inglês), um comitê que visa a cortar os gastos do governo em cerca de US$ 2 trilhões por ano. Agora, Lutnick precisa ser confirmado pelo Senado para assumir o cargo. Caso aprovado, o futuro secretário terá influência considerável sobre a trajetória econômica do país nos próximos quatro anos, desempenhando um papel crucial na implementação de algumas das principais promessas de campanha de Trump.

 

Isabelle Silva Soares é graduanda em Relações Internacionais da Universidade Federal de Goiás (UFG) e pesquisadora bolsista de Iniciação Científica (PIBIC/INCT-INEU). Contato: isabellesilva@discente.ufg.br.

Aline Regina Alves Martins é docente de graduação e pós-graduação da Universidade Federal de Goiás (UFG) e pesquisadora do INCT-INEU. Contato: alinermartins@ufg.br e LinkedIn.

** Primeira revisão: Simone Gondim. Contato: simone.gondim.jornalista@gmail.com. Segunda revisão e edição final: Tatiana Teixeira. Primeira versão recebida em 4 dez. 2024. Este Informe OPEU não reflete, necessariamente, a opinião do OPEU, ou do INCT-INEU.

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