A escolha de Mike Waltz para conselheiro de Segurança Nacional: o falcão anti-China
(Arquivo) Congressista Michael Waltz discursa na Cúpula Anual de Liderança 2023 da Republican Jewish Coalition, no Venetian Convention & Expo Center em Las Vegas, Nevada, em 28 out. 2023 (Crédito: Gage Skidmore)
Por Yasmim Abril M. Reis* [Informe OPEU] [Trump 2.0] [Segurança Nacional] [Mike Waltz]
A lealdade tem sido o principal aspecto na escolha do gabinete do novo governo Donald Trump em 2025, segundo o próprio Trump. Não por coincidência, para o cargo de conselheiro de Segurança Nacional, no dia 12 de novembro, o republicano convidou Michael Waltz — conhecido também como Mike Waltz — para assumir o cargo. Diferentemente do processo de confirmação dos nomes indicados para outros gabinetes do governo que necessitam da aprovação do Senado, o cargo de conselheiro de Segurança Nacional não requer esse processo. Portanto, se o convite for aceito, é oficialmente o primeiro nome do governo Trump 2.0.
A lealdade de Mike Waltz foi apresentada a Trump quando o representante (deputado) esteve na audiência em Manhattan, em 16 de maio, na qual Trump respondia pelo caso de suborno da atriz Stormy Daniels. De fato, Waltz foi um dos poucos nomes a estarem presentes. Além disso, é importante destacar que, nas eleições deste ano para a Câmara de Representantes, Waltz alcançou a vitória com 66,5% dos votos, derrotando o candidato democrata, James Stockton, na Flórida. Não é surpresa que Waltz se utilizou muito da aproximação com Trump para apoio de sua agenda política.
(Arquivo) Stormy Daniels, em 23 de maio de 2018 (Crédito: City of West Hollywood/Jonathan Viscott)
Mike Waltz é um dos principais especialistas nas consideradas ameaças aos interesses estadunidenses: China, Irã e o terrorismo global. Ao anunciar o nome para a posição, Trump enfatizou que “Mike tem sido um forte defensor da minha agenda de política externa ‘America First’ e será um tremendo defensor da nossa busca pela paz por meio da força”. Por suas declarações contra a China, Waltz passou a ser conhecido como o “Falcão Anti-China”.
De combatente a conselheiro de Segurança Nacional
Mike Walz é natural da Flórida e representante da Câmara pelo 6º distrito congressional desse estado. Graduado pelo Instituto Militar da Virgínia, fez parte dos Boinas Verdes. Anos depois, elegeu-se como deputado, sendo o primeiro Boina Verde a assumir a cadeira. Além disso, Waltz serviu no Exército por quatro anos e depois ingressou na Guarda da Flórida, participando de múltiplas missões de combate na África, no Oriente Médio e no Afeganistão.
Conhecido por sua crítica à retirada caótica dos EUA do Afeganistão, Waltz pediu que o governo responsabilizasse os culpados pela morte dos 13 membros do serviço militar durante esse processo. De fato, Waltz tem sido uma das personalidades que defende o maior uso das Forças Armadas nos conflitos, além do nome indicado para secretário de Defesa, Pete Hegseth.
(Arquivo) Pete Hegseth na Student Action Summit de 2018, organizada pela Turning Point USA, no Centro de Convenções do condado de Palm Beach, em West Palm Beach, Flórida, em 19 dez. 2018 (Crédito: Gage Skidmore/Flickr)
Também, ao longo dos últimos anos, Waltz reproduziu as críticas de Trump ao Exército, considerado como politizado. Desse modo, ele converge com a crítica de Trump de um Exército fraco, extremamente focado em programas de diversidade e equidade. A crítica tecida por Trump é sobre os generais “woke”, motivo pelo qual promete realizar uma faxina na liderança militar. Nesse sentido, os indícios são de riscos de politização no Exército estadunidense. Os generais “woke” se referem às lideranças militares defensoras da justiça social e racial.
Antes de sua indicação ao cargo de conselheiro de Segurança Nacional, Waltz afirmou, como chefe do subcomitê de prontidão, que estava “pronto para trabalhar para equipar melhor nossas Forças Armadas e direcionar nosso foco de prioridades politizadas para vencer guerras. Nossa segurança nacional depende disso”. Nesse contexto, nos últimos tempos, assumiu uma postura anti-China nas suas falas, convergindo com a política de Trump de que a China se configura como uma ameaça à segurança nacional dos EUA.
Curiosamente, no primeiro mandato de Trump, a esposa de Waltz, Julia Nesheiwat, ocupou o cargo de conselheira de Segurança Interna dos Estados Unidos, com foco nos impactos climáticos.
O que esperar do novo conselheiro de Segurança Nacional?
É necessário ponderar a participação de Mike Waltz em um cargo ligado à Segurança Nacional. O papel do conselheiro é dialogar com o secretário de Estado — função para a qual o primeiro nome indicado é Marco Rubio — e com o secretário de Defesa — posto que pode ser ocupado por Pete Hegseth. Não por acaso, todos com discursos contrários à China em defesa da manutenção do status quo estadunidense.
O novo governo Trump está sendo moldado, com base na lógica da lealdade e com nomes que comunguem uma visão de política externa à la “America First”. O que se pode esperar é que a ação conjunta desses três cargos será de forma compartilhada e convergente, apesar de cada um ter sua trajetória. O que não será novidade é que o novo governo aumentará seu tom contra a China por diversas medidas econômicas, e não será surpresa se o âmbito militar ficar em defesa da Pax Americana. Apesar de ser contra a ideia do “xerife” do mundo e de ser contrário ao envolvimento em guerras, Trump já declarou que não medirá esforços em defesa do status quo estadunidense por diferentes meios.
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* Yasmim Abril M. Reis é doutoranda em Relações Internacionais pelo Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais San Tiago Dantas (UNESP/UNICAMP/PUC-SP), mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Segurança Internacional e Defesa da Escola Superior de Guerra (PPGSID/ESG), pesquisadora colaboradora no OPEU nas áreas de Segurança e Defesa, e vice-líder e assistente de pesquisa voluntária no Laboratório de Simulações e Cenários na linha de pesquisa de Biodefesa e Segurança Alimentar (LSC/EGN). Contato: reisabril@gmail.com.
** Primeira revisão: Simone Gondim. Contato: simone.gondim.jornalista@gmail.com. Segunda revisão e edição final: Tatiana Teixeira. Primeira versão recebida em 20 nov. 2024. Este Informe OPEU não reflete, necessariamente, a opinião do OPEU, ou do INCT-INEU.
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