A postura dos EUA no Acordo de Paris sob a óptica trumpista
Foto de Donald Trump sobreposta à imagem de uma refinaria de petróleo (Fonte: The Wire. Crédito: Gage Skidmore/Flickr/CC BY-SA 2.0 e WClarke/Wikimedia Commons/CC BY-SA 4.0)
Por Andy Mickelly Canovas Lima* [Informe OPEU] [Trump 2.0] [Política Ambiental] [Acordo de Paris]
Um dos maiores desafios que o sistema internacional enfrenta nos dias atuais é a mudança climática, que tem impactos profundos em questões geopolíticas, econômicas e até mesmo de segurança internacional. No centro dessa transformação, os Estados Unidos ꟷ um dos maiores emissores históricos de gases de efeito estufa, de acordo com o Instituto Potsdam ꟷ têm um papel crucial na formulação de políticas globais sobre o clima. O Acordo de Paris, firmado em 2015, foi um marco importante nesta batalha contra a mudança climática, estabelecendo compromissos globais para conter o aquecimento global a menos de 2°C em comparação com os níveis pré-industriais, ou seja, as condições climáticas médias da Terra antes do início da Revolução Industrial, por volta de 1850, quando as atividades humanas começaram a emitir grandes quantidades de gases de efeito estufa. O objetivo proposto pelo tratado é limitar o aquecimento a 1,5°C.
A postura adotada pelos Estados Unidos em relação ao Acordo de Paris, com sua retirada sob a Presidência de Donald Trump e sua reintegração sob o governo de Joe Biden, reflete não apenas preocupações ambientais, mas também questões ligadas à sua estratégia de política externa e às prioridades geopolíticas. Esse movimento está diretamente vinculado à competição por recursos naturais, como água, energia renovável e terra, que estão sendo cada vez mais pressionados pela crescente escassez e pela intensificação dos efeitos climáticos extremos. Dessa forma, as mudanças climáticas não apenas moldam as relações internacionais por meio da diplomacia ambiental, como também criam novos vieses de rivalidade geopolítica, à medida que os países competem por recursos cada vez mais escassos, findáveis, e por meios para intensificar suas grandes indústrias, a fim de alimentar ainda mais sua influência no mercado internacional.
Rejeição do multilateralismo climático
Em 2017, o então presidente Donald Trump anunciou a retirada dos Estados Unidos do Acordo de Paris, um movimento considerado uma rejeição a um multilateralismo em específico, o multilateralismo climático. Trump alegou que o acordo era prejudicial aos interesses econômicos dos EUA, principalmente no que diz respeito a setores como carvão, petróleo e gás natural, e que prejudicava a competitividade econômica do país. Esse posicionamento refletiu uma visão geopolítica de que a dominância econômica e energética dos EUA deveria ser mantida, sem barreiras e compromissos que pudessem limitar seu desenvolvimento industrial e a exploração de recursos naturais.
A retirada dos EUA foi vista como um retrocesso pelos demais países do sistema internacional, levando-se em consideração seu desprezo pelo esforço global de combate às mudanças climáticas, e provocou reações internacionais significativas. Países como a China, os integrantes da União Europeia e outras grandes economias, além de organizações internacionais como a ONU, criticaram fortemente a decisão de Trump. Sua retirada também foi interpretada, porém, como uma oportunidade para outros países e blocos econômicos consolidarem sua liderança global em questões climáticas, especialmente no campo da inovação em tecnologia limpa e energia renovável.
Mudança climática e os desafios para a segurança nacional
Já com a eleição de Joe Biden, em 2021, os EUA voltaram a se alinhar com os objetivos climáticos globais, reintegrando-se ao Acordo de Paris logo no início de sua gestão. Essa mudança de postura reflete uma adaptação às novas realidades geopolíticas, em que os problemas climáticos são reconhecidos como desafios de segurança nacional e como uma forma de influência no âmbito da geopolítica. A postura contrária à de Trump, adotada por Biden, sinaliza que, para o novo governo da época, o combate às mudanças climáticas é uma prioridade de política externa, com a ideia de que os EUA devem ser um líder global na transição para uma economia de baixo carbono, conforme mencionado em sua Estratégia de Segurança Nacional (NSS, na sigla em inglês). No documento, é possível compreender que o compromisso do governo Biden-Harris é marcado pelo rompimento de uma divisão entre as políticas internas e externas, ressaltando que essas forças internas e externas estão associadas.
Governo Biden-Harris lança Estratégia de Segurança Nacional (NSS 2022)
Saiba mais sobre a NSS 2022 neste Documentos OPEU de Yasmin Reis
Tais posicionamentos de ambos os presidentes estadunidenses indicam que as mudanças climáticas estão se tornando um ponto central na política externa dos EUA, com implicações para sua competição estratégica com China e Rússia, além de sua liderança em questões de energia renovável. A crescente escassez de recursos naturais e os impactos das mudanças climáticas estão gerando novas rivalidades globais, com os EUA buscando fortalecer sua posição tecnológica e sua influência internacional em um mundo que, cada vez mais, vê as mudanças climáticas como um desafio estratégico.
A geopolítica da mudança climática não é, portanto, apenas uma questão ambiental, mas também uma arena de competição global por recursos essenciais. Trump, eleito novamente, prometeu durante sua campanha continuar com a mesma linha de pensamento e ação de seu primeiro governo no campo climático, com a expansão da produção de petróleo e gás. Também anunciou sua intenção de retirar os EUA mais uma vez do Acordo de Paris, destacando uma abordagem contraditória em relação ao compromisso global com o combate às mudanças climáticas.
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*Andy Mickelly Canovas Lima é graduanda do sexto semestre do curso de Relações Internacionais da Universidade Anhembi Morumbi e aluna participante do projeto de extensão da referida instituição em parceria com o OPEU. Contato: andy-canovas@hotmail.com
** Primeira revisão: Simone Gondim. Contato: simone.gondim.jornalista@gmail.com. Segunda revisão e edição final: Tatiana Teixeira. Recebido em 14 nov. 2024. Este Informe não reflete, necessariamente, a opinião do OPEU, ou do INCT-INEU.
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