Efeito Trump: expectativas da ‘onda vermelha’ e as reações do mercado global após vitória
Fonte: Kera News. Crédito: Renee Klahr/NPR
Por Isabelle Silva Soares, com supervisão de Aline Regina Alves Martins* [Informe OPEU] [Trump 2.0] [Moedas] [Mercado Global]
Embora ainda incipiente, a vitória de Trump trouxe movimentações para a economia norte-americana e criou expectativas e projeções em diversas outras economias do globo.
Donald Trump foi eleito para seu segundo mandato como presidente dos Estados Unidos, após vencer a disputa contra a democrata Kamala Harris, em um período eleitoral acirrado e tenso. Os republicanos recuperaram o controle do Senado (53 contra 47) e têm a maioria na Câmara (218 contra 209). Esse cenário, chamado de “varredura vermelha”, daria a Trump o apoio necessário para se desviar dos obstáculos na aprovação de suas prioridades legislativas, abrindo caminho para implementar suas propostas econômicas com mais liberdade.
Durante sua campanha, Trump propôs diversas políticas econômicas específicas que podem representar uma mudança notável em relação às políticas atuais e passadas. As propostas enunciadas, como os cortes de impostos e o suporte ao mercado de ações, foram consideradas positivas para o crescimento, criando uma resposta favorável à onda vermelha. Em certo ponto, as expectativas com as novas medidas impulsionaram o mercado de ações e afetaram o dólar e os títulos do Tesouro dos EUA, porque os investidores estão ajustando suas carteiras para um cenário de crescimento econômico mais suave. Eles esperam que o Federal Reserve (Fed, Banco Central dos EUA) não faça cortes drásticos nas taxas de juros, mesmo com o risco de inflação.
Trump prometeu cortar regulamentações federais, as quais, segundo ele, limitam a criação de empregos, além de manter em vigor o corte de impostos assinado em seu último mandato e colocar em prática uma nova rodada de cortes de impostos individuais e corporativos. Além disso, dentro do pacote de medidas de “fechamento” do país, o futuro presidente prometeu focar na política de imigrações e na disputa comercial com a China, impondo taxas mais pesadas para os produtos do gigante asiático. Essas medidas vão reverberar na economia de diversos países, sobretudo, nos mercados emergentes, como México, Brasil e África do Sul.
Se adotadas, medidas de Trump na economia afetarão diversos países, em especial os emergentes (Fonte: Freepik)
Analistas do Deutsche Bank aumentaram a previsão de crescimento dos Estados Unidos de 2,2% para 2,5%-2,7%. Esperam, contudo, que essa previsão se reduza para 2026, ante a incerteza econômica associada a uma guerra comercial cada vez mais intensa e acirrada com a China. A eleição de Trump gerou reações e expectativas que abarcam os mais diversos setores da economia interna, e é inegável que as demais economias sentiram essas reações, uma vez que estão integradas e ligadas ao país norte-americano.
Mercado de ações
No dia seguinte à eleição, o mercado de ações teve uma alta elevada, com índices como o Dow Jones Industrial Average, S&P 500 e NASDAQ Composite atingindo novos recordes. Em resposta aparente ao resultado das eleições, ações de pequenas empresas e dos setores energético e financeiro tiveram um desempenho particularmente bom. Segundo o diretor sênior de Estratégia da US Bank Asset Management, Rob Haworth, a expectativa é que o impacto da eleição será visto no mercado de ações, com certas indústrias se beneficiando das novas políticas, enquanto outras, não.
As promessas, por parte de Trump, de menos regulamentação, impostos mais baixos para grandes corporações e mais produção de petróleo foram vistas como positivas para o mercado de ações, embora ainda não esteja claro quanto do plano de corte de impostos passará pelo Congresso. Setores como bancos, defesa e combustíveis têm projeção de serem os maiores beneficiados. Fora dos EUA, o dólar forte, aliado a uma taxa de juros alta e às tensões comerciais, propiciará melhor desempenho para o setor defensivo, enquanto empresas multinacionais ligadas ao mercado americano poderão ser mais afetadas, dentre elas aquelas que são do setor automotivo, tecnológico e farmacêutico. Já os setores expostos às mudanças tarifárias, como semicondutores, automóveis e energia limpa, possivelmente serão mais voláteis.
Em grande parte, as ações subiram desde a última semana porque muitos acionistas e gestores de fundos reduziram a quantidade de risco de seus portfólios, em meio à incerteza sobre os resultados das eleições. Somando-se às promessas de Trump, esse cenário leva a uma perspectiva de lucros futuros mais altos, atraindo investidores que compram ações e, por sua vez, aumentando seu preço. De acordo com a Goldman Sachs Exchanges, o S&P 500 atingiu uma alta recorde no dia seguinte à eleição, à medida que a incerteza do resultado diminuía, e está projetado para subir em torno de 9% nos próximos 12 meses. Os especialistas da Goldman preveem um crescimento nos lucros por ação de 11%, em 2025, e 7%, em 2026, mediante a política da nova administração.
Moedas
A vitória do republicano repercutiu também na esfera monetária. O dólar subiu exponencialmente, após a consolidação do resultado da corrida presidencial. Com Trump no cargo de presidente, há uma expectativa de que haja um fortalecimento do dólar americano, uma vez que os investidores esperam que suas políticas protecionistas levem ao aumento da inflação. Isso significa que o Fed precisaria manter as taxas altas para evitar que a economia superaquecesse.
Haverá uma alta do dólar, à medida que os planos do republicano de impor tarifas sobre o comércio e forçar os aliados europeus a pagarem mais por defesa, junto às suspeitas de instituições multilaterais, deprimirem o crescimento em outras partes do mundo. O resultado dessa tendência pode ser visto no pós-eleição, quando o dólar registrou seu maior ganho em anos. Paralelo a isso, moedas de outros países, como o euro, o iene e o renminbi, sofreram uma desvalorização. Analistas esperam que ocorra uma queda acentuada no euro, caso as tarifas e os cortes sejam implementados. Esperam também que o renminbi chinês caia ainda mais, como em 2018-2020, quando desvalorizou rapidamente. Isso porque, maiores pressões sobre essas moedas e uma inflação mais alta nos EUA reduziriam a margem que os bancos centrais têm para cortar as taxas.
Tarifas de Trump também afetarão renminbi chinês, se forem implementadas (Crédito: Cronenberg1978/Flickr)
Com a expectativa de que a administração Trump adote uma linha mais branda na regulamentação das criptomoedas, as moedas digitais também tiveram crescimento e estão no pacote de expectativa de maiores rendimentos. O Bitcoin vem atingindo altas históricas, após a promessa eleitoral de Trump de priorizar a criptomoeda. Essa reação reflete a expectativa que o mercado de criptomoedas tem em relação aos próximos anos.
Tarifas e mercados emergentes
Um dos pilares da campanha de Donald Trump foi a promessa de impor novos impostos elevados sobre comércio, incluindo uma tarifa universal de 10% sobre as importações de todos os países estrangeiros, uma tarifa de 60% sobre as importações da China e uma tarifa de 25%-100% sobre as importações mexicanas. Essas medidas terão, provavelmente, um impacto sobre as economias do globo, especialmente para as economias emergentes. Nesse sentido, ainda antes das eleições, as preocupações desses países emergentes pesaram adiante da postura protecionista do futuro presidente.
O rand da África do sul, o real brasileiro e os mercados de ações desses países podem ficar vulneráveis, se houver o aumento de tarifas, assim como os fabricantes de chips em Taiwan, Coreia do Sul e demais países que produzem para empresas de tecnologia chinesas. A alta do dólar e a liquidação dos títulos sugarão dinheiro dos mercados emergentes e forçará que esses países adotem políticas monetárias mais rígidas para enfrentar as medidas norte-americanas. O México pode ser o país que mais será afetado pela retórica trumpista. Já logo após a eleição, o peso mexicano caiu 3% em relação ao dólar, e há expectativas de que continue se enfraquecendo, ante a ameaça de alta taxação das importações e de deportação em massa.
As medidas protecionistas de fechamento do mercado norte-americano desencadearam debates sobre a eficácia e as consequências para a economia nacional. Há estimativas de que as tarifas criem um efeito prejudicial, já que reduzem o comércio e distorcem a produção, levando a padrões de vida mais baixos. Além disso, podem gerar um impacto inflacionário ou causar desaceleração econômica no curto prazo, o que dependerá das medidas tomadas pelo Federal Reserve para afrouxar a política e acomodar o aumento de impostos. No longo prazo, ao elevar os preços de bens importados, haverá uma redução no tamanho da economia, reduzindo o incentivo ao trabalho e ao investimento de capital. Consequentemente, terão menos horas trabalhadas e um estoque de capital menor, resultando em um nível mais baixo de produção e renda.
Expectativas
Acabar com o “pesadelo da inflação”, reduzir os preços rapidamente, cortar impostos para vários grupos, financiar esses cortes por meio de tarifas de importação da China e de outros países, bem como deportar milhares de imigrantes são ações que estão na agenda do republicano. Essas promessas, ainda que previsões para o futuro, já desencadearam efeitos tanto para a economia interna dos EUA como para as economias globais. A vitória de Trump nas eleições demonstrou como o novo cenário mundial pode reagir durante os próximos anos sob sua liderança no governo norte-americano. Para as economias globais, essas reações funcionam como um alerta, indicando a necessidade de recalibrar seus planos. Embora ainda seja cedo para prever os desdobramentos, as projeções indicam um fechamento da economia dos EUA e uma política voltada para o crescimento interno, o que, inevitavelmente, afetará as economias que mantêm fortes laços comerciais com o país.
* Isabelle Silva Soares é graduanda em Relações Internacionais da Universidade Federal de Goiás (UFG) e pesquisadora bolsista de Iniciação Científica (PIBIC/INCT-INEU). Contato: isabellesilva@discente.ufg.br.
Aline Regina Alves Martins é docente de graduação e pós-graduação da Universidade Federal de Goiás (UFG) e pesquisadora do INCT-INEU. Contato: alinermartins@ufg.br e LinkedIn.
** Revisão e edição final: Tatiana Teixeira. Primeira versão recebida em 15 nov. 2024. Este Informe OPEU não reflete, necessariamente, a opinião do OPEU, ou do INCT-INEU.
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