Resenha OPEU

‘A Alma da América’: reflexão em tempos de polarização

Fonte: HBO Max

Por Carolina Weber* [Resenha OPEU]

O documentário “A Alma da América” (“The Soul of America”, no original), dirigido por K.D. Davison para a Kunhardt Films e a HBO, é uma adaptação cinematográfica do livro homônimo do historiador e jornalista Jon Meacham. Lançado em outubro de 2020, o documentário oferece uma análise do passado dos Estados Unidos em relação aos dias atuais.

O documentário propõe uma “desconstrução” da história dos Estados Unidos, observando os eventos passados à luz da situação política e histórica contemporânea. Ele examina o passado para compará-lo ao presente e entendê-lo, utilizando depoimentos e palestras do historiador Jon Meacham.

O filme aborda diversos momentos cruciais da história norte-americana, argumentando que “já passamos por isso antes”. São relembrados eventos como a luta pelo sufrágio feminino, o governo de Franklin D. Roosevelt (32º presidente dos Estados Unidos, 1933-1945) e seu New Deal, o ataque a Pearl Harbor (em dezembro de 1941) que levou à estigmatização dos nipo-americanos e à entrada dos EUA na Segunda Guerra Mundial, a queda de Joseph McCarthy, e os avanços dos direitos civis dos negros, iniciados durante o governo de John F. Kennedy e concretizados por seu sucessor imediato, Lyndon B. Johnson, após o assassinato de JFK.

PEARL HARBOR ATTACK December 7 1941 Arizona | FILE--The infa… | Flickr(Arquivo) O ataque japonês a Pearl Harbor, no Havaí, em 7 dez. 1941 (Crédito: U.S. Navy/Flickr)

Além dessas discussões, Meacham apresenta argumentos fundamentais para o cenário atual da política estadunidense, destacando, por exemplo, a crescente polarização política no país, que se intensificou desde as eleições de 2016. Ele destaca a transição cultural no modo como as pessoas se informam, passando de uma “cultura literária”, que valorizava textos escritos (como na época de Thomas Jefferson e Abraham Lincoln), para o rádio (Roosevelt e Winston Churchill), depois para a TV (John F. Kennedy e Ronald Reagan) e, mais recentemente, para o meio digital e a TV por assinatura (Donald Trump). Segundo Meacham, isso aumenta a probabilidade de que as pessoas deixem de se interessar por textos, focando apenas nas emoções. Esse fenômeno cria um ambiente político cada vez mais afastado da razão e guiado pelas emoções.

O documentário também destaca que, para fazer política de forma eficaz, é necessário cultivar três virtudes fundamentais: curiosidade, humildade e empatia. A curiosidade impulsiona o desejo de aprender e entender diferentes perspectivas, enquanto a humildade permite aos líderes reconhecerem seus erros e corrigirem o rumo quando necessário. Já a empatia é essencial para que os políticos consigam ver o mundo sob o ponto de vista dos outros, compreendendo as necessidades e dificuldades da população. Esses três pontos são fundamentais para promover uma política que busque o bem comum, em vez de reforçar divisões.

Meacham enfatiza, também, a importância de criar um ambiente político que permita concessões, onde as pessoas no governo possam dialogar e construir pontes. Ele ressalta a necessidade de um senso de redenção, que possibilite superar os erros do passado em busca de um futuro melhor. O historiador ainda traz uma questão que se coloca muito crucial atualmente: “vamos trabalhar por uma união mais perfeita ou permanecer presos em uma constante guerra tribal, movidos por nossos piores instintos?”.

Jon Meacham: The Soul of America – with John Grisham – New Dominion BookshopFonte: New Dominion Bookshop

Em conclusão, “A Alma da América” nos lembra que, embora as forças sombrias façam parte da história dos Estados Unidos, as forças da luz também permanecem. O documentário nos desafia a refletir sobre o tipo de sociedade que se quer construir, especialmente em um momento de profunda polarização, como se observa nas eleições de 2024. A questão apresentada por Meacham — se escolheremos buscar uma união mais perfeita, ou se continuaremos em uma luta tribal — é relevante para o futuro político do país. As eleições que se aproximam representam mais do que uma simples disputa eleitoral: são uma oportunidade para decidir se a política será pautada pela curiosidade, humildade e empatia, ou se continuará a ser dominada por divisões emocionais e instintos primitivos.

 

* Carolina Weber é bolsista de Iniciação Científica do INCT-INEU/OPEU (PIBIC-CNPq), graduanda em Defesa e Gestão Estratégica Internacional do Instituto de Relações Internacionais e Defesa (IRID/UFRJ). No OPEU, cobre a área política externa e faz parte da equipe do Instagram. Contato: carolinaweberds@gmail.com.

 

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Carolina Weber é bolsista de Iniciação Científica do INCT-INEU/OPEU (PIBIC-CNPq), graduanda em Defesa e Gestão Estratégica Internacional do Instituto de Relações Internacionais e Defesa (IRID/UFRJ). No OPEU, cobre a área de meio ambiente e energia dos EUA e faz parte da equipe do Instagram. Contato: carolinaweberds@gmail.com.

** Revisão e edição final: Tatiana Teixeira. Esta resenha não reflete, necessariamente, a opinião do OPEU, ou do INCT-INEU. Primeira versão enviada em 1º out. 2024.

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