Eleições

Professor, treinador, militar e agora candidato a vice de Kamala Harris: a trajetória de Tim Walz

(Arquivo) Governador Walz em um festival de agricultores em Minnesota, em 2023 (Crédito: TNS/ABACA/Creative Commons)

Por Débora M. Binatti* [Informe OPEU]

O nome de Timothy James Walz foi anunciado em 6 de agosto, para compor a chapa da candidatura  democrata nas eleições de 2024 nos EUA e é “uma opção prática e de baixo risco para Kamala Harris”, analisa o professor Rubrick Biegon, da Escola de Política e Relações Internacionais da Universidade de Kent, na Inglaterra.

Nascido em Nebraska, casado com Gwen Walz e pai de dois filhos, Hope e Gus, Tim Walz tem uma jornada de vida muito próxima da propaganda do sonho americano. O candidato se alistou aos 17 e serviu por 24 anos na Guarda Nacional do Exército dos EUA,  sendo o soldado alistado de mais alta patente a servir no Congresso do país. Graças à GI Bill ꟷ Lei de Reajustes Militares, que garantia financiamento do ensino superior de veteranos do Exército dos EUA ꟷ, Walz se graduou em pedagogia na Chadron State College.

Locations on Campus | Chadron State CollegeChadron State College, em Chadron, no Nebraska, onde Tim Walz se graduou (Fonte: site institucional)

Sua atuação como professor levou o agora candidato até a China, onde deu aulas por um ano, como reporta a BBC. Após voltar para o Nebraska, Walz continuou trabalhando como professor e também como treinador de futebol americano. A carreira de treinador continuou em Minnesota. Nesse estado, ele ajudou a criar um programa de incentivo ao futebol americano que levou a escola em que trabalhava a conquistar seu primeiro campeonato estadual.

Dr Rubrick Biegon - School of Politics and International Relations -  University of Kent

Prof. Rubrick Biegon (Fonte: site institucional)

A trajetória política começou mais tarde, quando se candidatou ao Congresso americano por um distrito rural de Minnesota, fortemente republicano. Contudo, uma boa campanha moderada, pautada no serviço público e na defesa dos veteranos, levou Walz ao cargo. Já são 12 anos na Câmara de Representantes (Deputados). Está em seu sexto mandato, atualmente pelo Primeiro Distrito Congressional de Minnesota.

Mesmo tendo uma carreira extensa – dentro e fora da política –, até recentemente Walz não tinha reconhecimento nacional, afirma Rubrick Biegon, em texto publicado no blog de Política Americana da London School of Economics (USAPP/LSE, na sigla em inglês). Isso significa que seu nome não está solidificado por estereótipos e prejulgamentos, cabendo às campanhas de Harris e de seu adversário, Donald Trump, a definição de sua persona política nacional.

Quem é Tim Walz na candidatura?

Além do fato de ser um homem branco, o que contrasta com a candidatura racializada de uma mulher como Kamala Harris, “Walz, como candidato a vice-presidente, é o avatar do tipo de liberal da segurança nacional que os liberais vêm buscando há mais de duas décadas, alguém que se sente à vontade para transmitir ao país que uma defesa forte não é providência exclusiva dos republicanos e que os democratas também sabem como apontar e disparar uma arma”, diz Philip Elliott em artigo na revista TIME.

É importante considerar também as tendências dos estados. Minnesota não vota em um candidato republicano desde Nixon, e colocar Walz na chapa seria uma forma de garantir essa tendência. A disputa de outros estados do Meio-Oeste, como Wisconsin e Michigan, pode ser fundamental para que Harris chegue à Casa Branca. Dessa forma, a presença de Walz contribui para a disputa da área dos Grandes Lagos.

The Midwest - Kids | Britannica Kids | Homework Help

Estados do Meio-Oeste dos EUA, incluindo Minnesota, Michigan, Wisconsin e Nebraska (Fonte: Encyclopaedia Britannica)

O perfil político de Walz também possibilita a aproximação com eleitores rurais, dos  quais se espera, nacionalmente,  uma maior afinidade com Trump. Assim sendo, os resultados de Walz, em que ele se saiu melhor do que outros políticos democratas fora da região metropolitana, podem impactar positivamente a campanha de Harris.

Walz também pode acabar por reforçar o voto progressista. Na atuação política em Minnesota, ele é considerado moderado. Na Câmara dos Representantes, foi um forte defensor dos direitos das armas.  Como governador, permitiu um projeto de oleoduto, que tinha uma forte oposição de ambientalistas e ativistas nativos estadunidenses. Com a presença expressiva dos democratas em ambas as casas legislativas de Minnesota, Walz se inclinou aos poucos para o campo progressista. Assinou projetos de lei de legalização da maconha para fins recreativos e de expansão da licença médica e familiar remunerada, ganhando apoio dos principais sindicatos trabalhistas, inclusive do influente United Auto Workers (UAW). Consequentemente, a escolha de Harris para vice-presidente foi elogiada pelos sindicatos.

Walz, por fim, também é capaz de fazer oposição ao vice de Donald Trump. Heidi Heitkamp, ex-senadora dos EUA, afirma que a franqueza e a humildade de Walz funcionam porque elas são reais: “Há uma inautenticidade em J.D. Vance que é a antítese do que Tim Walz é […] Tim é a pessoa mais autenticamente normal que você vai conhecer, e ele tem um histórico que se situa de forma única nestes tempos, especialmente para as pessoas da minha região do país”.

Walz representa o sonho americano que Kamala busca cativar em seus eleitores. É a promessa de oportunidade, família, comunidade e tempos melhores.

 

Conheça mais textos da autora no OPEU:

Informe “Kamala antes de ser candidata Harris”, 31 ago. 2024

Informe “Dos bestsellers para a defesa do 6/1: quem é o escudeiro escolhido de Donald Trump?”, 22 ago. 2024

Informe “Materialismo dialético se faz moderno ao passo que a luta de classes se acirra nos EUA”, 22 mar. 2024

Informe “Biden diminui a pedra de Sísifo financeira de mais de 150.000 estudantes”, 9 mar. 2024

Informe “América esquece palavras de Mateus ao utilizar gás nitrogênio para pena capital”, 9 fev. 2024

Resenha crítica de ‘Great Powers and the US Foreign Policy towards Africa’, de Stephen Magu, 29 dez. 2023

Informe “Antony Blinken toca promessas em solos de guitarra”, 20 nov. 2023

Informe “Transfixação: dos pânicos morais à securitização”, 8 out. 2023

 

* Débora Magalhães Binatti é graduanda em Relações Internacionais pela Instituto de Relações Internacionais e Defesa da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IRID/UFRJ), bolsista de Iniciação Científica do INCT-INEU/OPEU (PIBIC/CNPq) e escritora. Contato: dmfcbinatti@gmail.com. Twitter: @debs_binatti. Instagram: @debs_binatti.

** Primeira revisão: Simone Gondim. Contato: simone.gondim.jornalista@gmail.com. Segunda revisão e edição final: Tatiana Teixeira. Primeira versão recebida em 30 ago. 2024. Este Informe não reflete, necessariamente, a opinião do OPEU, ou do INCT-INEU.

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