Eleições

Redes sociais como ferramenta de campanha nos Estados Unidos

Crédito: ContentGroup

Por Kayla Arnoni Vertematti Baptista* [Informe OPEU]

Com o crescimento de plataformas como Facebook, X (Twitter), Instagram e TikTok, os candidatos agora têm a oportunidade de se comunicar de maneira mais rápida e informal com os eleitores, ao vivo e quando quiserem. Isso quebra a barreira entre o concorrente e os votantes, permitindo uma interação mais dinâmica e pessoal. O desprendimento da exclusividade da mídia tradicional proporciona aos candidatos que enviem suas mensagens de maneira mais rápida, maciça e adaptada ao feedback em tempo real, além de lhes garantir o controle da narrativa, a construção de marca e a mobilização de apoio.

Antes da era digital, a comunicação política em massa era exclusiva dos meios tradicionais, como jornais, televisão e rádio. Esses canais, embora atinjam um amplo público, são unidimensionais e impessoais, muitas vezes criando uma distância indesejada entre os candidatos e os eleitores. Pela abordagem formal e uma direção centralizada da mensagem, limitam a capacidade dos candidatos de interagir com seu público de maneira mais particular e imediata. Então, os políticos encontraram na Internet o potencial das redes sociais para criarem um discurso próprio e contornar os meios de comunicação preestabelecidos, colocando-se no centro de maior fluxo de informação mundial.

Em 2004, Howard Dean, ex-governador de Vermont (1991-2003), marcou a primeira grande mobilização de eleitores via redes sociais. Sua campanha presidencial pelo Partido Democrata ficou marcada pelo uso, até então pioneiro, de blogs e e-mails para engajar eleitores e arrecadar fundos. Os Deaniacs eram um grupo de apoio on-line, como fãs, que ajudaram a construir uma comunidade ativa em torno da candidatura dele. Embora Dean não tenha conquistado a nomeação presidencial, sua estratégia trouxe à tona as novas possibilidades de abordagem na comunicação política. A integração das redes sociais nas campanhas eleitorais não é novidade, mas, em 2024, essa ferramenta alcançou novos patamares de importância, tornando-se uma arena crucial para a corrida política.

Howard Dean | American Politician, Governor of Vermont, DNC Chair |  Britannica(Arquivo) Howard Dean (Crédito: Nick Davis/Encyclopædia Britannica/Creative Commons Attribution ShareAlike 3.0)

Com os olhos do mundo inteiro voltados para os celulares, estar presente nas redes sociais é, hoje, imprescindível para uma campanha à Presidência dos EUA. Marcando as individualidades de cada promoção política, os candidatos republicano e democrata mostram padrões de frequência, preferência de plataformas, público-alvo e conteúdo das postagens bem distintos.

Redes sociais de Trump: arena para ataques aos adversários

Donald Trump tem usado suas redes de maneira controversa dentro da estratégia política. Desde que lançou sua própria plataforma, a Truth Social, em 2022, após ser banido de sites como Facebook e Twitter ꟷ tendo, posteriormente, suas conta reabertas em ambos ꟷ, o republicano encontrou nela um meio para compartilhar suas mensagens com liberdade e mobilizar seus seguidores, independentemente da veracidade dos conteúdos e declarações publicados. Registra, no entanto, um alcance menor em comparação ao X (antigo Twitter), onde ainda mantém uma presença fortíssima, com mais de 87 milhões de seguidores.

Print do aviso, na conta de Trump, da violação de termos do Twitter, no início de 2024 (Fonte: MyCowichanValleyNow)

Desde o início de 2023, o grupo de monitoramento Citizens for Responsability and Ethics in Washington analisou que Trump tem utilizado sua plataforma para uma campanha incessante contra seus inimigos políticos. Sua abordagem é marcada por uma frequência muito intensa de postagens, que incluem ameaças e promessas de “vingança”. Nas mensagens, ele aborda uma ampla gama de temas, mas com foco particular em ataques direcionados a figuras opositoras, como o atual presidente Joe Biden (e membros de sua família); Kamala Harris, sua adversária na corrida eleitoral; juízes e senadores; além de organizações não governamentais e advogados envolvidos nos processos em que é acusado.

Entre as ameaças, estão incitações a órgãos como o FBI (a Polícia Federal americana) e o Departamento de Justiça, os quais, queixa-se Trump, deveriam tomar medidas drásticas contra seus inimigos, como buscas e apreensões. Trump se posiciona como vítima de uma suposta perseguição política e promete revidar contra aqueles que considera responsáveis por sua situação. Essa retórica se baseia na seguinte dinâmica: o republicano inverte as acusações feitas contra ele, sugerindo que seus adversários são, na verdade, culpados das mesmas transgressões das quais foi acusado.

Em relação a Harris, também não é incomum ver postagens misóginas, feitas ou compartilhadas por ele, incluindo piadas de cunho sexual, ou puramente vexatórias. O objetivo de Trump com as redes sociais é incitar e envolver sua base de apoio, já conquistada e fiel há anos, na construção de uma narrativa de injustiça e de uma espécie de retaliação. Busca não apenas manter o suporte dos seguidores, mas também criar um ambiente de confronto e polarização. A estratégia de atacar e ameaçar seus inimigos políticos é, para ele, uma maneira de demonstrar seu poder, tentar deslegitimar as investigações e preparar o terreno para uma possível volta à Presidência.

Redes sociais de Kamala: espaço para debate e conexão com a Geração Z

Kamala Harris fortaleceu suas redes sociais, que não eram tão usadas antes da decisão de concorrer à Presidência. Sua conta no TikTok, por exemplo, teve um crescimento enorme com a nova abordagem, com o número de seguidores aumentando cinco vezes em apenas uma semana e acumulando milhões de visualizações e curtidas. Ganhou dois milhões de seguidores apenas no primeiro dia em que se tornou candidata presidencial.

Taylor Swift publica mensagem em apoio a Kamala (Crédito: Reprodução/Instagram)

Sua campanha adota uma abordagem digital menos contida em relação à de Biden em 2020. A equipe digital de Harris responde rapidamente a tendências e eventos, investindo significativamente em estar presente no digital e colaborando com influenciadores e criadores de conteúdo para alcançar eleitores que são mais difíceis de atingir nas redes sociais e manter seu nome no centro das discussões na Internet. Outra base da campanha nas redes é o destaque sobre a representatividade. Kamala usa o espaço das mídias sociais para discursar sobre a presença feminina em posições de poder, ao mesmo tempo que dialoga, também, com questões de raça e origem, além de não hesitar em provocar e responder aos ataques de Trump.

Com o intuito de manter a base engajada e ativa digitalmente e criar conexão com novos eleitores, sobretudo, da Geração Z, o conteúdo gerado por usuários é um dos pilares da campanha de Harris. Ela tem incentivado seus apoiadores a criarem e compartilharem conteúdo relacionado a ela. Isso inclui edições de memes, como vídeos com músicas populares e citações virais dela, enquanto aproveita o apoio de celebridades da cultura pop, como por exemplo, de Taylor Swift. A cantora foi alvo de fake news divulgando um falso alinhamento a Trump. Em resposta, encerrou as especulações, ao declarar publicamente seu voto em Harris e Tim Walz logo após o debate presidencial. Irritado com a declaração, Trump postou na Truth Social a mensagem: “Eu odeio a Taylor Swift“, alegando que ela é “muito liberal”.

 

Leia mais da autora no OPEU

Informe OPEU, “O voto feminino nos EUA e sua importância em 2024”, em 8 de julho de 2024

Informe OPEU, “A importância dos vice-presidentes nos EUA e as eleições de 2024”, em 25 de junho de 2024.

Informe OPEU, “Como as campanhas eleitorais nos EUA podem ser financiadas?”, em 5 de junho de 2024.

Informe OPEU, “O que está por trás dos elefantes vermelhos e dos jumentos azuis na política estadunidense?”, em 16 de maio de 2024.

 

* Kayla Arnoni Vertematti Baptista é graduanda em Relações Internacionais pela Universidade Anhembi Morumbi e aluna participante da UC Dual em parceria com o OPEU. Contato: kaylavertematti@gmail.com.

** Primeira revisão: Simone Gondim. Contato: simone.gondim.jornalista@gmail.com. Segunda revisão e edição final: Tatiana Teixeira. Primeira versão recebida em 10 set. 2024. Este conteúdo não reflete, necessariamente, a opinião do OPEU, ou do INCT-INEU.

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