Conheça os ‘Never Trumpers’ e suas críticas a Trump
Fonte: AEI
Por Giulia Gaviolli Bomfim* [Informe OPEU]
O movimento “Never Trump” surgiu de um grupo do Partido Republicano e de outros conservadores, durante as eleições de 2016, para impedir que Donald Trump chegasse à Presidência dos Estados Unidos. O mesmo aconteceu nas eleições de 2020 e na atual corrida presidencial, com o nascimento dos “Never Trumpers Again”, após o ataque ao Capitólio dos Estados Unidos, em 6 de janeiro de 2021.
Trump está concorrendo à Presidência pela terceira vez, enquanto enfrenta 88 acusações em quatro processos criminais ꟷ entre eles, um caso federal em Washington, D.C.,e um estadual na Geórgia, ambos relacionados com as tentativas de anular os resultados das eleições em 2020 e impedir a posse de Joe Biden.
Surge uma questão: o quão dispostos os republicanos anti-Trump estão para impedir sua reeleição? A rejeição ao (praticamente) candidato é suficiente para levá-los a votar em Biden? Vários ex-aliados e membros do círculo íntimo do ex-presidente se recusaram a apoiá-lo em sua nova campanha. Ainda que alguns, como a ex-governadora da Carolina do Sul e ex-pré-candidata na disputa deste ano, Nikki Haley, tenham reavaliado sua posição, agora endossando Trump.
Ex-apoiadores de Trump que se declararam “Never Trump”
Ex-vice-presidente Mike Pence
O ex-vice-presidente Mike Pence (2017-2021) se desvinculou de seu ex-companheiro de chapa após o ataque ao Capitólio. Em entrevista à FOX News, disse que Donald Trump está “perseguindo e articulando uma agenda que está em desacordo com a agenda conservadora, segundo a qual governamos durante nossos quatro anos, e é por isso que não posso, em sã consciência, apoiar Donald Trump nessa campanha”. Pence concorreu contra Trump nas primárias republicanas de 2024, mas não obteve sucesso.
Em contrapartida, Mike Pence esclareceu que continuará a defender a agenda em que acredita como republicano e que não votará em Biden.
Ex-chefe de gabinete da Casa Branca John F. Kelly
John F. Kelly foi o chefe de gabinete mais antigo do ex-presidente (2017-2019) e tem-se posicionado de forma intensa contra um possível segundo mandato de Trump. O ex-chefe de gabinete citou uma declaração que emitiu à CNN em outubro de 2023, confirmando comentários que Trump fez em particular, anos atrás, sobre veteranos e feridos de guerra.
“O que está acontecendo no país para que uma única pessoa pense que esse cara ainda seria um bom presidente quando disse as coisas que disse e fez as coisas que fez?”, questionou Kelly, em novembro de 2023, em uma entrevista ao jornal The Washington Post.
Ex-procurador-geral William P. Barr
William P. Barr, ex-procurador-geral (2019-2020), recusou-se a apoiar Trump nas primárias de 2024. “Deixei claro que me oponho fortemente à nomeação de Trump e não apoiarei Trump”, disse Barr à NBC News, em entrevista exibida em julho. Apesar de direcionar críticas ao governo do ex-presidente, Barr declarou recentemente que a reeleição de Biden seria pior do que a de Trump: “Trump pode estar jogando roleta russa, mas uma continuação da administração Biden é um suicídio nacional, na minha opinião”.
Ex-secretário de Defesa Mark T. Esper (2019-2020)
Mark Esper disse que “não há nenhuma maneira” dele apoiar Trump em novembro, porque acredita que seu ex-chefe é uma “ameaça à democracia”. Em uma entrevista à rede CNN, em julho de 2023, Esper afirmou que Trump “não está apto para o cargo, porque se coloca em primeiro lugar, e acho que qualquer pessoa que concorra a um cargo público deve colocar o país em primeiro lugar”.
Embora não tenha dito que votaria em Biden, diz estar aberto a essa possibilidade.
Ex-membro da equipe jurídica da Casa Branca Ty Cobb
Ty Cobb, que foi advogado da Casa Branca (2017-2018) e defendeu Trump durante a investigação sobre interferência russa nas eleições de 2016, disse que os Estados Unidos não podem eleger Trump novamente. “Ele nunca se importou com a América, com seus cidadãos, com seu futuro ou com qualquer coisa além de si mesmo”, escreveu Cobb em um e-mail ao The Washington Post, em 2023.
“Na verdade, como a história mostra bem, por suas mentiras divisivas, bem como por seu desprezo desenfreado pelo Estado de direito e pelos crimes relacionados, sua conduta e mera existência aceleraram o fim da democracia e da nação”. Ele acrescenta: “Se essa reeleição realmente acontecer, as consequências extinguirão o que resta do sonho americano, se é que resta alguma coisa”.
Em fevereiro, Cobb deu uma entrevista ao Washington Post e disse que, “se chegar a hora e for necessário votar em Joe para impedir Trump, então eu votaria a contragosto em Biden”.
Crise no Partido Republicano
A saída de Nikki Haley, ex-embaixadora da ONU, das eleições primárias estremeceu o Partido Republicano. Haley afirmou que os Estados Unidos não sobreviveriam a mais quatro anos de Trump, criticou a idade do ex-presidente, questionou sua aptidão mental e disse que ele costumava ter acessos de raiva. Como se observou no início deste Informe, porém, ela reavaliou sua posição, após desistir da corrida presidencial.
O consultor político Mike Madrid afirma que, há pelo menos sete anos, o Partido Republicano não é mais o mesmo conservador clássico de Reagan/Bush pai e foi completamente tomado por Trump. A maior razão que faz muitos republicanos tradicionais ainda votarem em Trump é não tolerar os democratas.
“Se os democratas não encontrarem uma forma de serem mais atraentes para as pessoas que deixaram o Partido Republicano, então não iremos migrar para eles. Embora os democratas possam potencialmente manter o poder, irão perdê-lo lentamente ao longo do tempo”, disse Ben Howe, cofundador da Third Act Media.
Qual o posicionamento dos republicanos em relação à condenação de Donald Trump?
No dia 30 de maio, Trump se tornou o primeiro presidente ou ex-presidente da história dos EUA a ser condenado por um crime. Uma pesquisa realizada pela Reuters, horas depois de sua condenação, afirmou que 10% dos republicanos registrados disseram que estão menos propensos a votar em Trump em novembro. Entretanto, 56% dos eleitores disseram que isso não teve nenhum efeito em seu voto.
É possível que a acusação tenha contribuído para a união dos republicanos após as primárias que foram conturbadas dentro do partido. Mitch McConnell, o líder republicano do Senado (R-KY), que se recusava a comentar sobre a corrida presidencial e tinha uma rivalidade de longa data com o ex-presidente, posicionou-se na noite de quinta-feira (30), ao escrever: “Essas acusações nunca deveriam ter sido feitas em primeiro lugar. Espero que a condenação seja anulada em recurso”. Nesta mesma linha, Mike Pence, o ex-vice-presidente, disse à Fox News Digital que a condenação tem motivação política, mesmo sem provas, além de considerar “um ultraje e um desserviço à nação”.
A sentença está prevista para ser definida em 11 de julho, e Donald Trump poderá ser condenado a quatro anos de prisão. De todo modo, a questão de como o veredicto será recebido, principalmente nos estados decisivos, permanece incerta.
Leia mais da autora
Informe OPEU, “Swing states e a eleição presidencial 2024”, em 18 de maio de 2024.
* Giulia Gaviolli Bomfim é graduanda de Relações Internacionais na Universidade Anhembi Morumbi e aluna participante da UC Dual em parceria com o OPEU. Contato: giuliagaviollibuam@gmail.com.
** Primeira revisão: Simone Gondim. Contato: simone.gondim.jornalista@gmail.com. Segunda revisão e edição final: Tatiana Teixeira. Esta resenha não reflete, necessariamente, a opinião do OPEU, ou do INCT-INEU. Primeira versão enviada em 7 jun. 2024.
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