Política Doméstica

Swing states e a eleição presidencial 2024

Fonte: AMAC

Por Giulia Gaviolli* [Informe OPEU]

As eleições dos Estados Unidos são decididas pelo voto indireto, por meio do Colégio Eleitoral que se reúne após a eleição. Os eleitores de cada estado votam para decidir quem obtém o Colégio Eleitoral, cujo número reflete aproximadamente a população de cada estado, sendo 538 votos em disputa e 270 necessários para vencer. A maioria é previsível, mas ainda existem aqueles indecisos e que são alvo de campanhas e visitas de candidatos presidenciais, altamente disputados. Em 2020, Joe Biden venceu todos os seis e garantiu sua vitória do Colégio Eleitoral por 306-232 sobre Donald Trump.

“Swing states” é um termo estadunidense para se referir a estados em que a população é dividida politicamente, e os candidatos dos dois principais partidos políticos têm níveis de apoio semelhantes Assim, os eleitores levam em conta as circunstâncias em que estão vivendo no momento para definir seu voto. Os possíveis campos de batalha para decidir os resultados da eleição em novembro deste ano serão: Arizona, Geórgia, Michigan, Nevada, Pensilvânia e Wisconsin.

Questões para os eleitores dos “swing states”

Arizona

A questão da imigração é vital no Arizona, pois partilha mais de 600 km de fronteira com o México. Apesar da tentativa de um projeto de lei bipartidário, que foi atacado com a oposição de Trump, recentemente, Biden se tornou mais agressivo em relação ao seu posicionamento quanto à imigração, considerando-a uma ameaça importante para sua reeleição. No caso de Trump, a imigração sempre fez parte de sua plataforma, com discursos de que os imigrantes estão “envenenando o sangue do nosso país”, além de prometer lançar um esforço maciço de deportação, se for reeleito.

Em 2020, a disputa entre ambos foi uma das mais acirradas, com Biden triunfando por volta de 10.400 votos. Agora, com as insatisfações a respeito da política de imigração, Trump espera que a população do Arizona esteja a seu favor.

Geórgia

A Geórgia é sede de um dos quatro processos de Donald Trump. A promotora distrital do condado de Fulton, Fani Willis, acusou o ex-presidente de interferir nos resultados das eleições de 2020. Além disso, uma pesquisa de março deste ano realizada pela Marist College revelou que cerca de 25% dos adultos da Geórgia disseram que preservar a democracia é a prioridade nas eleições de novembro.

Após diversas falsas alegações de Trump de que as eleições de 2020 lhe foram roubadas, Biden discursa que “a democracia deve ser defendida” e faz disso o foco da sua campanha, referindo-se ao ataque ao Capitólio dos Estados Unidos em 6 de janeiro de 2021 e à ameaça à democracia que Trump representou em 2020. Em razão da grande proporção de eleitores afro-americanos, Biden foi o primeiro democrata a vencer no também chamado Peach State (Estado Pêssego, em tradução literal), desde 1992.

US States Quiz. Image: freepikMapa dos Estados Unidos (Crédito: Freepik)

Michigan

Em 2016, Trump causou uma reviravolta ao conquistar sua vitória no Michigan, diante do histórico democrata do Estado. Em 2020, graças aos trabalhadores sindicalizados e a uma grande comunidade negra, a vitória de Biden colocou-o de volta no mapa azul, uma referência à cor que identifica o partido. Nestas eleições, contudo, o democrata corre risco de perder apoio da comunidade árabe-americana de aproximadamente 200 mil pessoas, por conta do apoio de Biden a Israel na guerra contra Gaza, além do veto de várias resoluções de cessar-fogo nas Nações Unidas.

Nevada

Atingido pela pandemia da covid-19 e pela inflação, o estado ainda se encontra em recuperação econômica, registrando a maior taxa de desemprego dos EUA, em torno de 5,1%. Uma pesquisa de fevereiro da Emerson College Polling e The Hill mostrou que a economia era a questão principal para pelo menos 29% dos eleitores de Nevada. “Com o seu voto, eliminaremos a Bidenomics e restabeleceremos a MAGAnomics”, disse Trump após sua visita a Green Bay, culpando Biden pela inflação e se referindo ao seu principal slogan “Make America Great Again” (“Fazer a América Grande de novo”). Entretanto, Biden responde: “Herdei uma economia que estava no limite (…) e, mesmo assim, milhares de empregos industriais foram criados”. Ele acrescenta: a América é “a capital industrial do mundo”.

Apesar de ter um histórico com os democratas nas últimas quatro eleições, em 2022 elegeram um governador republicano e, atualmente, Trump está em maior vantagem do que em qualquer outro estado indeciso, com cerca de 50%, contra 38% de Biden. O motivo é a tendência dos eleitores conservadores e da comunidade latina de se inclinarem cada vez mais para os republicanos. Uma pesquisa da Morning Consult/Bloomberg deu a Trump uma vantagem de seis pontos em fevereiro. Outro ponto é que a competição agora parece se dividir entre três candidatos, com Robert F. Kennedy Jr. também demonstrando interesse em investir na disputa no estado de Nevada.

Robert F. Kennedy, Jr. | Robert F. Kennedy, Jr. speaking wit… | FlickrRobert Kenndy Jr. em evento de campanha, em fev. 2024 (Crédito: Gage Skidmore/Flickr)

Enquanto almeja a reeleição, Biden espera manter os estados vizinhos de Nevada e Arizona (os quais ele venceu por pouco há quatro anos) para formar uma rede de apoio eleitoral que se inicia em Washington.

Pensilvânia

No estado da Pensilvânia, há grandes questões de preocupação com o clima em cidades progressistas, como a Filadélfia, além da insatisfação por parte dos membros do sindicato com a decisão do atual presidente de declarar moratória à construção de novos terminais de exportação de gás natural liquefeito. A medida gera impactos econômicos no estado, que é o segundo maior produtor depois do Texas. Em contrapartida, Trump assume uma postura crítica às “políticas verdes” de Biden e elogia o petróleo e o gás americanos. Enquanto Biden faz visitas para divulgar as recentes vitórias importantes em infraestrutura, Trump promete um futuro livre de inflação, concentrando sua campanha, sobretudo, na população branca rural.

Wisconsin

O estado de Wisconsin destaca a política de aborto como uma das questões mais importantes para decidirem seu voto. Uma pesquisa da Marquette Law School feita em abril deste ano mostrou que 46% dos entrevistados acreditam que Biden tem uma vantagem nessa questão. Com a reversão de Roe vs. Wade em 2022, Trump assumiu o discurso de “o presidente mais pró-vida” da história dos EUA. Isso fez diversos estados adotarem suas próprias políticas contra o aborto. Recentemente na Flórida, Biden discursou em seu evento de campanha que o aborto “deveria ser um direito constitucional” e que “não se trata de direitos dos estados”. Trata-se, segundo ele, dos “direitos das mulheres”.

Disputa acirrada nas pesquisas

Com base nos gráficos da agência de notícias Reuters que coletaram informações de enquetes realizadas por diferentes veículos, sendo Emerson/The Hill, The Wall Street Journal e Siena/The New York Times, pode-se concluir que Donald Trump está liderando as pesquisas no estados supracitados com uma margem de erro variando entre 3% e 5%.

A falta de confiança em ambos os (pré-)candidatos é um senso comum entre os votantes, incluindo aptidão para o cargo, ética pessoal e respeito à democracia. Em relação às vantagens de Trump, muitos acreditam que tem aptidão física e mental para exercer a Presidência. Já em Biden essas são características vistas como fatores de fraqueza por conta de sua idade, 81 anos, considerada avançada, mesmo que Donald Trump tenha apenas quatro anos a menos de diferença. Um fator que os eleitores valorizam em Biden é sua ética quanto aos ideais de democracia, o que é uma desconfiança em Trump, já que enfrenta um julgamento criminal que o acusa de fraudar as eleições de 2020 e manter documentos da Presidência ilegalmente mesmo após deixar a Casa Branca. Ademais, a desaprovação da postura do atual presidente em relação à guerra Israel-Hamas é polêmica, principalmente, entre eleitores jovens. Uma pesquisa do jornal The New York Times/Siena College publicada em dezembro revela que 47% dos americanos, na faixa etária de 18 a 29 anos, apoiavam a Palestina, e 27%, Israel, fazendo assim seu apoio entrar em declínio.

Diante de pressões internas sobre Biden, protestos nas universidades pró-palestina, e polêmicas envolvendo o ex-presidente republicano Donald Trump que permanece se defendendo das questões judiciais, pesquisas recentes apontam um empate técnico, mesmo com 20% dos entrevistados ainda sem escolha de voto e o percentual dos pontos de vantagem variando frequentemente, com vantagem de até três pontos para Joe Biden.

 

* Giulia Gaviolli é graduanda de Relações Internacionais na Universidade Anhembi Morumbi e aluna participante da UC Dual em parceria com o OPEU. Contato: giuliagaviollibuam@gmail.com.

** Revisão e edição finais: Tatiana Teixeira. Recebido em 26 abr. 2024. Este Informe não reflete, necessariamente, a opinião do OPEU, ou do INCT-INEU.

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