RIs Epistemológicas: (des)prendimentos na AL contemporânea contra hegemonia dos centros
Fonte: UEMS
Por Fábio do Vale e Camila Feix Vidal*
A criticidade contemporânea da América Latina (AL) tem erigido corresponsabilidades na investigação dos nossos pares federativos. Secularmente, nossa região (AL) foi maculada por distorções e – especialmente – por negações da fortuna crítica difundida pelos grandes centros de/do poder, quando aí nos referimos às projeções europeias e, prioritariamente, estadunidenses. Pensar, portanto, as Relações Internacionais no cerne latino-americano está, por condição sine qua non, no despertar para o entrelace de corpos espaciais da Pátria Grande, ou seja, da nossa América Latina.
A publicação do artigo subscrito no título deste resumo – publicado na Argentina por meio da Universidad San Isidro – busca, na prática, estabelecer o diálogo que está para além das relações internacionais, mas visa à congruência de corpos-latinos epistemológicos, ou seja, investigativos e de ordem consensual na premissa de que, aquilatados pelas feridas coloniais, a má compreensão histórico-formativa da América Latina, bem como o distanciamento diplomático e as revelias políticas. Esses elementos/dinâmica acabam sentenciando a disparidade do pensamento latino-americano, o que não corrobora para o enaltecimento das nossas diplomacias e reforça a ausência das pertenças do sentir, pensar e se convalidar como povo latino-americano.
A proposta, nesse preciso sentido, está, sobremaneira, no prisma de rupturas parciais com esses centros hegemônicos para o estabelecimento imediato das confluências das nossas latinidades. Calcados nessa visada periférica, sabemos que os centros de/do poder regimentam as práticas internacionais. Essas não podem, porém, ser confundidas com o referente que buscamos e, desse modo, com nosso ponto de partida das boas e exequíveis práticas de relações a partir das nossas identidades latinas, noutra proposta, com e a partir das nossas latinidades.
O que por bem circunscreve este artigo abre as portas para se pensar as maiores economias da nossa América do Sul como reais pontos de partida para as relações do (des)poder, por assim dizer, quando as duas maiores economias do bloco não buscam estabelecer tratativas efetivas com outras de igual plano (AL), mas de convergências sólidas, por exemplo, a economia europeia e, como não, os Estados Unidos. Nesse plano, Brasil e Argentina devem fundamentar suas relações internacionais como partícipes periféricos e, por assim, equacionar a busca de um entrelace com as nações latinas para, como esse dinamismo, pensar somente a posteriori o estabelecimento efetivo de contato com as economias doutras regiões.
Imbricados nessa proposta, o artigo publicado emerge da pesquisa e dos debates inseridos no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais (PPGRI) e visa a provocar essa discussão através da academia para que as amarras e o dependentismo dos grandes centros e, no caso das Relações Internacionais, especificamente dos Estados Unidos, sejam minorados. O objetivo é conseguir dar um passo substancial na tomada das relações pela compreensão de poderes e desafios de cada uma das nações latino-americanas.
Nesses meandros crítico-epistêmicos, recorre-nos recordar que muitos europeus não titubeiam quando são questionados sobre sua nacionalidade, trazendo a lume da resposta a condição de europeus, antes mesmo, por exemplo, de narrarem o nome de seu país e, portanto, sua real nacionalidade. O fato é que ser e pertencer ao bloco econômico mais coeso e poderoso do mundo torna indubitável o reconhecimento de pertença.
Ademais, o domínio dos grandes centros – sejam eles europeus, ou estadunidenses – no âmbito da América Latina se estrutura de tal forma que, para o seu desprendimento, seria preciso considerar que “[…] as esferas capitalista, política e cultural imbricam em um propósito de rito colonizador que oprimem circuitos diretos por abarcarem forças econômicas, propositando assim, dificuldades dos países – regiões – que almejam seguir suas convenções sem amarras opressoras”.
Na América Latina, sobretudo nos últimos 40 anos, a proposta de se estabelecer laços efetivos em blocos como o Mercosul e sua possível expansão, como, por exemplo, o recente ingresso da Bolívia como membro efetivo, prefigura um tímido passo. Contudo, a timidez de um Bloco que coexiste no coração da América Latina e a que seus demais vizinhos assistem sem conceber e saber como se transita, não pode ser absorvido como uma prática de algumas economias, mas de uma disparidade frívola de uma América Latina recuada aos projetos contemporâneos que nos abarcam.
Encontro dos Chefes de Estado dos Estados-Partes do Mercosul, em 7 dez. 2023, no Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro, com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva como anfitrião (Crédito: Ricardo Stuckert/ PR/Flickr)
Nessa égide investigativa e responsiva, substanciamos a presente pesquisa que não visa a replicar teorias eurocêntricas e demais lastros idealizadores-hegemônicos, mas vislumbra, efetivamente, produzir teorizações para o despertar de práticas epistemológicas e denunciativas. Essas mesmas teorias eurocêntricas insistem em estagnar o progresso da nossa região que padece das proposições coloniais e parece não compreender que a unicidade entre nações é uma aposta já muito bem consolidada pela União Europeia em seus diversos liames. Tal realidade nos coloca em laboratório acadêmico para (re)pensar a condição contemporânea da nossa América Latina em suas Relações Internacionais.
* Fábio do Vale é professor doutor, pesquisador e pós-doutorando pelo Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais (PPGRI) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Contato: professordoutorfabiodovale@hotmail.com.
Camila Feix Vidal é professora doutora, docente adjunta no Departamento de Economia e Relações Internacionais da UFSC, onde atua no PPGRI e no Curso de Relações Internacionais. Contato: camila.vidal@ufsc.br.
** Revisão e edição final: Tatiana Teixeira. Primeira versão recebida em 26 dez. 2023. Este Informe OPEU não reflete, necessariamente, a opinião do OPEU, ou do INCT-INEU. A versão integral deste artigo foi publicada na POLIEDRO – Revista de la Universidad de San Isidro, Argentina, ano IV, n. 15, p. 74-88, out. 2023.
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