Em meio à crise política doméstica, delegação de senadores dos EUA visita presidente da China
Chanceler chinês, Wang Yi, reúne-se com delegação de senadores dos EUA liderada pelo democrata Chuck Schumer, em Pequim, em 9 out. 2023 (Crédito: Xinhua/Gao Jie)
Por Yasmim Reis* [Informe OPEU]
A relação entre EUA e China tem sofrido maior tensão desde o governo Donald Trump (2017-2021), quando o mesmo proferiu discursos contrários ao gigante asiático sob a justificativa do desemprego que afetava os norte-americanos e, consequentemente, a segurança nacional. Destaca-se que a política de contenção ao avanço chinês não emergiu per se do ex-presidente republicano. Desse modo, reconhece-se que a tentativa do democrata Bill Clinton (1993-2001) auxiliou na contínua mediação da proximidade com a China por meio de instituições ocidentais, como a Organização Mundial do Comércio (OMC). Essa proximidade não teve como intenção somente trazê-la para o “jogo geopolítico ocidental”, mas também uma forma de contê-la na ordem internacional.
De uma perspectiva histórica, segundo o Council on Foreign Relations, “Estados Unidos e China têm uma das relações bilaterais mais importantes e complexas do mundo”. De fato, historicamente, ainda conforme a linha do tempo descrita pelo CFR, “os países (EUA e China) têm experimentado período de tensão e cooperação sobre questões como comércio, mudanças climáticas e Taiwan”. Frente a isso, acontecimentos históricos tiveram influência sobre o tensionamento dessa relação, a exemplo a Guerra da Coreia (1950-1953), a primeira crise no Estreito de Taiwan (1954), o conflito sino-soviético, o massacre da Praça da Paz Celestial (1989), entre outros exemplos.
Senador Chuck Schumer (D-NY) se encontra com o presidente Xi Jinping, em 9 out. 2023, em Pequim
De uma visão mais recente das relações entre EUA e China, a chegada de Trump à Casa Branca em 2017 e a posterior imposição de sobretaxas aos produtos chineses “elevaram o risco de ‘guerra comercial entre os países”, afirma o professor Alberto do Amaral Júnior, da Universidade de São Paulo, em entrevista para a Rádio USP em 2018. Assim, durante quatro anos, o cenário internacional observou o acirramento da tensão entre ambos.
Em 2021, com a chegada do democrata Joe Biden à presidência dos EUA, veio a expectativa de que as relações bilaterais pudessem retornar a uma certa “normalidade”. Biden manteve, porém, as tarifas de Trump, assim como impôs medidas mais duras. Assim, percebe-se que o governo Biden deu continuidade à orientação de política externa direcionada para a China.
Já no aspecto doméstico, o governo Biden tem enfrentado dificuldades para manutenção de sua base política. Nesse sentido, acompanhou-se, em 3 de outubro de 2023, a destituição do então presidente da Câmara de Representantes (Deputados), o republicano Kevin McCarthy, por 216 votos a favor e 210 contra, um exemplo claro da turbulência da política interna norte-americana. Foi nesse contexto, e em meio ao início da corrida presidencial para 2024, que uma delegação bipartidária com seis senadores visitou a China em 9 de outubro.
Visita da delegação de senadores entre a crise política doméstica
Há oito anos não acontecia uma visita de congressistas norte-americanos ao presidente da China, Xi Jinping. O encontro foi comandado pelo líder da maioria no Senado, o democrata Chuck Schumer (D-NY). O objetivo da viagem consistiu em “promover os interesses econômicos e de segurança nacional dos EUA na região”, segundo o jornal Poder 360.
Seria válido sublinhar que, historicamente, “quando se trata de visões sobre os laços econômicos com a China, os republicanos são mais propensos do que os democratas a serem contrários à China”, como mostra uma pesquisa realizada pelo Pew Research Center, conforme gráfico abaixo:
Embora o estudo demonstre que os republicanos tendem a serem mais contrários à China, o governo Biden tem rompido com essa “tradição” política, ao aplicar medidas econômicas “mais duras”, se comparadas às aplicadas durante o governo Trump. Com efeito, nota-se que o tensionamento na forma de lidar com a China persistiu no governo democrata de Biden. Nesse contexto, a visita da delegação se caracterizou pela tentativa de “aumentar o engajamento com autoridades chinesas”, após os últimos anos de deterioração dessas relações.
Recentemente, a China também recebeu visitas de outras autoridades norte-americanas, como do secretário de Estado, Antony Blinken, da secretária de Comércio, Gina Raimondo, e da secretária do Tesouro, Janet Yellen. Assim, ambos os países dão sinais de compreender a necessidade de maior cooperação, já que a interdependência da cadeia de produção tem-se tornado cada vez mais integrada.
Dessa forma, conclui-se que, se os ânimos para a corrida presidencial nos EUA para 2024 já estavam exaltados, a crise política dentro do Partido Republicano sinaliza que os próximos meses serão tumultuados nos planos doméstico e externo, o que precisa ser acompanhado com atenção para o desenvolvimento das próximas décadas do século XXI.
* Yasmim Reis é mestranda no Programa de Pós-Graduação em Segurança Internacional e Defesa da Escola Superior de Guerra (PPGSID/ESG), colaboradora no INCT-INEU/OPEU e vice-líder e assistente de pesquisa voluntária no Laboratório de Simulações e Cenários na linha de pesquisa de Biodefesa e Segurança Alimentar (LSC/EGN). Contato: reisabril@gmail.com.
** Revisão e edição final: Tatiana Teixeira. Primeira versão recebida em 12 out. 2023. Este Informe OPEU não reflete, necessariamente, a opinião do OPEU, ou do INCT-INEU.
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