O G7 de Hiroshima
(Em sentido horário) Presidente dos EUA, Joe Biden; chanceler da Alemanha, Olaf Scholz; premiê britânico, Rishi Sunak; presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen; presidente do Conselho Europeu, Charles Michel; primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni; primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau; presidente da França, Emmanuel Macron; e primeiro-ministro anfitrião, Fumio Kishida, no almoço de trabalho na cúpula dos líderes do G7, em Hiroshima, oeste do Japão, 19 de maio de 2023 (Foto divulgada pelo Ministério das Relações Exteriores do Japão/via Reuters)
Por Williams Gonçalves* [Informe OPEU]
A cúpula que o G7 realiza em Hiroshima, no Japão, é anunciada como a reunião em que os responsáveis pelas economias mais desenvolvidas do mundo discutem temas de interesse global.
Há de se convir que essa forma de anunciar a reunião dos sete países que formam o grupo não corresponde mais à realidade da economia internacional. Já foi o tempo que a reunião do G7 era ansiosamente aguardada para sinalizar novas referências para a evolução da economia internacional. Nos dias que correm, uma reunião de cúpula sem a presença de representantes da China já não pode ser considerada como a dos países economicamente mais avançados.
Porém, sabemos muito bem que, na atual conjuntura, esse não é tema que mereça justificação. Afinal, o caráter da reunião da vez é muito evidente. Trata-se de uma reunião na qual os membros do grupo, sob a liderança dos Estados Unidos, deverão premeditar uma linha de ação contra a China. Por outras palavras, trata-se de uma reunião contra a China.
Os Estados Unidos são os responsáveis diretos por esse caráter da reunião do G7. Nos últimos tempos, impedir que a China assuma a condição de potência hegemônica tem sido o eixo da política internacional dos norte-americanos.
Sob o governo de Barack Obama, a ideia era formar uma dupla com a China para que, juntos, Estados Unidos e China exercessem a governança global. Seria o G2, uma vez que estavam esgotados os meios para conter a ascensão chinesa.
Presidente Barack Obama oferece um brinde ao presidente chinês, Xi Jinping, durante banquete de Estado no Grande Salão do Povo, em Pequim, em 12 nov. 2014 (Crédito: Casa Branca/Pete Souza)
Donald Trump alterou o rumo da política. Seu governo optou pelo confronto na área econômica. À frente do governo, Trump adotou medidas protecionistas para conter as importações de produtos chineses, para trazer de volta aos Estados Unidos empresas instaladas na China e para restringir o alcance das empresas de alta tecnologia chinesas.
O governo de Joe Biden, sem anular as medidas promovidas por Trump, tem investido esforços contra a China em todos os domínios. Sem ter como interromper o dinamismo da expansão econômica chinesa, Biden tem concentrado sua política contra a China no argumento de que não se pode permitir que um país de estrutura política autoritária exerça a hegemonia global e organize nova ordem internacional.
O uso que Biden faz do argumento do autoritarismo chinês objetiva corrigir a política de Trump de desprezar as alianças estratégico-militares, mediante uma concepção exclusivamente comercialista. Seu governo tem sido bem-sucedido nessa orientação política, ao recuperar a unidade da OTAN contra a Rússia. Por se ver em situação-limite e se decidir pela guerra contra a Ucrânia, Vladimir Putin deu a Biden a oportunidade de reassumir a liderança político-militar junto aos aliados europeus.
A reunião do G7 em Hiroshima se apresenta como ponto alto dessa estratégia de Biden aplicada à Ásia. Pretextando que a política chinesa para a área do Indo-Pacífico se assemelha à política russa para a Ucrânia e havendo o risco de, segundo essa ideia, a qualquer momento, a China tentar reintegrar territórios à força ao Estado da República Popular, Biden procura não apenas reforçar os laços dos Estados Unidos com os países aliados da região, como também comprometer seus aliados do G7 com essa mesma política asiática anti-China. A reunião no Japão pode ser considerada um ponto alto, porque os anfitriões se acham igualmente preocupados com a tomada de Taiwan pelos chineses e com a ampla implantação da Marinha da China no espaço marítimo indo-asiático.
Essa busca da política de Biden por uma ampla aliança contra a China inclui países relevantes do Sul Global. Esse também é um esforço necessário, dado que os Estados Unidos, faz algum tempo, perderam a antiga influência sobre vários desses países. Daí a razão dos convites a representantes de alguns líderes desse espaço político, dentre eles o presidente brasileiro, Lula da Silva.
O G7 de Hiroshima reúne, portanto, todos os ingredientes de um conclave de alta densidade política, no qual algumas posições deverão merecer maior atenção. Entre elas, seguramente, a posição francesa de não assumir compromissos antichineses junto aos asiáticos, e a posição indiana de, junto com a China, apoiar economicamente a Rússia contra as sanções aplicadas pelos Estados Unidos e por seus aliados da OTAN.
* Williams Gonçalves é Professor Titular de Relações Internacionais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e professor do Programa de Pós-Graduação em Estudos Marítimos da Escola de Guerra Naval (PPGEM-EGN). Doutor em Sociologia, também é pesquisador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Estudos sobre Estados Unidos (INCT-INEU).
** Revisão e edição final: Tatiana Teixeira. 1ª versão recebida em 19 de maio de 2023. Este Informe não reflete, necessariamente, a opinião do OPEU, ou do INCT-INEU.
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