EUA e o Resumo da Semana (de 17 a 24 abr. 2022)
Presidente russo, Vladimir Putin, recebe o secretário-geral da ONU, António Guterres, no Kremlin, em Moscou, em 26 abr. 2022 (Crédito: Kremlin Press Service/Anadolu Agency/Getty Images/Wikimedia Commons)
Por Equipe OPEU
América Latina, por Vitória de Oliveira Callé
Na terça (19), o secretário de Estado estadunidense, Antony Blinken, viajou para o Panamá para tratar de questões migratórias no âmbito das relações bilaterais e hemisféricas. Além de Blinken, a delegação dos EUA foi constituída pelo secretário de Segurança Interna, Alejandro N. Mayorkas, por representantes do Departamento de Segurança Interna para Fronteira e Imigração, para População, Refugiados e Migração e por representantes da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID, na sigla em inglês). Blinken foi em busca de cooperação para administrar os fluxos de migrantes e refugiados nas Américas. Em encontro com o presidente panamenho, Laurentino Cortizo Cohen, foram tratados possíveis compromissos bilaterais para melhorar a gestão da migração. Nesse sentido, firmou-se um Acordo Bilateral sobre Migração e Proteção, que propõe expandir a estrutura regional de gestão da migração no hemisfério, incorporando princípios dessa abordagem, com gestão humana de fronteiras, estabilização de populações deslocadas, estabilização das comunidades anfitriãs e melhor acesso à proteção e vias legais para fornecer uma alternativa à migração irregular.
As conversas entre os governos dos EUA e do Panamá se deram concomitantemente à imposição de vistos por parte da Costa Rica a venezuelanos, visando a conter o fluxo irregular destes em direção aos EUA. Blinken afirmou que “a única resposta duradoura e sustentável para lidar com a migração irregular é combater suas causas profundas. Mas isso leva tempo. E, enquanto isso, muitas cidades e vilas simplesmente não têm os recursos de que necessitam para fornecer aos seus próprios cidadãos, muito menos atender às necessidades dos migrantes que estão com eles”. Ademais, a chanceler panamenha, Erika Mouynes, reforçou a necessidade de que a região assuma, como um todo, um maior compromisso para enfrentar o fenômeno migratório.
Secretário Antony Blinken, em 16 mar. 2021 (Crédito: Ron Przysucha/Departamento de Estado, domínio público via Flickr)
Na quinta (21), pela primeira vez em quatro anos, o governo dos EUA iniciou conversas com Cuba, também para lidar com a questão migratória. A reunião, em Washington D.C., tratou de meios para abordar a imigração ilegal, mudar as tendências de migração, deportações e funções da embaixada. Entre os pedidos do governo cubano, sobressaiu-se a exigência de que os EUA emitam mais vistos para os cubanos que desejam viajar para os Estados Unidos, como requisito para cumprir acordos anteriores. Em contrapartida, o Departamento de Estado informou que a Embaixada estadunidense em Havana retomará seus serviços consulares de maneira limitada, como instruída previamente.
Também na quinta, o ex-presidente de Honduras Juan Orlando Hernández foi extraditado para os Estados Unidos. Hernández, que governou Honduras de 2014 a 2022, é acusado pela Justiça estadunidense de participar de conspirações de tráfico de drogas e de porte de armas de fogo. Ele foi detido em fevereiro, e o pedido dos EUA por sua extradição, deferido pela Suprema Corte de Honduras no final de março. Como parte da política do governo Biden de combate a casos de corrupção na América Central, o ex-presidente hondurenho se encontra sob a custódia da Justiça de Manhattan (Nova York, EUA), onde será julgado pela lei estadunidense.
China e Rússia, por Carla Morena e João Bernardo Quintanilha
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, vai-se reunir com o presidente russo, Vladimir Putin, e com o ucraniano, Volodymyr Zelensky, na terça-feira (26), na tentativa de avançar em uma possível resolução do conflito. O encontro se dará após insucessos das negociações de paz e em meio à continuidade da resistência militar na cidade de Mariupol. Ademais, fontes internas russas declararam que a anexação permanente do sudeste da Ucrânia constitui um objetivo estratégico do país.
Defesa e Segurança, por Maria Manuela de Sá Bittencourt
Na quinta (21), o presidente americano, Joe Biden, anunciou que os Estados Unidos enviarão mais de US$ 800 milhões para a Ucrânia. Esse dinheiro vem de um pacote de ajuda militar que tem como objetivo o auxílio na defesa ucraniana contra a Rússia. “É o apoio sustentado e coordenado da comunidade internacional, liderado e facilitado pelos Estados Unidos, [que] é uma razão significativa pela qual a Ucrânia é capaz de impedir a Rússia de assumir seu país até agora”, disse Biden.
Nesse mesmo dia, o secretário de Imprensa do Pentágono, John Kirby, anunciou que o secretário da Defesa, Lloyd Austin, viajará para a Alemanha na semana que vem. O objetivo é se reunir com seus homólogos de outros países para discutir as necessidades atuais e futuras de defesa da Ucrânia. Entre os tópicos do encontro, estão a avaliação de campo de batalha da ofensiva russa no Leste e a “energização” da base industrial de defesa para assegurar o fluxo contínuo de assistência de segurança. Também serão abordadas as necessidades da Ucrânia quando o conflito acabar.
Economia e Finanças, por Ingrid Marra e Marcus Tavares
Na quarta (20), trabalhadores de uma loja da Apple em Atlanta entraram com uma petição para realizar uma eleição sindical. Essa seria a primeira loja da Apple nos Estados Unidos a se sindicalizar. O esforço dos funcionários da loja da Apple é apoiado pelo Communications Workers of America – o maior sindicato trabalhista dos EUA –, que representa trabalhadores de setores ligados à tecnologia e ao atendimento ao cliente, entre outros. Mais de 70% dos mais de 100 trabalhadores elegíveis para se filiar ao sindicato – em cargos de vendas, técnicos, criativos e operacionais – expressaram o desejo de se organizar.
Desde 2021, alguns funcionários atuais e antigos começaram a criticar as condições de trabalho da empresa, usando a hashtag #AppleToo. A hashtag faz referência ao fato de outros esforços de sindicalização estarem ganhando força entre os funcionários de algumas grandes corporações dos EUA, incluindo Amazon e Starbucks. Trabalhadores e grupos trabalhistas dos EUA apresentaram 57% mais petições para serem representados por sindicatos nos últimos seis meses, à medida que campanhas de organização sindical na Starbucks, Amazon e outras empresas começaram a aumentar. O Conselho Nacional de Relações Trabalhistas (National Labor Relations Board, NLRB) recebeu 1.174 solicitações desse tipo na primeira metade do ano fiscal de 2022, de 1º de outubro a 31 de março, contra 748 no mesmo período de 2021. Se esse ritmo continuar por todo ano, será o total anual mais alto em pelo menos dez anos.
(Arquivo) Protesto na Filadélfia em apoio aos trabalhadores da Amazon, em 26 fev. 2022 (Crédito: Joe Piette/Flickr)
Na quinta-feira (21), o presidente do Banco Central dos EUA (Federal Reserve, Fed), Jerome Powell, disse concordar com o aumento das taxas de juros como forma de reduzir a inflação. Segundo Powell, é possível esperar um aumento na taxa de juros em 0,5 ponto porcentual. Suas declarações atendem às expectativas do mercado, que preveem que o Fed se afastará de seus habituais aumentos de 0,25% e subirá a taxa de juros-base acentuadamente, em resposta ao maior ritmo inflacionário registrado nos Estados Unidos em mais de 40 anos.
O Fed resistiu ao aumento das taxas de juros até 2021, mesmo com a inflação alcançando números bem acima da meta de longo prazo de 2%. Diante da necessidade de combater os impactos da pandemia da covid-19 na economia norte-americana, uma inflação maior que o esperado poderia ser tolerada, se os EUA alcançassem alto nível de empregabilidade. Durante o processo de recuperação econômica, Powell e autoridades do Fed insistiram em que a inflação era “transitória” e que se dissiparia com a redução dos fatores relacionados à pandemia, como os problemas enfrentados nas cadeias de suprimentos e a demanda desproporcional por bens, em vez de serviços. Powell afirmou, no entanto, que essas expectativas não se cumpriram e que o Fed teve de mudar de rumo. Também se espera que a instituição comece a reduzir, em breve, sua quantidade de títulos, que hoje alcança emn torno de US$ 9 trilhões, principalmente em títulos do Tesouro e títulos lastreados em hipotecas. As discussões na reunião de março indicaram que o Fed, eventualmente, permitirá que US$ 95 bilhões em rendimentos de títulos vencidos sejam liberados a cada mês.
Meio Ambiente e Energia, por Lucas Amorim
Um grupo de 12 parlamentares do Partido Democrata demandou ação regulatória da Agência de Proteção Ambiental (EPA, na sigla em inglês) sobre as emissões de gases e outros poluentes em projetos de mineração de criptomoedas. Liderado pelo reoresentante (deputado) Jared Huffman (D-CA), o grupo se manifestou em carta direcionada ao diretor da EPA, Michael S. Regan. Nela, pediu ao órgão que garanta que as operações das empresas do setor se adequem às provisões de normas ambientais, como a Lei da Água Limpa e a Lei do Ar Limpo, ambas de 1956. Os congressistas expressaram “preocupações em relação a relatos de que as instalações de criptomoedas em todo país estão poluindo as comunidades e estão tendo uma contribuição descomunal para as emissões de gases de efeito estufa”.
Na sexta-feira (22), foi comemorado o Dia da Terra. A data é uma oportunidade anual para manifestações em favor da proteção do meio ambiente. Foi concebida nos anos 1970 pelo pacifista John McConnell, com o apoi do então secretário-geral da ONU, U Thant. Este ano, milhares de manifestantes ocuparam as ruas de cidades americanas, como a capital do país, Washington, D.C., Phoenix e Atlanta, pedindo que o presidente Biden e o Congresso tomem medidas ousadas para combater a mudança climática. Os organizadores do evento citaram especificamente a lei ambiental que previa investimentos da ordem de US$ 555 bilhões na transição para uma economia baseada em fontes renováveis de energia. A legislação se encontra parada no Senado, visto que os democratas não têm os 50 votos que, junto com o voto de Minerva da vice-presidente Kamala Harris, seriam suficientes para passar a medida de teor orçamentário.
O presidente mexicano, Andrés Manuel Lopes Obrador, não conseguiu aprovar no Congresso seu arrojado projeto de retornar a produção de energia elétrica e de hidrocarbonetos ao controle estatal. A proposta polêmica, que gerou atritos com o governo americano, obteve maioria de 275 a 223 na Câmara dos Deputados, quando eram necessários ⅔ dos votos afirmativos, impedindo o prosseguimento da tramitação. A oposição, cujos votos eram essenciais para a passagem da emenda à Constituição mexicana, não colaborou com o governo. O presidente promete mobilizar a bancada de seu partido para implementar a medida por meio de normas infraconstitucionais, que demandam apenas maioria simples.
Leia mais sobre a reforma no Informe OPEU de 10 de abril de 2022.
Paquistão, por Eduardo Mangueira
A partir de quarta-feira (20), a congressista estadunidense Ilhan Omar (D-MN) esteve em visita ao Paquistão. Em sua primeira viagem ao país de maioria muçulmana, Omar foi a Islamabad, a capital paquistanesa, onde se encontrou com o ex-primeiro-ministro Imran Khan, com seu sucessor, Shehbaz Sharif, e com o presidente, Arif Alvi. A congressista tratou de assuntos como o combate à islamofobia. Em seguida, a representante de Minnesota se dirigiu à parte paquistanesa da Caxemira, onde afirmou que a disputa territorial sobre a região não tem recebido a devida atenção do governo dos Estados Unidos. Omar foi duramente criticada pela Índia, que qualificou a visita como “condenável”, realizada em uma área “ilegalmente ocupada pelo Paquistão”. O governo dos Estados Unidos afirmou, por sua vez, que a viagem não foi feita em nome do país.
Relações Transatlânticas, por Vitória Martins
Na terça (19), um funcionário de alto escalão do Departamento de Defesa dos Estados Unidos afirmou que a transferência de centenas de milhões de dólares em equipamentos militares para a Ucrânia é o maior fornecimento recente de armamentos para um país em conflito. Em comentário ao DOD News (DOD, do inglês Department of Defense), um oficial sênior falou sobre a importância da Agência de Cooperação de Segurança e Defesa (em inglês, Defense Security Cooperation Agency) em assuntos de política externa, como o envolvimento americano no conflito entre Rússia e Ucrânia. Dentre suas funções, a agência também é responsável pela transferência dos armamentos para o território ucraniano. Os analistas ainda se preocupam com a confessa dificuldade do governo dos Estados Unidos em rastrear estes artigos militares, que podem sofrer desvios de função, ou cair nas mãos de milícias.
Leia mais sobre o assunto no artigo “O que acontece às armas enviadas para a Ucrânia? Os EUA não têm a certeza (mas têm receio)”, por CNN Portugal.
Ainda na terça, o presidente Biden conversou com líderes políticos internacionais e com aliados transatlânticos. Participaram o recém-reeleito presidente francês, Emmanuel Macron; o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson; o secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), Jens Stoltenberg; o chanceler alemão, Olaf Scholz; a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen; o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel; o presidente polonês, Andrzej Duda, entre outros. Os representantes discutiram novos esforços para prestar assistência militar, econômica e humanitária à Ucrânia nesse novo momento do conflito, em que a Rússia continua a mover suas tropas para o leste do país invadido. Ainda, debateram sobre aumentar os custos e as sanções econômicas impostos à Rússia, como forma de retaliação às últimas decisões de Moscou.
No sábado (23), em entrevista coletiva em Kiev, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, afirmou que os secretários de Estado e de Defesa americanos, Antony Blinken e Lloyd Austin, respectivamente, visitarão a Ucrânia no domingo (24). A visita não foi comentada pelo governo dos Estados Unidos, que, desde terça (19), recusa-se a dar informações concretas sobre uma viagem do presidente Biden, ou de algum membro sênior do governo americano, à capital ucraniana, alegando motivos de segurança.
Quer entender como o conflito Rússia-Ucrânia, permeado pelas ações dos Estados Unidos, pode afetar o cenário nacional? Leia sobre este assunto no último Estudos e Análises OPEU, de 15 de abril de 2022.
Primeira revisão: Rafael Seabra. Edição e revisão final: Tatiana Teixeira.
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