A mãe de Ahmaud Arbery (no pôster à esq.), Wanda Cooper-Jones, deixa a corte do condado de Glynn, em Brunswick, no estado da Geórgia, em 23 nov. 2021, dia do início das deliberações do júri sobre o julgamento dos assassinos de seu filho, de 25 anos (Crédito: Sean Rayford/Getty Images)

Resumo da Semana OPEU n 10 Nov 2021 (versão sem imagens)

Por Equipe OPEU

China, por Carla Morena e João Bernardo Quintanilha

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, prepara-se para ser o anfitrião da primeira Cúpula pela Democracia (Summit for Democracy) que ocorrerá no início de dezembro. Na pauta do evento, estão a luta contra o autoritarismo, o combate à corrupção e a promoção dos direitos humanos. Excluída da lista de convidados, a China reagiu. Em chamada com o chanceler iraniano, Hossein Amir, o ministro chinês das Relações Exteriores, Wang Yi, , criticou duramente o evento, descrevendo-o como mais uma tentativa dos Estados Unidos de polarizarem o mundo. Os comentários de Wang Yi vêm logo após Taiwan aparecer entre os 110 convidados para a Cúpula. De acordo com o ministro, “isso é uma tentativa de criar divisões por meio do confronto ideológico e tentar mudar outras nações soberanas, ao estilo americano, para servir às necessidades estratégicas dos próprios EUA”.

Na terça-feira, dia 23, o presidente chinês, Xi Jinping, discursou na cúpula da Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN, na sigla em inglês), salientando que a China não vai oprimir os países do Sudeste Asiático. Segundo Xi Jinping, “a China foi, é e sempre será uma vizinha, uma boa amiga e uma grande parceira da ASEAN”. Essa declaração do governo de Pequim se inscreve no contexto de fortes tensões na região do Mar do Sul da China. A região está sob olhar atento de Washington, Tóquio e, recentemente, de Canberra, desde a formação do pacto AUKUS. A retórica de Xi Jinping pode, no entanto, ser contrastada com a assertividade do governo de Pequim, que tem buscado reivindicar e projetar sua soberania e seu poder sobre a região do Mar do Sul da China.

Presidente chinês, Xi Jinping (centro), participa da cúpula virtual da Asean, em 22 nov. 2021, com um espaço vazio no lugar de Mianmar (Crédito: governo tailandês)

Defesa e Segurança, por Maria Manuela de Sá Bittencourt

Em um telefonema, na sexta-feira (26), o conselheiro de Segurança Nacional, Jake Sullivan, e o chefe de gabinete da Presidência da Ucrânia, Andriy Yermak, trataram das atividades militares russas perto da fronteira. Ambos concordaram em prosseguir com os esforços diplomáticos a fim de aliviar as tensões na área.

Leia também: As China threat rises, can Aukus alliance recover from rancorous birth? (The Guardian) e How Far Would Biden Go to Defend Ukraine Against Russia? (The New York Times)

Economia e Finanças, por Ingrid Marra e Marcus Tavares

O comitê que define as taxas de juros para o Federal Reserve (Fed, o Banco Central americano) divulgou na quarta-feira (24) a ata da sessão de novembro, na qual sinalizou, pela primeira vez, que pode reduzir toda ajuda econômica que tem fornecido durante a pandemia da covid-19. O resumo da reunião indica que os membros estão dispostos a agir, se as condições inflacionárias continuarem. “Vários participantes observaram que o Comitê deve estar preparado para ajustar o ritmo de compras de ativos e aumentar o intervalo da meta para a taxa de fundos federais mais cedo do que os participantes atualmente anteciparam, caso a inflação continue a correr acima dos níveis consistentes com os objetivos do Comitê”, afirma a ata.

Após a sessão de dois dias encerrada em 3 de novembro, o Federal Open Market Committee (FOMC, o correspondente ao Comitê de Política Monetária brasileiro) indicou que começará a cortar o programa mensal de compra de títulos, pelo qual adquiriu pelo menos US$ 120 bilhões em títulos do Tesouro e títulos lastreados em hipotecas. O objetivo do programa era manter o fluxo de dinheiro nesses mercados, ao mesmo tempo em que controlava as taxas de juros em níveis baixos para impulsionar a atividade econômica. Em seu comunicado pós-reunião, o FOMC afirmou que um “progresso substancial” na economia permitirá uma redução de US$ 15 bilhões por mês nas compras. O comunicado informa ainda que o cronograma será mantido ao menos até dezembro e deve continuar avançando até o encerramento do programa – provavelmente no final da primavera, ou início do verão de 2022 (outono e inverno de 2022 no Brasil). A ata observou que alguns membros do FOMC queriam um ritmo ainda mais rápido, de modo a permitir ao Fed ter uma margem de manobra para aumentar as taxas mais cedo.

Também na quarta-feira (24), foi divulgado que os indicadores de inflação do Fed mostram que os preços nos EUA continuam subindo. A escassez de oferta, a demanda do consumidor extraordinariamente alta e os salários em alta impulsionam os aumentos de preços rapidamente. A inflação anual apresenta seus números mais elevados em mais de três décadas. Os preços dispararam 5% no ano até outubro, de acordo com os dados do índice de preços de Despesas de Consumo Pessoal. Trata-se do maior aumento no ritmo desde novembro de 1990. Excluindo-se as medições mais voláteis de alimentos e energia, os preços aumentaram 4,1% em outubro em relação ao ano anterior – o maior desde janeiro de 1991.

Inflação anual nos EUA atinge níveis sem precedentes em três décadas (Crédito: Sergej Solomatin/Dreamstime.com)

Oriente Médio, por Luísa Azevedo

O principal negociador nuclear do Irã, Ali Bagheri Kani, afirmou, na segunda (22/11), que os Estados Unidos “devem aceitar a realidade” e suspender as sanções impostas ao país desde 2018, durante a retomada das negociações do acordo nuclear de 2015, que ocorrerá em uma semana (29/11). Em entrevista à emissora Al Jazeera, Kani sustentou que Estados Unidos e União Europeia devem mostrar vontade política para implementar o que foi acordado em 2015 e superar “considerações domésticas” sobre a questão.

No mesmo dia, durante entrevista coletiva no Departamento de Estado, o porta voz  Ned Price afirmou que “os Estados Unidos não estão dispostos e não irão tomar ações unilaterais”, como suspender as sanções contra o Irã, para garantir o sucesso das negociações. Nesse sentido, ressaltou que a resposta será em caráter conjunto com os países parceiros do acordo.

A retomada das negociações do Plano de Ação Conjunto Abrangente (JCPOA, na sigla em inglês) tem gerado expectativas. Analistas argumentam que o encontro demonstrará o direcionamento diplomático do Irã sob o governo conservador do presidente Ebrahim Raisi. Outro ponto diz respeito à capacidade de reorganização do posicionamento do governo de Joe Biden. Este teria perdido uma janela de oportunidade nos primeiros meses de seu mandato, momento em que o governo iraniano apresentava posição moderada sob a Presidência de Hassan Rohani. A participação indireta dos Estados Unidos no acordo tem mostrado uma diplomacia cautelosa quanto aos riscos de perda de capital político.

Leia também o artigo do jornal The New York Times sobre a escalada das tensões entre Estados Unidos e Irã, dada a baixa probabilidade de que se chegue a um acordo em Viena.

Ainda na segunda (22/11), o Departamento de Estado americano lançou uma ação de designação contra três líderes do grupo Estado Islâmico de Khorasan, conhecido pela sigla ISIS-K. A ação de contraterrorismo proíbe o engajamento das partes com cidadãos estadunidenses e bloqueia propriedades sob a jurisdição dos EUA. O Departamento do Tesouro americano também inclui Ismatullah Khalozai em sua lista de restrições pelo financiamento internacional e pelo envolvimento com líderes sêniores do grupo terrorista.

Política Doméstica, por Augusto Scapini e Rafaela Popov

No dia 22, o presidente Biden anunciou a renomeação de Jerome Powell para o cargo de presidente do FED, com um mandato de mais quatro anos. Powell havia sido nomeado pelo ex-presidente Donald Trump em novembro de 2017, quebrando uma certa “tradição” que encoraja a manutenção do ocupante da vez no cargo. Powell ganhou notoriedade no governo anterior, ao ser capaz de resistir a certas pressões políticas. No caso de Biden, a nomeação pode ser vista como mais um esforço para conquistar capital político por meio de ações bipartidárias. Para vice-presidente do FED, Biden escolheu uma das diretoras da instituição, Lael Brainard.

Biden anuncia em entrevista coletiva com Jerome Powell e Lael Brainard, na Casa Branca, em Washington, D.C., em 22 nov. 2021 (Crédito: Jim Watson/AFP via Getty Images)

No dia 23, o Comitê responsável pela investigação do ataque ao Capitólio, ocorrido no início do ano, emitiu mais intimações aos aliados de Trump, incluindo o lobista republicano Roger Stone e o fundador do site extremista de notícias InfoWars, Alex Jones. Assim, já são cerca de 40 aliados de Trump intimados pelo Comitê.

Em um pronunciamento público entregue pelo representante (deputado) Bennie Thompson (D-MS), o Comitê diz buscar informações sobre a organização, o planejamento e o financiamento do ataque, assim como sobre a existência de comunicações entre os organizadores com oficiais do governo e da Casa Branca. Além dos aliados de Trump, o Comitê também intimou, na mesma semana, os líderes dos grupos extremistas Proud Boys e Oath Keepers, associados à ideologia da supremacia branca.

Enquanto isso, no dia 25, em suas alegações ao Tribunal de Apelações, os advogados de Trump argumentaram que a solicitação dos documentos oficiais por parte do Comitê seria um ato antidemocrático, pois permitiria a quebra de confidencialidade do cargo presidencial. Uma audiência foi agendada para 30 de novembro, quando serão ouvidos os argumentos para a liberação, ou não, dos documentos.

Restrições de viagem à África, por Eduardo Mangueira

Na sexta-feira (26/11), o presidente Biden anunciou a imposição de restrições de viagem para oito países africanos. A decisão de banir viajantes da África do Sul, Botsuana, Essuatíni, Lesoto, Malauí, Moçambique, Namíbia e Zimbábue se deu em razão de preocupações relacionadas à variante ômicron da covid-19, identificada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) na África do Sul, Botsuana, Bélgica, Hong Kong e Israel. As restrições não se aplicam a cidadãos estadunidenses, nem a residentes permanentes, e voos serão mantidos. Já aqueles que não forem cidadãos americanos e tiverem passado por algum destes países no período de 14 dias antes de requisitar entrada serão impedidos de ingressar no país. Com 69,7% da população estadunidense vacinada até o momento, o governo Biden enfrenta desafios internos para avançar na imunização nopaís, em meio ao movimento de dez estados contra um mandato que obriga profissionais da saúde a se vacinarem.

Saúde, por Natália Silva Constantino

O surgimento de uma nova variante do coronavírus preocupa especialistas de saúde no mundo todo. A ômicron foi descoberta por cientistas sul-africanos e identificada em Botsuana, país vizinho à África do Sul, em meados do mês de novembro. Ela é rara e tem um elevado número de mutações, o que a torna altamente transmissível.

Leia mais em: Covid-19: o que se sabe até agora da variante Ômicron (Agência Brasil) | Veja o que se sabe da variante ômicron da covid-19 (IstoÉ Dinheiro) | What we know about the Omicron variant (CNN)

Na sexta-feira (26), cientistas da OMS classificaram a ômicron como “variant of concern” (“variante de preocupação”, em tradução livre para o português), a categoria mais grave usada pela agência neste tipo de monitoramento. A designação foi anunciada após reunião de emergência do órgão e é reservada às variantes perigosas que podem se propagar rapidamente, causar doenças graves, ou diminuir a eficácia de vacinas e/ou tratamentos. Em resposta a essa nova e perigosa variante, os EUA e outros países começaram a restringir viagens, conforme noticiado no tópico anterior.

Segundo o dr. Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosas dos Estados Unidos, é possível que a nova variante da covid-19 já esteja presente no país. Embora não haja casos confirmados da ômicron nos Estados Unidos, Fauci disse que “não ficaria surpreso”, se ela já tivesse chegado ao país. Em entrevista concedida no sábado (27), o diretor acrescentou que “ainda não a detectamos (a variante), mas quando se tem um vírus que mostra este grau de transmissibilidade, ele irá percorrer essencialmente tudo”. Fauci reafirmou sua opinião de que é “absolutamente crucial que as pessoas não vacinadas se vacinem e que as pessoas vacinadas recebam reforços” e insistiu na necessidade do uso de máscara em ambiente fechados.

O especialista Anthony Fauci em coletiva de imprensa na Casa Branca (Crédito: Susan Walsh/AP)

Pediatras americanos afirmaram que os casos de coronavírus em crianças aumentaram 32% em relação a semanas anteriores. Mais de 140.000 crianças testaram positivo para o coronavírus entre 11 e 18 de novembro, contra 107.000 na semana que terminou em 4 de novembro, de acordo com uma declaração dada na segunda-feira (22) pela Academia Americana de Pediatria e pela Associação Hospitalar Infantil. 

Sociedade, por Diana Obermuller

No dia 23, um júri na Virgínia considerou que os organizadores do comício de extrema direita, Unite the Right, em Charlottesville (VA), foram responsáveis pelos ferimentos em manifestantes opositores e por mais de US$ 25 milhões em danos. Os supremacistas brancos Richard Spencer, Jason Kessler e Christopher Cantwell, entre outros, foram condenados a pagar milhões de dólares em indenizações por lesões físicas e emocionais aos nove demandantes no julgamento. No comício de 2017, um homem lançou seu carro, de forma deliberada, contra um grupo de manifestantes opositores pacíficos. Matou Heather Heyer, de 32 anos, e feriu dezenas de pessoas.

No dia 24, um júri na Geórgia condenou três homens brancos pelo assassinato de Ahmaud Arbery, um jovem negro de 25 anos. Em fevereiro de 2020, Arbery havia saído para correr quando foi perseguido e assassinado por Travis McMichael, que estava acompanhado de seu pai, Gregory, e de seu vizinho William Bryan. A data da sentença ainda não é clara, mas os promotores indicaram que buscarão sentenças de prisão perpétua sem possibilidade de liberdade condicional. O assassinato de Arbery, assim como as mortes de Breonna Taylor, George Floyd e Rayshard Brooks, motivaram diversas manifestações contra a injustiça racial no país.

Para saber mais sobre lei e injustiça racial nos Estados Unidos, indicamos três matérias do portal The Conversation sobre o caso.

Tecnologia, por Natália Silva Constantino

Na última segunda-feira, a Apple entrou com uma ação contra o NSO Group e sua empresa guarda-chuva, acusando a companhia israelense de vigilância abusiva e de perseguição aos seus usuários. Informações apresentadas pela gigante americana apontam que o NSO Group infectou aparelhos de vítimas com seu spyware Pegasus, capaz de extrair mensagens, fotos e e-mails, gravar chamadas e ativar secretamente microfones e câmeras. Outras empresas americanas de tecnologia, como Microsoft, Meta e Alphabet, também já criticaram o grupo.

Primeira revisão: Rafael Seabra. Edição e revisão final: Tatiana Teixeira.

Assessora de Imprensa do OPEU e do INCT-INEU, editora das Newsletters OPEU e Diálogos INEU e editora de conteúdo audiovisual: Tatiana Carlotti. Contato: tcarlotti@gmail.com.

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