Internacional

Aliança de inteligência Five Eyes forma coalizão para combater a China

por Noah Barkin

Traduzido da Reuters*

 

BERLIM (Reuters) – Desde o início do ano, as cinco nações da principal rede mundial de compartilhamento de inteligência têm trocado informações sigilosas com outros países afins acerca de atividades externas da China, disseram sete funcionários em quatro capitais.

A cooperação crescente da Aliança Five Eyes – agrupamento de Austrália, Reino Unido, Canadá, Nova Zelândia e os Estados Unidos – com países como Alemanha e Japão é sinal de uma ampla frente internacional contra a influência chinesa em operações e investimentos.

Alguns dos funcionários, que falaram sob condição de anonimato devido à sensibilidade das conversas, disseram que a cooperação passou à expansão informal do grupo Five Eyes na questão específica de interferência estrangeira.

Enquanto a China tem sido o foco principal, as discussões também atingem a Rússia, afirmaram vários deles.

“Consultas com nossos aliados, parceiros que pensam de forma semelhante, sobre como responder à estratégia internacional assertiva da China tem sido frequente e vem ganhando ímpeto”, disse um funcionário dos Estados Unidos. 

“O que pode ter começado como discussões ad hoc estão agora levando a consultas mais detalhadas sobre as melhores práticas e oportunidades de cooperação.”

Todos os governos envolvidos, incluindo Alemanha e Japão, se recusaram a comentar.

A China, confrontada com uma crescente reação por parte de Washington, Canberra e outras capitais, rejeitou as acusações de que esteja procurando influenciar governos estrangeiros e que seus investimentos sejam motivados politicamente.

A coordenação ampliada da rede Five Eyes sugere que, apesar de o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sinalizar estar preparado para entrar sozinho num confronto com a China, membros de seu governo trabalham duro nos bastidores para formar uma coalizão informal, a fim de combater Pequim.

A cooperação também representa outro golpe nas já combalidas esperanças da China de convencer os países europeus, desestabilizados pelas políticas “America First” de Trump, a se distanciar de Washington e se aproximar de Pequim.

ABAIXO DO RADAR

Os funcionários que conversaram com a Reuters disseram que as conversas aconteceram “fora do radar” e, principalmente, de forma bilateral. Duas fontes alegaram que a França também estava envolvida, mas de forma menos regular e abrangente.

Nenhum deles sugeriu que a Alemanha, o Japão ou outros países fora da rede Five Eyes tenham sido convidados para reuniões da aliança de inteligência, que foi criada após a Segunda Guerra Mundial para enfrentar a influência soviética.

Mas uma declaração emitida após reunião da Five Eyes no final de agosto, em Gold Coast, na Austrália, sugeriu uma coordenação mais estreita. Dizia que o grupo utilizaria “parcerias globais” e aceleraria o compartilhamento de informações sobre atividades de interferência.

A coordenação internacional cresceu em paralelo a uma onda de medidas nacionais para limitar os investimentos chineses em empresas de tecnologia sensível e contra o que alguns governos veem como uma campanha crescente, a mando do presidente Xi Jinping, para influenciar governos e sociedades estrangeiros a favor da China por meio de uma mistura de pressão e incentivos.

Em dezembro passado, citando preocupações com a influência chinesa, o governo australiano divulgou um pacote de leis, que reforçou as regras sobre lobby estrangeiro e doações políticas, ao mesmo tempo em que ampliou a definição de traição e espionagem.

Os Estados Unidos impuseram uma lei, conhecida como FIRRMA, que dá a Washington novos poderes para bloquear certos tipos de investimentos estrangeiros.

O texto da legislação obriga Trump a liderar um “esforço de alcance internacional mais robusto” para convencer os aliados a adotarem proteções similares.

No início deste mês, em um ataque duro às atividades externas da China, o vice-presidente dos Estados Unidos, Mike Pence, acusou Pequim de interferir na arena doméstica, “recompensando ou coagindo empresas americanas, estúdios de cinema, universidades, think tanks, acadêmicos, jornalistas e funcionários municipais, estaduais e federais”. Pequim negou as acusações.

“UM MUNDO NOVO”

O governo alemão, que reforçou as regras para investimentos estrangeiros no ano passado – concluindo meses depois que elas eram inadequadas, após nova onda de aquisições chinesas -, está prestes a reduzir o limite possível de intervenção.

No ano passado, Berlim lançou silenciosamente uma campanha interministerial para avaliar a ampla gama de atividades chinesas no país. Fontes do governo dizem que a análise está completa e novas medidas políticas podem ser adotadas, embora afirmem que atos de longo alcance, como as adotadas pela Austrália, são improváveis.

O funcionário dos Estados Unidos disse que a tentativa frustrada de aquisição da empresa de semicondutores alemã, Aixtron, em 2016, ressaltou a necessidade de se construir uma coalizão mais ampla de países para compartilhar informações e coordenar as respostas à China.

Há dois anos, o governo alemão aprovou a aquisição da Aixtron por um fundo de investimento chinês, revertendo a decisão um mês depois, quando autoridades dos Estados Unidos apontaram os problemas de segurança que Berlim havia ignorado.

As autoridades que conversaram com a Reuters descreveram uma “enxurrada de consultas” nos últimos meses, com Washington dirigindo a coordenação do lado dos investimentos e Canberra assumindo um papel de liderança na conscientização sobre a interferência política.

Conversas ocorreram entre diplomatas, funcionários da inteligência e chefes de governo, afirmaram eles.

“Estamos vivendo em um mundo novo”, disse uma pessoa de um país da Five Eyes, que viajou muito a outras capitais no ano passado para discutir as atividades externas da China.

“O choque súbito de regimes autoritários está levando a uma coordenação mais estreita e a uma real expansão do compartilhamento de inteligência”, disse essa pessoa.

 

Traduzido por Solange Reis

*Artigo originalmente publicado em 12/10/2018, em https://reut.rs/2yeONn5

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