Segurança e Defesa

Ciberestratégia nacional prega ataque preemptivo

por Solange Reis

 

Dobrando-se à pressão de congressistas, a Casa Branca divulgou, no dia 21, a  Ciberestratégia Nacional. Democratas e republicanos vinham exigindo que Donald Trump cumprisse a promessa de campanha de desenvolver um plano para ameaças cibernéticas. Passados quase dois anos de sua posse, o presidente havia emitido somente uma ordem executiva vaga sobre a questão.

O texto recém-lançado avisa que os Estados Unidos não mais ficarão na posição de defesa e que o país partirá para o ataque preemptivo. Alerta ainda que a prosperidade e a segurança nacional dependem das reações aos desafios no espaço sideral. Tais respostas, sustenta a diretriz, poderão ser militares.

“O ciberespaço é um componente inseparável da vida financeira, social, governamental e política da América”, constata o documento assinado por Trump. “A América criou a Internet e a compartilhou com o mundo. Agora, precisamos garantir e preservar o ciberespaço para gerações futuras”, continuou.

John Bolton, conselheiro de segurança nacional, acrescentou que as mãos do governo não estão mais atadas. “Desde que o presidente Trump assumiu, ele agiu decisivamente para fortalecer a resposta americana aos desafios apresentados pelo ciberespaço.”

Contudo, depois de Bolton entrar para o governo em 2018 foi que a área de cibersegurança parece ter ficado mais abandonada. Foi Bolton quem eliminou o cargo de coordenador de cibersegurança, criado nos anos Obama. Depois que o neoconservador assumiu o posto de conselheiro, Tom Bossert, o assessor de segurança doméstica e especialista em cibersegurança, pediu demissão. Essas perdas foram somadas à saída de vários funcionários do FBI que trabalhavam nesse domínio.

A tentativa de responsabilizar o governo Obama pela falta de iniciativa constou do próprio anúncio da Casa Branca, segundo o qual essa foi a primeira publicação do tipo em 15 anos. A informação, no entanto, é inverídica. Em 2015, o governo Obama lançou o Plano de Implementação e Estratégia de Cibersegurança.

A estratégia elaborada desta vez baseia-se na Ordem Executiva de Cibersegurança de 2017 e em outras diretrizes federais desde então, que, por sua vez, inovavam pouco em relação ao que já fora proposto nos governos Bush e Obama.

Com 26 páginas, o texto foi dividido em quatro pilares principais que cobrem cibersegurança e cibercrime, estímulo à economia digital e força de trabalho, detenção cibernética e governança internacional.

O primeiro pilar visa reforçar a segurança na rede federal terceirizada, onde os especialistas dizem estar os principais gargalos. Embora Trump defenda, recorrentemente, a desregulamentação e a diminuição do Estado, a ideia é criar a Agência de Sistema de de Informação em Defesa.

No documento, o governo diz que vai expandir o papel do Departamento de Segurança Doméstica para mais vigilância das redes civis federais e compartilhamento de dados com empresas de telecomunicação.

O segundo pilar é reforçar a infraestrutura. Já os outros dois pilares giram em torno de normas para comportamento de Estados, proteção de Internet, governança de Internet e criação da Iniciativa de Ciberdetenção, uma espécie de coalizão para a defesa contra atitudes maliciosas de outros Estados. Rússia, China, Irã e Coreia do Norte são identificados como os principais países predadores.

Analistas consideraram que a estratégia nacional de cibersegurança de Trump acrescentou pouco à do governo anterior, exceto pelo tom de agressividade em relação aos países considerados ameaçadores. Segundo o documento, o governo reconhece que uma abordagem tecnocrata é insuficiente e que é preciso impor custos para deter a escalada predatória.  

Gary McGraw, vice-presidente da empresa de tecnologia de segurança, Synopsys acha que a retórica assertiva nada mais faz do que confirmar a postura agressiva dos Estados Unidos nesse campo. O empresário menciona o vírus Stuxnet, supostamente usado pelos Estados Unidos e Israel para destruir mais de mil centrífugas do Irã em 2010.

Republicanos valorizaram a iniciativa da Casa Branca. Para o senador republicano, Mike Rounds, adotar uma postura mais agressiva é uma medida preemptiva importante contra ciberataques.

Já o representante democrata, Jim Langevin, fundador do Grupo de Cibersegurança Congressional, ficou pouco impressionado com a estratégia requentada de outros governos e disse ter preocupação com a criação da Iniciativa de Ciberdetenção. Segundo o democrata, os Estados Unidos têm a mais a perder do que a ganhar se iniciar uma guerra cibernética com Rússia e China. O papel dos Estados Unidos, diz Langevin, é criar um cenário de estabilidade.

Realização:
Apoio:

Conheça o projeto OPEU

O OPEU é um portal de notícias e um banco de dados dedicado ao acompanhamento da política doméstica e internacional dos EUA.

Ler mais