Política Doméstica

O que esperar de Trump, GOP e EUA nos próximos anos

Logo do GOP (Crédito: Wikimedia)

Por Vitor Marques Mariano dos Santos* [Informe OPEU] [Partido Republicano] [Política Doméstica]

Trump

Donald Trump venceu as eleições estadunidenses. 

O “Make America Great Again” (MAGA) Tornar a América Grande Novamente – voltou à Casa Branca. 

Aos 78 anos, Trump venceu a corrida presidencial nos Estados Unidos de forma avassaladora. Mesmo antes do fim da apuração, em 5 de novembro, já detinha vitória significativa nos estados-pêndulo (swing states): Arizona, Michigan, Pensilvânia, Georgia, Ohio, Wisconsin e Carolina do Norte. Com o domínio nesses sete estados, além de resultado expressivo no voto popular, algo que não acontecia há muito tempo para os republicanos, Trump ganhou com significativa vantagem, voltando mais poderoso do que em 2016. 

Trump nunca esteve tão preocupado em se mostrar como uma figura aglutinadora como nos últimos tempos. Em seu discurso da vitória, reforçou a busca por um período de reunificação pela grandeza da América, sendo bem abrangente em suas menções honrosas – mais de 22 nomes mencionados no discurso de vitóriacom acenos surpreendentes para trabalhadores hispânicos, latinos e muçulmanos, marcando seu território conquistado.

De todos os acenos, o que mais chamou atenção foi para Elon Musk, um de seus principais doadores de campanha. O republicano se referiu a ele como “possível futuro presidente”.

Trump reforçou que os EUA mostrarão maior vigor na defesa de seus interesses soberanos, ameaçando a posição de líder global que o país detém na defesa do livre-comércio e das democracias liberais. Questões migratórias, liberdade, economia, tarifas e a promessa de um país menos dividido – em parte, dividido pelo próprio Donald Trump – ditarão quais rumos ele pretende tomar. Sua postura ainda mais conservadora e nacionalista, agora com menos freios e contrapesos institucionais, como uma Suprema Corte Americana mais conservadora e o comando da Câmara dos Representantes e do Senado são fortes aliados para acreditar que Trump não pretende ceder, tornando-se centralizador e menos cooperativo. 

O novo “GOP”

Grand Old Party.

Grande Velho Partido.

O termo se popularizou em meio às vitórias do Partido Republicano, sob liderança de Lincoln. Fundado em 1854, o partido elegeu Abraham Lincoln em 1860. A expressão foi usada pela primeira vez em 1857, em artigo do Congressional Record, veículo de mídia que exaltava o Partido Republicano, com destaque para a liderança que o partido empreendeu durante a Guerra Civil. Mesmo com a presença do Old – o Partido Democrata é mais antigo, fundado em 1820 –, a questão da grafia se refere ao antigo prestígio conquistado no século XIX. 

Apesar da derrota em 2020 e das recentes condenações, Trump, junto ao novo GOP, teve desempenho curiosamente acima daquilo que era esperado. A centralização ao redor de Donald Trump se fortificou, principalmente após a segunda tentativa de assassinato que sofrera, em setembro de 2024, dois meses antes da disputa do pleito.

O novo GOP se apresenta mais populista, com elementos xenófobos em relação a restrições na imigração, conseguindo eco em círculos de latinos, afro-americanos, hispânicos, muçulmanos americanos, árabes americanos e na classe trabalhadora, sobretudo, a branca. Parte desses grupos entende que Joe Biden e Kamala Harris patrocinaram o genocídio em Gaza, promovido por Israel, o que teria contribuído para a entrada de migrantes.

Com o ataque ao Capitólio em 2021 – em grande medida atribuído ao discurso inflamado de Donald Trump –, vozes hoje moderadas do Partido Republicano, como Mitt Romney e Liz Cheney, saíram de cena. Com isso, alas pró-Trump ganharam fôlego internamente. 

(Arquivo) Liz Cheney faz o juramento de posse, com seu pai Dick Cheney, vice-presidente dos Estados Unidos de 2001 a 2009, olhando para ela, em cerimônia no Congresso dos EUA, em Washington, D.C., em 4 jan. 2017 (Crédito: Gabinete da representante/Wikimedia)

O nacionalismo também se mostrou contundente na nova formatação do GOP, dando espaço para retóricas mais extremistas e protecionistas, em nome da defesa contínua dos EUA.

EUA

Em níveis governamentais, para 2025, especularam-se (e vem-se verificando ao longo desses primeiros meses de governo) intenções de Trump de promover ainda mais controle no Poder Executivo e em agências estratégicas, como o FBI (a Polícia Federal nos EUA) , o Departamento de Justiça, colocando em xeque a tradicional independência das instituições estadunidenses. Essa remodelação amplia o horizonte sobre um possível autoritarismo, promovido internamente pelo Partido Republicano, para que Trump radicalize. 

Um desafio para Trump será fazer durar sua relação com imigrantes residentes no país, os quais, apesar de perseguidos em discursos, depositaram nele votos de confiança para o futuro dos EUA. Esse público, junto da classe trabalhadora – antes maciçamente branca –, com destaque para as demandas masculinas, faz parte de uma massa silenciosa que deu vitória a Trump (expressão utilizada em 2016), manifestando-se na hora de votar.

Na matéria econômica, temos a polêmica das tarifas protecionistas; investimentos em setores estratégicos, visando a fortalecer setores produtivos e de tecnologia; a ideia de nacionalizar o máximo possível a produção e, consequentemente, centralizar o consumo, promovendo empregos nos EUA, mas, em contrapartida, a diminuição da compra de parceiros estratégicos. 

Os EUA parecem caminhar para um lado populista e conservador, com reforço das questões de proteção do cidadão, da família e dos bons costumes, com uma economia menos internacionalizada e mais distante de antigos aliados. Para o InvestNews, o comércio global e os custos de vida internos podem ser diretamente afetados, se Trump realmente intensificar sua postura protecionista. Em um encontro de que participou na Fundação FHC, em agosto de 2024, o acadêmico Steven Levitsky, autor de Como as democracias morrem (Editora Zahar, 2018), destacou que o sistema democrático, enquanto sistema político, sai fortemente abalado, ficando ainda mais ameaçado, como tem estado nos últimos anos, com destaque para a perseguição à imprensa e à independência do Judiciário, o que fortaleceria vieses autoritários, em especial em uma democracia mais que consolidada, como é – ou era, pelo menos – a dos EUA.

 

* Vitor Marques Mariano dos Santos é graduando de Relações Internacionais na Universidade Anhembi Morumbi e aluno participante do projeto de extensão da referida instituição em parceria com o OPEU. Contato: www.linkedin.com/in/vitor-marques-6b79491a7.

** Primeira revisão: Simone Gondim. Contato: simone.gondim.jornalista@gmail.com. Revisão e edição finais: Tatiana Teixeira. Recebido em 18 dez. 2024. Este Informe não reflete, necessariamente, a opinião do OPEU, ou do INCT-INEU.

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