O papel da música no debate político dos Estados Unidos
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Álbum American Idiot (Fonte: Musicscenemedia.com)
Por Andy Mickelly Canovas Lima* [Informe OPEU] [Música]
Nos Estados Unidos, a cultura pop frequentemente transcende seu papel de entretenimento, tornando-se uma poderosa ferramenta para expressar descontentamento social e promover mudanças políticas. A música, em específico, tem servido como um canal de mobilização e reflexão sobre políticas públicas e questões sociais. Desde os movimentos pelos direitos civis nos anos 1960, artistas usam suas plataformas para amplificar vozes e pressionar por reformas.
As sonoridades selecionadas abaixo, cada uma em seu contexto, utilizam da arte como movimento político para questionar e desafiar o status quo, mobilizando e unindo gerações ao redor da urgência por transformação e resistência. Elas vão além do entretenimento. Como uma forma de protesto, essas canções incentivam o agir, convidando os ouvintes a se engajarem ativamente na luta por justiça e a não aceitarem de cabeça baixa as injustiças e desigualdades impostas pela sociedade e pelo sistema político. De maneiras distintas, elas refletem a capacidade da música de ser um reflexo das tensões sociais, ao mesmo tempo que estimulam um movimento coletivo por um futuro melhor.
“The Revolution Will Not Be Televised” (Gil Scott-Heron, 1971)
Lançada em 1971, a música “The Revolution Will Not Be Televised”, de Gil Scott-Heron, reflete um contexto de crescente desilusão com a mídia e as instituições sociais, em um período marcado por intensos protestos nos Estados Unidos. Durante essa época, o país vivia um clima de agitação política e social, com o movimento pelos direitos civis ganhando força, as consequências da Guerra do Vietnã sendo amplamente debatidas e o governo de Richard Nixon enfrentando crescente oposição. A letra da canção critica a forma como a mídia distorce ou trivializa eventos importantes, afirmando que a verdadeira revolução – aquela que busca justiça e mudança genuína – não será transmitida ou manipulada pelos meios de comunicação tradicionais, mas será vivida na prática, nas ruas e nos movimentos sociais.
Conheça as referências do clipe, neste vídeo de David Wyatt
“American Idiot” (Green Day, 2004)
Lançada em 2004, “American Idiot”, do Green Day, tornou-se um hino de resistência contra o governo de George W. Bush, em meio à crescente insatisfação com a Guerra do Iraque e as tensões políticas que precederam a eleição presidencial daquele ano. A canção critica o nacionalismo exacerbado e a manipulação da mídia, apontando a alienação e conformidade da população diante das políticas autoritárias e das campanhas de medo. Com letras como “Don’t wanna be an American idiot” (“Não quero ser um idiota americano”), a música expressa uma rejeição ao patriotismo cego e à propaganda governamental, chamando os ouvintes a questionarem a realidade que lhes é imposta e a se oporem à crescente polarização política.
“Dear Mr. President” (Pink, 2006)
Pink escreveu “Dear Mr. President” como uma mensagem direta ao presidente George W. Bush também, criticando questões como a desigualdade social, a falta de apoio aos trabalhadores e aos direitos LGBTQIAPN+. Durante suas performances ao vivo, como na Arena Wembley, Pink reforça sua mensagem com imagens impactantes projetadas no telão, incluindo cenas de soldados em combate, crianças sofrendo com a fome e a figura do próprio Bush, como símbolos de sua indignação e de um sistema que, conforme menciona durante sua canção, falha em proteger os mais vulneráveis.
“Only The Young” (Taylor Swift, 2020)
Em “Only the Young”, a cantora expressa a frustração e a desilusão dos jovens com o sistema político dos Estados Unidos, especialmente após a primeira eleição de Donald Trump. A letra sugere que, embora os jovens se sintam desencorajados pelas falhas do sistema, é por meio da mobilização e do voto que podem buscar uma mudança real, incentivando a geração mais jovem a não se estagnar, mas a lutar por um futuro diferente. A música, portanto, reflete um chamado à resistência e à participação ativa na política.
A música atua como uma ferramenta poderosa de expressão, resistência e mobilização. Desde os hinos dos movimentos pelos direitos civis até os protestos contra guerras e desigualdades sociais, ela passa de geração a geração, conectando artistas e público na luta por mudanças. Canções de todos os gêneros existentes no mundo, são capazes de contar histórias e vincula-as com as almas ouvintes que se identificam. A música é a arte de fazer som, mas também é arte de fazer sua voz ser ouvida.
* Andy Mickelly Canovas Lima é graduanda do sexto semestre do curso de Relações Internacionais da Universidade Anhembi Morumbi e aluna participante do projeto de extensão da referida instituição em parceria com o OPEU. Contato: andy.mickelly@gmail.com.
** Revisão e edição final: Tatiana Teixeira. Recebido em 4 dez. 2024. Este Informe não reflete, necessariamente, a opinião do OPEU, ou do INCT-INEU.
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