América Latina

O redator de fronteiras: Stephen Miller e suas políticas anti-imigratórias  

(Arquivo) Stephen Miller em comício de Trump no Veterans Memorial Coliseum, no Arizona State Fairgrounds, em Phoenix, Arizona, em 18 jun. 2016 (Crédito: Gage Skidmore/Flickr)

Por Rafael Gomes*  [Informe OPEU] [Trump 2.0] [Imigração] [Fronteiras] 

Indicado por Donald Trump para ser o vice-diretor de Políticas da Casa Branca no segundo mandato do republicano como presidente dos Estados Unidos e conhecido por ser linha-dura em relação à questão da imigração, Stephen Miller é, antes de tudo, uma figura que provoca reações diversas no eleitorado estadunidense. Para uns, trata-se de um jovem líder que, com seus fortes discursos, inspira o seminal patriotismo do país, enquanto outros consideram-no a “pessoa mais perigosa do círculo interno de Donald Trump”. Tais adjetivos já antecipam o teor polêmico de sua personalidade e atuação na política, que, como veremos a seguir, ainda não é o bastante para classificar sua trajetória. 

Nascido em 23 de agosto de 1985, Stephen Miller é descendente de uma família imigrante judaica que se refugiou nos Estados Unidos no começo do século XX, fugindo das perseguições czaristas da região de Antopol, atual Bielorrússia, e se estabeleceu em Santa Monica, Califórnia, cidade onde Miller estudou e terminou o período da High School (ensino médio). Nessa época, ele participava de rádios conservadoras e escrevia redações sobre uma gama variada de assuntos. Um desses textos, em especial, adquiriu certa notoriedade: em “How I changed my left-wing High School” (“Como mudei meu colégio esquerdista”, em tradução livre), Miller expôs seu pensamento político, mostrando-se de facto um conservador, que carregava consigo toda a mística do Destino Manifesto estadunidense e se lançava na luta contra todo tipo de “esquerdismo”, classificando sua escola, a Santa Monica High School, como uma “instituição não de ensino, mas de doutrinação”. Essa pretensa combatividade contra a “esquerda” e a luta pelo conservadorismo estadunidense seriam o mote de sua futura carreira política. 

Uma página do anuário do ensino médio de Stephen Miller apresenta uma citação do presidente Theodore Roosevelt: “Não pode haver americanismo meio a meio neste país. Há espaço aqui apenas para 100% de americanismo, apenas para aqueles que são americanos e nada mais” (Crédito: Anuário da Santa Monica High School. Fonte: NPR)

Dos escritos à Casa Branca 

No decorrer de sua formação acadêmica na Universidade de Duke, na Carolina do Norte, Miller continuou a escrever. Suas críticas ao feminismo e a políticas afirmativas, sua intolerância contra imigrantes muçulmanos e a exaltação do “glorioso” passado estadunidense começaram a circular nos fóruns conservadores e supremacistas do país, tornando-o uma espécie de agitador digital da direita. 

Foi, no entanto, apenas após terminar seu bacharelado em Ciência Política na Universidade de Duke que Miller ingressou na política institucional dos Estados Unidos. Seu primeiro contato com o “serviço eleitoral” foi por meio da representante (deputada) republicana Michele Bachmann (R-MN), com a qual trabalhou como secretário de Imprensa e se destacou por redigir discursos combativos e acalorados. Esse destaque seria fundamental para sua alavancagem em nível nacional. 

Em 2016, Stephen Miller ingressou como conselheiro político sênior na campanha eleitoral de Donald Trump para a Presidência e usou a “expertise” adquirida após tanto tempo de treino nas publicações da época da universidade para continuar escrevendo discursos e opiniões sobre deportações e políticas imigratórias. 

Miller passa, então, a ter maior relevância na política estadunidense quando é nomeado, com Trump já na Presidência, para ser o conselheiro sobre Políticas Migratórias. É nessa função que Miller terá maior repercussão pública: toda a sua concepção sociológica extremista será transmitida ao longo do período em que trabalhou nessa pasta. Não à toa ele foi escolhido especificamente para esse assunto, pois compartilhou, por toda a sua carreira, opiniões beligerantes e securitárias a respeito dos imigrantes — e era chegada a hora de pôr isso em prática. 

Stephen Miller vai propor e defender uma série de questões altamente controversas, como a separação de crianças e seus pais nos controles fronteiriços e a proibição da entrada de pessoas de sete países de maioria muçulmana, além de fazer apologia a regras migratórias estadunidenses que foram elogiadas por Hitler. 

O presente e o futuro 

America First Legal - America First LegalNo governo trumpista, Miller continuou avançando com sua agenda anti-imigração. Quando acabou o mandato do presidente estadunidense, ele participou da criação de um think tank, o America First Legal, no qual dissemina suas (velhas) novas ideias sobre os EUA, a civilização e as mentiras do “sistema”. Sua “convocação” para Trump 2.0, junto de Thomas Homan — conhecido como czar das fronteiras, ironias históricas à parte —, sinaliza o teor dos próximos anos em relação às políticas migratórias dos Estados Unidos. 

Trump também o indicou como o novo conselheiro de Segurança Interna, podendo refletir nas suas posições sobre a securitização dos refugiados que procuram o país de forma contínua e, de alguma maneira, ou talvez única, esperançosa – apesar dos riscos e desafios dessa trajetória.

 

* Rafael Gomes  é graduando do sétimo semestre do curso de Relações Internacionais da Universidade Anhembi Morumbi e aluno participante do projeto de extensão da referida instituição em parceria com o OPEU. Contato: rafael.gomesmcunha@gmail.com 

** Primeira revisão: Simone Gondim. Contato: simone.gondim.jornalista@gmail.com. Segunda revisão e edição final: Tatiana Teixeira. Primeira versão recebida em 27 nov. 2024. Este Informe OPEU não reflete, necessariamente, a opinião do OPEU, ou do INCT-INEU.

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