Quem é Lee Zeldin, a próxima liderança da EPA
(Arquivo) Lee Zeldin, congressista dos EUA, na Cúpula de Ação para Estudantes Adolescentes de 2019, organizada pelo Turning Point USA, no Marriott Marquis, em Washington, D.C., em 23 jul. 2019 (Crédito: Gage Skidmore/Flickr)
Por Kayla Arnoni Vertematti Baptista* [Informe OPEU] [EPA Ambiental]
Lee Zeldin, ex-congressista republicano por Nova York e aliado próximo de Donald Trump, foi indicado pelo presidente recém-eleito para liderar a Agência de Proteção Ambiental (EPA, na sigla em inglês). Com sua postura alinhada às políticas de desregulamentação, Zeldin promete restaurar o domínio energético dos EUA e fortalecer a indústria automobilística. Seu novo cargo gera expectativas sobre enfraquecimento regulatório e traz dúvidas sobre o futuro das políticas ambientais estadunidenses diante da crise climática global, por se tratar de interesses conflitantes em relação à posição que ele ocupará.
Histórico
Lee Zeldin é formado em Ciência Política pela Universidade Estadual de Nova York e obteve seu diploma em Direito na Albany Law School. Serviu como advogado militar e oficial de Inteligência do Exército dos Estados Unidos, o que moldou sua visão política, marcando sua postura firme em defesa das Forças Armadas e da segurança nacional. Sua vida familiar frequentemente aparece em seus discursos públicos, reforçando a imagem de político voltado para os valores conservadores.
Em seu tempo no Congresso, Zeldin foi membro da Comissão de Relações Exteriores da Câmara e da Comissão de Assuntos de Veteranos, alinhando-se ao Partido Republicano em temas econômicos e ambientais. Especificamente, em relação ao meio ambiente, Zeldin obteve uma das menores pontuações de desempenho, recebendo uma avaliação de apenas 14% da Liga de Eleitores pela Conservação, um grupo de conservação do meio ambiente. Esse índice baixíssimo significa que, durante seu tempo no Congresso, votou favoravelmente em apenas 14% das propostas e legislações que visavam à proteção ambiental, como iniciativas que buscavam limitar a emissão de gases de efeito estufa, promover o uso de energias renováveis e proteger áreas de recursos naturais. Em comparação, em 2022, a média de votação favorável entre os outros deputados foi de 52%.
Foi um dos membros da Câmara que se opuseram à Inflation Reduction Act (IRA), um pacote de medidas do governo Biden que inclui fortes investimentos em energias renováveis, redução de emissões de carbono e políticas voltadas para o combate à mudança climática. Também votou contra leis que visavam a combater a manipulação de preços por grandes empresas de petróleo e gás e contra a reforma que buscava aumentar o financiamento da EPA. Além disso, Zeldin expressou seu apoio à exploração de recursos energéticos nos EUA, como o fracking, criticando seu banimento em Nova York em 2022. O fracking (fraturamento hidráulico, em português) é uma técnica de extração de petróleo e gás natural que consiste em injetar uma mistura de água, areia e produtos químicos em alta pressão no subsolo para quebrar rochas e liberar os combustíveis presos em suas fissuras. No entanto, causa problemas ambientais significativos, como a contaminação dos lençóis freáticos, aumento da atividade sísmica e emissão de gases de efeito estufa.
(Arquivo) Um poço de fracking de gás natural perto de Shreveport, Louisiana, em 23 dez. 2013 (Crédito: Daniel Foster/Flickr)
A relação com Trump
Sua relação com Trump se fortaleceu durante a campanha presidencial de 2016, quando Zeldin se tornou um dos primeiros membros do Congresso a apoiar o então candidato publicamente. Ele, que na época era representante (deputado) por Nova York, alinhava-se com as ideias de Trump sobre imigração, segurança e economia. Zeldin defendeu Trump contra as acusações de assédio sexual, alegando que essas denúncias faziam parte de um ataque político. Manteve-lhe apoio incondicional, especialmente em questões como a construção do muro na fronteira com o México, a política de imigração mais rigorosa e o posicionamento contra acordos internacionais, como o Acordo de Paris sobre o clima. Sua postura enquanto congressista foi um dos motivos pelos quais ele foi visto como uma escolha natural para liderar a EPA no novo governo Trump, que seguirá com a agenda de desregulamentação.
Em 2019, Zeldin também foi um defensor firme de Trump durante o processo de impeachment. Votou contra as acusações de abuso de poder e obstrução do Congresso, alegando que Trump não havia cometido nenhum crime grave. Esse apoio consolidou sua posição como um aliado leal, especialmente dentro da ala mais conservadora do Partido Republicano. Em 2020, Zeldin continuou a se alinhar com Trump, apoiando suas alegações infundadas de fraude eleitoral nas eleições presidenciais. Para Zeldin, Trump representa não só uma liderança política, mas também um exemplo de valores conservadores e de políticas que ele acredita serem essenciais para a recuperação econômica e a segurança dos Estados Unidos.
As lideranças anteriores
A EPA é um órgão federal dos Estados Unidos, criado em 1970 pelo presidente Richard Nixon (1969-1974), com o objetivo principal de proteger o meio ambiente. Surgiu em resposta ao crescente movimento ambientalista da década de 1960, que alertava sobre os danos causados pela poluição e pela falta de regulamentação ambiental eficaz. Seu objetivo é garantir que as leis ambientais sejam cumpridas, estabelecer normas para controlar poluentes e promover a sustentabilidade. A agência é responsável por uma ampla gama de atividades, como monitorar a qualidade do ar e da água, regular o uso de produtos químicos, gerenciar resíduos tóxicos, além de realizar pesquisas científicas para apoiar políticas públicas.
- William Ruckelshaus (1970-1973; 1983-1985)
William Ruckelshaus foi o primeiro administrador da EPA. Liderou a agência no momento de sua criação e ajudou a estabelecer os primeiros padrões de poluição, especialmente no que diz respeito à qualidade do ar e da água. Ele também foi responsável por proteger a legislação ambiental, garantindo que a EPA cumprisse sua missão de proteger a saúde pública e o meio ambiente. Durante o governo de Nixon, resistiu a pressões políticas e manteve sua posição em defesa de regulamentações ambientais.
Ruckelshaus foi chamado novamente para liderar a EPA em 1983, no governo de Ronald Reagan (1981-1989). Embora Reagan tenha sido mais favorável à desregulamentação, Ruckelshaus manteve a EPA firme em sua missão de proteger o meio ambiente, mesmo com o foco na redução de regulamentações. Ele não adotou uma postura antiambientalista, como alguns de seus sucessores, mas teve de lidar com o crescente movimento político a favor da desregulamentação.
(Arquivo) William Ruckelshaus, primeiro administrador da EPA, em maio de 1972 (Crédito: Charles O’Rear/U.S. National Archives’ Local Identifier: 412-DA-6628)
- Anne Gorsuch Burford (1981-1983)
Anne Gorsuch Burford, também nomeada por Reagan, foi uma das administradoras mais controversas. Ela liderou a agência com foco na redução das regulamentações ambientais, alinhando-se com a política mais conservadora do presidente. Durante seu tempo à frente da EPA, Burford tentou enfraquecer a aplicação das leis ambientais e mostrou postura favorável às indústrias. Sua gestão foi marcada pela tentativa de cortar custos e minimizar o impacto das regulamentações, o que gerou muitos conflitos com membros do Congresso.
- Lisa Jackson (2009-2013)
Nomeada por Barack Obama, Lisa Jackson ficou conhecida por sua postura firme na defesa das leis ambientais, principalmente no combate à mudança climática. Durante sua gestão, ela ajudou a estabelecer a primeira regulamentação federal para a emissão de gases de efeito estufa de veículos e usinas de energia, além de implementar o programa Fuel Economy Standards (“Padrões de economia de combustível”, em tradução literal) para reduzir as emissões dos carros.
- Scott Pruitt (2017-2018)
Scott Pruitt foi nomeado por Donald Trump para liderar a EPA, com a missão de reformular a agência e reduzir as regulamentações ambientais.Ex-procurador-geral de Oklahoma e crítico das regulamentações ambientais, Pruitt foi uma escolha alinhada com a agenda de Trump de promover o crescimento econômico, muitas vezes em detrimento da proteção ambiental. Durante sua gestão, revogou diversas regulamentações sobre emissões de gases de efeito estufa, normas para o controle da poluição da água e outras leis ambientais. Pruitt também era muito próximo das indústrias que ele deveria regular, o que gerou suspeitas de conflitos de interesse. Acabou renunciando ao cargo.
(Arquivo) Scott Pruitt, então administrador da Agência de Proteção Ambiental, na Conferência de Ação Política Conservadora (CPAC), em National Harbor, Maryland, em 25 fev. 2017 (Crédito: Gage Skidmore/Flickr)
- Andrew Wheeler (2018-2021)
Andrew Wheeler, também nomeado por Donald Trump, substituiu Pruitt. Lobista da indústria de carvão, Wheeler continuou a agenda de desregulamentação de Pruitt e focou em reduzir as regulamentações ambientais, especialmente no setor de energia. Sob sua liderança, a EPA revogou muitas das normas criadas durante a administração de Obama, incluindo as regulamentações de emissões de carbono e a política de combate à mudança climática.
- Michael Regan (2021-presente)
Michael Regan foi nomeado por Joe Biden para liderar a EPA e tem-se concentrado no combate à mudança climática, na promoção da justiça ambiental e na restauração das regulamentações que foram desfeitas durante ogoverno Trump. Durante sua gestão, tem trabalhado para reforçar as regulamentações ambientais, combater a poluição e avançar em políticas de energia limpa. Também tem focado em lidar com as disparidades raciais e econômicas na exposição a poluentes e outros danos ambientais.
Perspectivas para a nova gestão
Com base em suas políticas anteriores, Zeldin, como próximo líder da instituição, deve priorizar a flexibilização das regulamentações ambientais que limitam as emissões de carbono, enfraquecer as normas de qualidade do ar e da água e reduzir a proteção de áreas protegidas, o que deverá beneficiar setores como o de combustíveis fósseis, mineração, agricultura e indústria. Sua postura contrária ao incentivo de fontes de energia renováveis, como solar e eólica, também irá resultar em um retrocesso na transição para um futuro de energia limpa. Seus apoiadores veem a escolha como uma oportunidade para fortalecer a economia, reduzir as restrições impostas às empresas e promover a “dominância energética” dos Estados Unidos. Sua visão é focada em impulsionar a prosperidade econômica, com a promessa de restaurar a liderança global do país no setor automobilístico e em Inteligência Artificial. Enquanto tenta flexibilizar essas regulamentações, Zeldin também terá de lidar com a dificuldade de retirar investimentos substanciais do governo federal, como os bilhões alocados pela gestão anterior, que financiam iniciativas de energia limpa e infraestrutura ambiental.
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* Kayla Arnoni Vertematti Baptista é graduanda em Relações Internacionais pela Universidade Anhembi Morumbi e aluna participante da UC Dual em parceria com o OPEU. Contato: kaylavertematti@gmail.com.
* Primeira revisão: Simone Gondim. Contato: simone.gondim.jornalista@gmail.com. Segunda revisão e edição final: Tatiana Teixeira. Primeira versão recebida em 17 dez. 2024. Este conteúdo não reflete, necessariamente, a opinião do OPEU, ou do INCT-INEU.
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