Capitão América: símbolo de ‘soft power’ na era da cultura pop americana
Crédito: Marvel.com
Por Andy Mickelly Canovas Lima* [Informe OPEU] [Soft power]
Com seu escudo icônico e de uniforme azul, o papel do Capitão América vai além de apenas um super-herói. Ele é um ícone cultural que está ligado ao conceito de soft power na era da cultura pop. Desde sua primeira aparição, em 1941, ele não apenas combate vilões, mas também é a personificação dos valores americanos, promovendo uma narrativa disseminada tanto por terras nacionais quanto internacionais, no sentido de liderança e de mediador de conflitos em todo o globo.
Introduzido por Joseph Nye, o conceito de soft power se refere à capacidade de um país de influenciar outros por meio da atração e da persuasão, em uma forma pacífica de obter influência com Estados menos desenvolvidos. A cultura pop americana, que inclui música, cinema etc., é uma das principais ferramentas de soft power dos Estados Unidos, sendo responsável pela elaboração da percepção global do país, com impacto em diferentes culturas ao redor do mundo.
Logo observamos, na narrativa das histórias em quadrinhos e até mesmo nos filmes do herói, a caracterização de um “superamericano”, que ajuda a propagar a imagem dos Estados Unidos como um defensor da liberdade e da luta contra a opressão, moldando percepções internacionais. Nos quadrinhos e nos filmes, o Capitão América frequentemente atua como um símbolo da paz, promovendo soluções diplomáticas. Essa abordagem anda de “mãos dadas” com o soft power, que reforça a construção de relacionamentos e a resolução de conflitos mediante o diálogo. Sem contar que é uma figura de liderança, como vemos nos filmes “Os Vingadores” (2012) e “Vingadores: Era de Ultron” (2015).
Assista ao trailer oficial de ‘Os Vingadores’ (Fonte: canal da Marvel Brasil no YouTube)
Com base em estudos realizados pela Organização para a Educação, a Ciência e a Cultura das Nações Unidas (Unesco, na sigla em inglês), os EUA vêm exportando sete vezes mais programas de televisão do que o maior exportador (Inglaterra) até a década de 1990 e tiveram uma única rede global para distribuição de filmes. Além de exportarem maciçamente programas de televisão, tinham uma infraestrutura exclusiva para a distribuição de filmes ao redor do mundo, sendo responsáveis por uma rede de cinemas, estúdios e canais de televisão, o que facilita a exibição de seus filmes em diversos países, contando com a presença de legendas e dublagens para tornar-se mais acessível a todo o globo também. Reforça-se, ainda, que o idioma americano se tornou a língua franca da economia global, como menciona Nye no livro Soft Power: The Means to Success in World Politics (PublicAffairs, 2004, p. 169).
Os produtos da cultura pop, especificamente os do Capitão América, promovem um diálogo cultural. Quando os espectadores se conectam emocionalmente com os valores do personagem, isso pode levar a uma maior aceitação dos Estados Unidos, promovendo a imagem do país como um defensor de valores que muitos compartilham, e despertando o sentimento de empatia, principalmente.
Os filmes do Capitão América são exemplo desta prática, uma vez que o personagem representa os interesses do seu país. Nota-se que, em alguns momentos dos filmes, quando ele veste o traje, cujas cores são as mesmas da bandeira dos Estados Unidos, ele deixa de ser apenas o Steve Rogers para representar o próprio país, e ser a voz ativa do mesmo.
Ademais, repara-se, em diversas cenas, a alusão do Soldado Invernal à URSS, como, por exemplo, a estrela vermelha do braço esquerdo do vilão, assim como o idioma russo falado por ele, além de seu traje, nas cores preta e vermelha que remetem à violência. Percebe-se ainda que, em todo filme da franquia, o Capitão América se defende do vilão e, em nenhum momento, ataca-o realmente. Afinal, os “mocinhos” não atacam, apenas se defendem, ou seja, os Estados Unidos se defendem dos ataques da URSS.
Assista ao trailer oficial de ‘Capitão América 2: o Soldado Invernal’ (Fonte: canal da Marvel no YouTube)
A Indústria Cultural tem sido uma ferramenta essencial na criação (e na manutenção) da imagem positiva dos Estados Unidos em nível global, com os filmes produzidos em Hollywood liderando o consumo mundial. Ela representa a forma mais evidente do poder brando dos EUA. Nesse sentido, a conversão da cultura em produtos padronizados, prontos para o consumo imediato, tornou-se o meio perfeito para propagar esse poder sutilmente. Nesse cenário, é fundamental que se realizem mais pesquisas sobre o poder brando transmitido pelos filmes americanos, para que o público se torne mais consciente da influência e da manipulação presentes nessas produções. O objetivo é que os espectadores passem a analisar os filmes de forma mais reflexiva, questionando e resistindo ao que é imposto, mesmo que aparentemente sem sê-lo.
* Andy Mickelly Canovas Lima é graduanda do sétimo semestre do curso de Relações Internacionais da Universidade Anhembi Morumbi e aluna participante do projeto de extensão da referida instituição em parceria com o OPEU. Contato: andy-canovas@hotmail.com
** Revisão e edição final: Tatiana Teixeira. Primeira versão recebida em 14 nov. 2024. Este Informe OPEU não reflete, necessariamente, a opinião do OPEU, ou do INCT-INEU.
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