Os SuperPACs pró-Trump
Logo do SuperPAC Building America’s Future, ligado do bilionário Elon Musk (Fonte: site de campanha de Trump/J.D. Vance)
Por Vitória Moreira Zambiazzi* [Informe OPEU] [Eleições 2024] [PACs] [Elon Musk] [Financiamento de campanha]
SuperPACs, ou Super Political Action Committees, é o nome designado para organizações criadas para a arrecadação de dinheiro como forma de impulsionar ou se opor à campanha eleitoral de um candidato, ou partido. A arrecadação chega de contribuições de empresas, corporações, indivíduos etc., e não tem um teto estabelecido.
Atualmente, existem 2.444 SuperPACs nos Estados Unidos, as quais já arrecadaram mais de US$ 3,7 bilhões e acumulam um gasto de mais de US$ 2,1 bilhões. O montante angariado está sendo utilizado majoritariamente para o favorecimento do Partido Republicano e também em oposição aos democratas.
Fonte: Elaboração da autora com base em informações do site opensecrets.org.
Building America’s Future
A organização política sem fins lucrativos Building America’s Future é fortemente financiada por doadores republicanos e, consequentemente, aparece como doadora para SuperPACs favoráveis ao Partido Republicano. Estes estão envolvidos em algumas das propagandas mais polêmicas desta campanha eleitoral, atacando Kamala Harris e apoiando Donald Trump.
Mais de US$ 100 milhões foram arrecadados e gastos nos últimos quatro anos pela organização. A expectativa é que o grupo tenha gasto mais de US$ 35 milhões, até o momento, para retirar o apoio liberal de grupos demográficos vitais a Harris. Do número total de 2.444 SuperPACs, cita-se a relevância do Duty to America PAC e da Future Coalition PAC. Ambos aparecem como beneficiários da organização política supracitada, recebendo o valor de cerca de US$ 16 milhões e US$ 3 milhões, respectivamente. Outra figura popular que consta como doador da organização Building America’s Future é o bilionário Elon Musk, uma força crescente no financiamento de iniciativas e candidatos republicanos, além da criação de seu próprio PAC em apoio à Trump, o America PAC.
Saiba mais sobre a relação entre Elon Musk e Trump neste episódio do Diálogos INEU (Fonte: canal do programa no YouTube)
Future Coalition PAC
O comitê foi formado em julho deste ano e tem como tesoureiro Ray Zaborney, um consultor político republicano baseado na Pensilvânia e fundador da empresa Red Maverick Media.
Outros nomes e instituições vinculadas ao PAC e a outras campanhas republicanas: Chain Bridge Bank e RightSide Compliance. Cabell Hobbs, de Austin, Texas, aparece como tesoureiro-assistente e também ocupou cargos semelhantes em outras iniciativas republicanas, como a própria Duty to America PAC.
Esse PAC tem como alvo residentes de Michigan, um dos disputados swing states do atual ciclo eleitoral, onde vivem muitos muçulmanos e árabes estadunidenses. Por meio do financiamento de anúncios em plataformas como YouTube e Snapchat, o PAC ressalta o apoio de Kamala Harris a Israel e, em alguns casos, a fé judaica de seu marido, Douglas Emhoff.
De forma controversa, o PAC também financia outros anúncios nessas mesmas plataformas em regiões da Pensilvânia, outro estado crucial para o resultado da eleição presidencial de 2024, onde se encontram muitos eleitores judeus. Neles, recorre ao discurso contrário, colocando Kamala Harris como opositora de Israel, conforme as imagens abaixo, referentes a anúncios publicados na plataforma Snapchat:
Fonte: 404media.
Outra questão do PAC é seu foco significativo nos eleitores jovens do sexo masculino e também nos eleitores negros, na expectativa de influenciá-los a votar em Donald Trump. Isso se tornou uma grande preocupação para a campanha democrata, pois, de acordo com uma pesquisa realizada em setembro pela NAACP (Associação Nacional para o Progresso de Pessoas de Cor) e noticiada por outros veículos, mais de um quarto dos jovens negros dizem que pretendem apoiar Trump na corrida eleitoral.
O PAC também veiculou mais de 300 anúncios na plataforma Snapchat, sendo muitos deles sobre políticas de banimento de cigarros mentolados. Os cigarros mentolados nos Estados Unidos são desproporcionalmente mais consumidos por pessoas negras e têm sido historicamente comercializados em grande escala pela Big Tobacco, com foco nas comunidades afrodescendentes do país. Como se afirma em um vídeo publicado pela conta do Building America’s Future (que também financia o Future Coalition PAC) no Facebook: “Com tanto caos em nosso país e tantas preocupações, deve ser difícil para nossos líderes se concentrarem em tantos problemas. Então, qual é a solução em Washington, D.C.? Ignorar todos eles e se concentrar em outra coisa. Banir os cigarros mentolados”, diz o anúncio. “Os democratas estão se concentrando em todas as coisas erradas, e isso fica evidente. Democratas, não proíbam nossos mentolados”.
Duty to America PAC
A Duty to America PAC apresentou sua declaração de organização à Comissão Eleitoral Federal (FEC, na sigla em inglês) em 25 de junho de 2024. O documento foi apresentado por Cabell Hobbs, cofundador e sócio-gerente da Compliance Consulting Company of Virginia. Ao se analisar os anúncios financiados pelo PAC no YouTube, observa-se que muitas peças focam, principalmente, no aumento dos preços e em como a juventude atual não tem condições financeiras de pagar compra/aluguel de imóveis, gasolina e alimentação, como as gerações anteriores. É o que se observa no vídeo abaixo:
Anúncio explora as dificuldades que as gerações mais novas enfrentam (Fonte: Canal do Duty to America PAC no YouTube)
Anúncios se destacam em campanha acirrada
Isso se destaca dentro de um cenário de disputa acirrada entre democratas e republicanos não somente na corrida presidencial, mas também nas eleições para a Câmara de Representantes e o Senado que ocorrem em paralelo e podem significar uma virada histórica no cenário legislativo do país. Em ambas as corridas, os democratas constam com uma arrecadação mais robusta e, especificamente no cenário presidencial, Harris – antes comitê de Joe Biden – arrecadou até o momento três vezes mais do que a campanha de Trump, com valores de US$ 997,2 milhões e US$ 388 milhões, respectivamente, considerando-se o total entre janeiro de 2023 e 16 de outubro de 2024.
No contexto dos SuperPACs, porém, Trump acaba garantindo maior vantagem em termos de dinheiro. De acordo com registros da FEC, os maiores SuperPACs de Trump estão recebendo mais do que os principais fundos de Harris: os dez principais SuperPACs que apoiam Trump arrecadaram, coletivamente, em torno de US$ 569,2 milhões desde o início do ciclo eleitoral de 2023, contra US$ 535,5 milhões angariados pelos dez principais PACs que apoiam Harris. Tais dados ressaltam a estratégia eleitoral de Trump, amplamente dependente de grupos externos para a prospecção de eleitores. Isso significa que SuperPACs como os supracitados e o apoio de bilionários como Elon Musk desempenham um papel de grande importância na atração de apoiadores de Trump, principalmente daqueles que costumam não votar nas eleições.
Em uma circunstância de corrida presidencial acirrada, a exemplo da ausência de vantagem considerável de um dos candidatos nos sete swing states deste ciclo eleitoral e da possibilidade de imprevisibilidade das pesquisas de intenção de voto (considerando-se o atual funcionamento do sistema eleitoral estadunidense), a utilização de todo tipo de artifícios promocionais, até os mais polêmicos, pode garantir uma diferença crucial no resultado da eleição presidencial que se aproxima.
* Vitória Moreira Zambiazzi é graduada em Relações Internacionais pela UFSC e vinculada ao grupo de pesquisa da UFSC sobre Coerção e Consenso: a política externa dos Estados Unidos para a América Latina. Contato: vitoriaazambiazzi@gmail.com.
** Revisão e edição: Tatiana Teixeira. Recebido em 24 out. 2024. Este Informe não reflete, necessariamente, a opinião do OPEU, ou do INCT-INEU.
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