Eleições

O Projeto 2025 e seus impactos na população latina dos Estados Unidos

Crédito da ilustração: Aïda Amer/Axios

Por Mayara Metodio Frota*, para Latino Observatory [Republicação] [Eleições 2024] [Latino Observatory]

De acordo com o Census do governo americano, cerca de 19% da população dos Estados Unidos era hispânica em 2023, o que equivale a praticamente 65 milhões de pessoas. Em um país de proporções continentais, essa estatística mostra uma expressividade dos latinos residindo no país, sendo esse grupo uma parcela fundamental para a economia e a política dos EUA. Contudo, a recente onda anti-imigratória e nacionalista está prometendo causar reveses à população, voltada para a população latina. Donald Trump e parte do Partido Republicano vêm-se mostrando cada mais incisivos contra a presença de indivíduos “Ilegais” no país, com o candidato e ex-presidente se mostrando favorável a realizar deportações em massa, caso retorne à Casa Branca.

Nesse âmbito, surge o radical “Projeto 2025”, documento elaborado por lideranças e instituições conservadoras que tem o objetivo de guiar as ações para a próxima gestão republicana, contexto que pode recair sobre os latinos. Desta maneira, o que seria esse projeto e quais seriam seus impactos sobre os latinos vivendo nos Estados Unidos?

Segundo o “The Latin Times”, o Projeto 2025 foi definido como um projeto de transição presidencial pelo seu próprio site. Estabelece consigo quatro objetivos políticos principais: “restaurar a família como a peça central da vida americana, desmantelar o estado administrativo, defender a soberania e as fronteiras da nação e garantir os direitos individuais dados por Deus para viver livremente”. Esse projeto é apoiado por mais de 100 organizações conservadoras com o objetivo, segundo eles, de derrubar o estado profundo e devolver o governo ao povo.

Mas o que isso tem a ver com os latinos?

How the 2024 Trump Campaign and Project 2025 Are Connected

Crédito: Ilustração: Intelligencer; Foto: The Heritage Foundation

Ele está sendo organizado pela The Heritage Foundation e se baseia no “Mandato de Liderança”, segundo o próprio site. Seu objetivo é um livro com um “menu” de sugestões políticas, como defender a fronteira, deportar estrangeiros ilegais, terminar de construir o muro, entre outras diversas questões. Segundo o site do projeto, o governo Trump “confiou fortemente no ‘mandato’ da Heritage para orientação política, adotando quase dois terços das propostas da Heritage em apenas um ano no cargo”. Paul Dans, ex-chefe de gabinete do Escritório de Gestão de Pessoal (OPM) durante o governo Trump, atua como diretor do Projeto de Transição Presidencial de 2025. Spencer Chretien, ex-assistente especial do presidente e diretor associado do Pessoal Presidencial, atua como diretor associado do projeto.

Apesar disso, Trump tenta se opor ao Projeto 2025 e, em um post da Truth Social, declarou: “Não sei nada sobre o Projeto 2025. Não tenho ideia de quem está por trás dele. Discordo de algumas coisas que eles estão dizendo e algumas das coisas que eles estão dizendo são absolutamente ridículas e abismais. Desejo-lhes sorte em tudo o que fizerem, mas não tenho nada a ver com eles” (tradução livre). Mas, como dito anteriormente, muitos de seus principais aliados estiveram envolvidos na produção do projeto. Muitas das organizações conservadoras são lideradas por aliados próximos de Trump, segundo a NBC News, como: Turning Point USA, Center for Renewing America, Claremont Institute, Family Policy Alliance, Family Research Council, Moms for Liberty e America First Legal – o último é liderado por Stephen Miller, um dos principais ex-conselheiros de Trump. Além disso, ex-funcionários do governo Trump foram diretamente afiliados ao Projeto 2025, incluindo o ex-diretor do Escritório de Administração e Orçamento e atual diretor de Políticas da plataforma do Comitê Nacional Republicano, Russ Vought, o ex-secretário de Defesa interino Christopher Miller, o ex-secretário de Habitação e Desenvolvimento Urbano Ben Carson, o ex-vice-chefe de gabinete Rick Dearborn e o ex-conselheiro sênior do Departamento de Justiça Gene Hamilton.

O RNC adotou este mês sua plataforma política oficial para o ciclo eleitoral de 2024, um documento que é menos conservador do que o manual do Projeto 2025 – inclusive em questões-chave como o aborto –, e rompeu com questões sobre comércio e direitos. Segundo a BBC, Paul Dans renunciou a seu cargo na Heritage Foundation e, em um comunicado, afirmou que deixaria seu cargo como chefe do Projeto de Transição Presidencial de 2025 em agosto. Segundo ele, vai-se concentrar em levar Donald Trump de volta à Casa Branca e “direcionar todos os meus esforços para vencer, em grande parte!”. Mas esse fator, não torna as coisas mais simples para Trump, visto que, segundo a NBC News, Dans e membros de sua equipe estiveram sempre próximos às campanhas primárias republicanas e, após o vencimento das primárias do Partido, o contrato continuou. Groves, que ajudou a montar a estrutura política do Projeto 2025, disse: “Eu entendo de política. Eu entendo a política de campanha. O presidente só disse o que é verdade. Não é o projeto dele. E não é”. Ele, que também fez parte da transição de Trump em 2016, continuou: “A campanha de Trump está focada no que precisa ser focado, que é vencer a corrida. E o projeto vai continuar” (tradução livre).

Groves pediu aos críticos que dessem um passo para trás, mesmo reconhecendo esse limite. “O projeto não é um tomador de decisões”, disse ele. “Estamos no meio de um ciclo eleitoral volátil. Estamos todos no mesmo time e não devemos perder isso de vista. Nós, como conservadores, devemos nos unir em torno da mesma agenda”.

Nuestro Equipo

Yadira Sánchez (Fonte: site institucional)

A maioria dos eleitores latinos não entende a dimensão desse projeto e no que isso pode afetá-los. Segundo a NBC News, contudo, alguns grupos – sendo a maioria de esquerda ou progressistas – estão se unindo para lançar uma campanha bilíngue, condenando o Projeto 2025 e suas questões como educação, acesso à saúde, direitos reprodutivos, mudanças climáticas e imigração, bem como empregos e direitos trabalhistas. A campanha se chamará “Defendiendo Nuestro Futuro, Latinos Against Project 2025”. Yadira Sánchez, diretora-executiva da organização de engajamento cívico latino “Poder Latinx”, disse que sua organização fala com cerca de 200 pessoas semanalmente para envolver os eleitores latinos em seis estados e estimou que menos de 20% sabem o que é o Projeto 2025, sendo parte disso o fato de haver pouca informação sobre o projeto em espanhol.

Importante ressaltar algumas propostas como a eliminação do Departamento de Educação dos EUA, que influenciaria muito a comunidade latina, visto que a educação ajuda a quebrar o ciclo da pobreza. Outra característica é a deportação em massa de imigrantes indocumentados, promessa frequente da campanha de Trump e que pode afetar um grupo estimado em 11 milhões de pessoas, sendo que, desse grupo, quatro milhões de imigrantes sem documentação têm origem mexicana.

Mas, afinal, como é a política de imigração hoje em dia? Segundo o American Immigration Council: “A lei de imigração dos Estados Unidos é baseada nos seguintes princípios: a reunificação das famílias, a admissão de imigrantes com habilidades valiosas para a economia dos EUA, proteções humanitárias e promoção da diversidade”. A Lei que rege a política de imigração é a Lei de Imigração e Nacionalidade (INA). São várias as condições para um imigrante conseguir a cidadania de fato. Os refugiados, por exemplo, são admitidos conforme sua incapacidade de voltar ao país de origem por causa de um “medo bem fundamentado de perseguição”, devido à sua raça, pertencimento a um determinado grupo social, opinião política, religião ou origem nacional. Anualmente, o presidente, em consulta ao Congresso, determina o teto para a admissão desses refugiados, sendo o de 2024 de 125.000 admissões divididas por região. Sua admissão também depende de vários fatores, como o grau de risco que eles enfrentam, a participação em um grupo que é de especial interesse para os Estados Unidos (determinado pelo presidente e Congresso) e se eles têm ou não familiares no país. Por isso, há várias categorias e burocracias para determinar se uma pessoa pode ou não migrar para os EUA, tornando difícil seu acesso. Com as possíveis novas políticas do Projeto 2025, as admissões se tornarão muito mais restritas, visto que o teto de admissões será menor.

Desta forma, é possível denotar a orientação de impactos profundos do Projeto 2025 em relação à população latina, caso ele seja implementado pela próxima gestão do Partido Republicano. Entre adotar as medidas do Trumpismo e exacerbar o conservadorismo no país, fica evidente como diversos grupos serão afetados, em especial, os latinos. Por isso, alertar a população latina sobre os impactos desse projeto se torna de suma importância, visto que muitos não têm conhecimento de sua dimensão e impactos.

 

* Mayara Metodio Frota é graduanda em Relações Internacionais (Unesp) e bolsista PIBIC no Latino Observatory. Contato: mayara.frota@outlook.com.

** Publicado originalmente no site Latino Observatory, em 7 out. 2024. Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião do OPEU, ou do INCT-INEU.

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