Há esperança para os democratas no Cinturão do Sol?
Kamala Harris, vice-presidente dos Estados Unidos, em comício de campanha na Desert Diamond Arena, em Glendale, Arizona, em 9 ago. 2024 (Crédito: Gage Skidmore/Creative Commons)
Por Débora Binatti* [Informe OPEU] [Eleições 2024]
Vantagens organizacionais em estados do Cinturão do Sol, como Arizona e Nevada, podem dar uma margem para Kamala Harris que as pesquisas não computam, é o que afirma Sasha Abramsky em seu texto para a revista semanal The Nation, de 27 de setembro.
A atual vice-presidente e candidata democrata nestas eleições, Kamala Harris, abre vantagem sobre o ex-presidente Donald Trump referente ao único colégio eleitoral de Eastern Nebraska, a região leste, a mais populosa do referido estado, de acordo com a pesquisa realizada pelo The New York Times e Siena College. A mesma pesquisa indica que Harris não só colocou em disputa os estados do Cinturão do Sol, como abriu uma diferença que se estende para além do atual empate técnico no Arizona. Nessa conjuntura, pode-se destacar os estados de Carolina do Norte, Nevada e Geórgia, revertendo o quadro anterior – em que a vantagem de Trump sobre Joe Biden era maior do que quase dois dígitos.
A pesquisa do The New York Times faz-se relevante, devido à importância da região em si. O Cinturão do Sol, no inglês Sun Belt, consiste no grupo de estados do Sul e Sudoeste, todos abaixo do 36° paralelo, que apresentou grande crescimento econômico e demográfico nos últimos anos. São estados etnicamente diversos, com um clima mais quente do que o norte do país. Fazem parte da região Alabama, Arizona, Flórida, Geórgia, Louisiana, Mississippi, Novo México, Carolina do Sul, Texas, Califórnia, assim como o sul do Arkansas, Carolina do Norte, Nevada, Oklahoma, Tennessee e Utah. O termo foi cunhado pelo autor Kevin Phillips, aparecendo pela primeira vez em seu livro The Emerging Republican Majority, publicado em 1969 pela Princeton University Press.
De maneira geral, a região é mais alinhada às políticas conservadoras, especialmente quando comparada a outras do país. Ressalta-se, também, que a região abarca alguns dos conhecidos como swing states, isto é, os estados em que tanto democratas como republicanos têm proporções eleitorais semelhantes. Sem uma clara maioria definida, são, portanto, importantes para definir o resultado das eleições, como Arizona e Geórgia. Dessa forma, este quadro de ascensão de Harris no Cinturão do Sol é preocupante para a campanha republicana, que precisará mover fundos para a região que antes parecia mais consolidada.
A pesquisa do The New York Times/Siena College representa uma melhora significativa para os democratas a partir da mudança de candidatura. Se em maio, com Biden à frente da campanha, Trump liderava por 50% contra 41% no Arizona, na Geórgia e em Nevada, com Harris há mudanças. Na Geórgia (50% contra 46%) e Nevada (48% contra 47%) Trump mantém a posição. Isso se dá, no entanto, junto com o crescimento de Harris. É importante ressaltar que a dianteira de Trump é menor que 5 pontos percentuais, o que pode se categorizar simplesmente em erro de amostragem. Na Carolina do Norte, Harris tem leve vantagem (49% a 47%), assim como no Arizona (50% a 45%). As pesquisas do New York Times/Siena College foram realizadas de 17 a 21 de setembro, entrevistando 713 eleitores no Arizona, 682 eleitores na Geórgia e 682 eleitores na Carolina do Norte, tendo margem de erro de mais ou menos 4,4 pontos percentuais no Arizona, mais ou menos 4,6 pontos percentuais na Geórgia e mais ou menos 4,2 pontos percentuais na Carolina do Norte, como detalha o site de análises POLITICO.
Cinturão do Sol, em vermelho (Fonte: Wikipedia/Creative Commons)
Kamala, dessa forma, parece estar obtendo sucesso em consolidar uma parcela substantiva da base democrata que não confiava em Biden como candidato, além de se aproximar de eleitores independentes. Demograficamente, esses eleitores são especialmente mais jovens, racializados e mulheres.
Os eleitores do Cinturão do Sol, ao participar da pesquisa, expressaram muita preocupação com a economia nacional, o aborto, a imigração e a direção do país como um todo. Há um descontentamento geral com ambos os candidatos, com 50% considerando Trump, e 51% considerando Harris, como um pouco ou muito desfavorável. Enquanto ambas as campanhas de Harris e Trump estão visando agressivamente aos swings states, por entender a centralidade desses estados para o resultado das eleições, a insatisfação da nação continua crescendo. Põe-se, então, a dúvida: com 76% da população desgostosa com suas próprias vidas, como se constrói uma campanha presidencial no país do sonho americano?
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* Débora Magalhães Binatti é graduanda em Relações Internacionais pela Instituto de Relações Internacionais e Defesa da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IRID/UFRJ), bolsista de Iniciação Científica do INCT-INEU/OPEU (PIBIC/CNPq) e escritora. Contato: dmfcbinatti@gmail.com. Twitter: @debs_binatti. Instagram: @debs_binatti.
** Revisão e edição final: Tatiana Teixeira. Primeira versão recebida em 1º out. 2024. Este Informe não reflete, necessariamente, a opinião do OPEU, ou do INCT-INEU.
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