Eleições

Kamala antes de ser candidata Harris

(Arquivo) Procuradora-Geral Kamala Harris anuncia a conclusão da Operação Zona Vermelha, na qual 16 agências locais, estaduais e federais prenderam 101 membros de gangues nos condados de Madera e Merced, em Los Banos, 8 jun. 2011 (Crédito: Gabinete da Procuradoria Geral da Califórnia)

Por Débora Binatti* [Informe OPEU]

Donald Harris era apenas um estudante jamaicano que imigrou para os Estados Unidos a fim de concluir seu doutorado na Universidade da Califórnia, Berkeley, quando conheceu Shyamala Gopalan Harris, que tinha acabado de sair do seu país natal, a Índia, em busca do sonho americano e de um diploma em bioquímica. Pode-se dizer que a história da vice-presidente de Joe Biden e agora candidata à presidência pelos democratas começou assim, com um casal de universitários imigrantes se conhecendo na Califórnia, tentando ganhar a vida no estrangeiro. O que mudou até se tornar a candidata que está partindo para a ofensiva em direção a Donald Trump no que se refere à temática de imigração?

Em sua autobiografia, The Truths We Hold (Penguin Books, 2019), descreve a rede CNN, Harris menciona que seus pais “se conheceram e se apaixonaram em Berkeley enquanto ambos participavam do movimento pelos direitos civis”, mas depois o casal se divorciou, sendo a mãe de Harris a responsável por “transformar-nos [Harris e a irmã, Maya] nas mulheres que nos tornaríamos”. A criação de Shyamala Gopalan Harris ensinou as filhas a terem orgulho de sua herança cultural, tanto da Índia como da Jamaica.

An Excerpt from The Truths We Hold by Kamala Harris | Penguin Random HouseSite da Penguin disponibiliza trecho da obra

Tal criação levou a pequena Kamala a trilhar um caminho acadêmico, começando pela Universidade de Howard, em Washington, D.C., onde a candidata se graduou como bacharel em Ciência Política e Economia. Depois, na Universidade Hastings, na Califórnia, foi em busca de seu diploma em Direito, o que a levou à sua carreira como promotora. Foram três décadas como promotora até ser eleita procuradora do distrito de São Francisco, em 2004 e, em 2011, subir para a Procuradoria Geral do estado da Califórnia. Apenas em 2015 conheceríamos a Kamala Harris, política e candidata, que hoje concorre à presidência dos EUA.

Harris, promotora e procuradora

A carreira de Harris como promotora é cercada de críticas por ativistas, devido ao seu caráter punitivista e pelos encarceramentos em massa. Quando procuradora-geral da Califórnia, ela passou seu mandato ignorando e subvertendo uma decisão da Suprema Corte de 2011 que exigia que o estado reduzisse sua população carcerária. A posição quase levou à condenação do estado por desacato ao tribunal. Embora em diversos momentos a candidata tente descrever sua atuação penal como “inteligente no crime” e progressista, suas ações reportam o contrário: Harris como promotora e procuradora não era reformista.

Harris, política

Em 2015, Kamala Harris foi candidata dos democratas para o Senado estadunidense, buscando a vaga anteriormente ocupada pela também democrata Barbara Boxer. Durante a campanha para o Senado, Harris foi apoiada pelo, à época, presidente Barack Obama e pelo então vice Joe Biden. Ela foi a primeira mulher negra do estado da Califórnia e a segunda, nacionalmente, a ocupar uma cadeira na Câmara alta. Durante o tempo como senadora, Kamala Harris atuou no Comitê Judiciário do Senado, assim como no Comitê Seleto de Inteligência. Em 2019, lançou sua candidatura à Casa Branca.

Em 2020, Kamala começou com uma candidatura própria à presidência. Foi apenas depois do primeiro debate com Joe Biden, que seu nome foi cotado para compor a chapa do candidato, como sua vice. Assim, em 7 de novembro de 2020, Kamala é eleita vice-presidente dos EUA, sendo a primeira mulher e a primeira mulher negra a ocupar esse cargo.

Kamala Harris | U.S. Vice President Kamala Harris takes the … | Flickr(Arquivo) Kamala Harris presta juramento na posse como vice-presidente dos EUA, em 20 jan. 2021, em Washington, D.C. (Crédito: DoD/U.S. Air Force Senior Airman Kevin Tanenbaum/Flickr)

Já no cargo de vice-presidente, a imagem de Harris se tornou apagada, o que pode ser justificado pela natureza do cargo, que é, antes de tudo, um papel de suporte ao presidente do mandato. Durante o período de Joe Biden como presidente, Harris foi a face do governo de defesa dos direitos reprodutivos. Nessa área, destaca-se sua atuação em 2022, apelando aos eleitores com promessas de priorizar e proteger os direitos reprodutivos. Nos primeiros meses do mandato, Harris ainda esteve à frente da crise na fronteira entre os EUA e o México. Sua atuação foi alvo de críticas pelo atraso de sua primeira e única visita à área. Por fim, ao longo do governo Biden, Harris também liderou a missão do governo de codificar as proteções aos direitos de voto.

Harris, candidata

Na quinta-feira, dia 22 de agosto de 2024, o Partido Democrata dos Estados Unidos oficializou a vice-presidente Kamala Harris como candidata à presidência. Ela fará uma campanha curta, sem margem para erro. Kamala, decerto, não é Biden, e as próximas semanas determinarão se a menina filha de imigrantes, promotora, depois procuradora e agora candidata ao maior cargo político dos EUA será, ou não, a primeira mulher negra a ocupar a presidência da Casa Branca.

 

Conheça mais textos da autora no OPEU:

Informe “Dos bestsellers para a defesa do 6/1: quem é o escudeiro escolhido de Donald Trump?”, 22 ago. 2024

Informe “Materialismo dialético se faz moderno ao passo que a luta de classes se acirra nos EUA”, 22 mar. 2024

Informe “Biden diminui a pedra de Sísifo financeira de mais de 150.000 estudantes”, 9 mar. 2024

Informe “América esquece palavras de Mateus ao utilizar gás nitrogênio para pena capital”, 9 fev. 2024

Resenha crítica de ‘Great Powers and the US Foreign Policy towards Africa’, de Stephen Magu, 29 dez. 2023

Informe “Antony Blinken toca promessas em solos de guitarra”, 20 nov. 2023

Informe “Transfixação: dos pânicos morais à securitização”, 8 out. 2023

 

* Débora Magalhães Binatti é graduanda em Relações Internacionais pelo Instituto de Relações Internacionais e Defesa da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IRID/UFRJ), bolsista de Iniciação Científica do INCT-INEU/OPEU (PIBIC/CNPq) e escritora. Contato: dmfcbinatti@gmail.com.br Twitter: @debs_binatti. Instagram: @debs_binatti.

** Revisão e edição finais: Tatiana Teixeira. Recebido em 29 ago. de 2024. Este Informe não reflete, necessariamente, a opinião do OPEU, ou do INCT-INEU.

*** Sobre o OPEU, ou para contribuir com artigos, entrar em contato com a editora do OPEU, Tatiana Teixeira, no e-mail: tatianat19@hotmail.com. Sobre as nossas newsletters, para atendimento à imprensa, ou outros assuntos, entrar em contato com Tatiana Carlotti, no e-mail: tcarlotti@gmail.com.

 

Siga o OPEU no Instagram, Twitter, Linkedin e Facebook

e acompanhe nossas postagens diárias.

Comente, compartilhe, envie sugestões, faça parte da nossa comunidade.

Somos um observatório de pesquisa sobre os EUA,

com conteúdo semanal e gratuito, sem fins lucrativos.

Realização:
Apoio:

Conheça o projeto OPEU

O OPEU é um portal de notícias e um banco de dados dedicado ao acompanhamento da política doméstica e internacional dos EUA.

Ler mais