Eleições

Kamala não é Biden, mas também não é Obama

(Arquivo) Ex-presidente Barack Obama e a vice-presidente Kamala Harris em evento na Casa Branca, em Washington, D.C., em 5 abr. 2022 (Crédito: Casa Branca/Adam Schultz)

Analista recomenda cautela à euforia democrata

Por Tatiana Teixeira* [Informe OPEU]

Em artigo publicado no site The Liberal Patriot, em 1º de agosto, o analista Ruy Teixeira compara a coalizão política de apoio a Kamala Harris na atual corrida presidencial com a de Barack Obama, na campanha por sua reeleição em 2012, para mostrar o quanto o Partido Democrata mudou em pouco mais de uma década. Pretende, com isso, ilustrar o que ele vê como um equívoco dos democratas e que está na base da renovada esperança e euforia neste novo ciclo eleitoral. A coalizão de Kamala não é “Obama parte II”, nem o país, nem o contexto doméstico, nem os eleitores são os mesmos.

The Liberal Patriot with Ruy Teixeira | Podcast on SpotifySegundo análise de Teixeira, em 2012, Obama conseguiu conquistar distintas fatias do eleitorado. Ainda que tenha perdido espaço entre a classe trabalhadora branca e entre os brancos com formação universitária, teve o voto da maioria dos eleitores com formação universitária e da classe trabalhadora (sem diploma de ensino superior), assim como da classe trabalhadora não branca.

O primeiro ponto importante para entender o que difere um e outro momento é que, desde Obama, os democratas vêm perdendo, consistentemente, o apoio da classe trabalhadora e, mais especificamente, da classe trabalhadora branca. Assim foi com Hillary Clinton na campanha de 2016 contra Donald Trump; com Joe Biden, em 2020, também contra Trump; e por enquanto, com Kamala, contra o mesmo adversário republicano de seus antecessores. No caso do eleitor branco com formação universitária, deu-se o contrário nessa linha do tempo. Neste segmento, Kamala está em uma posição mais confortável em relação a Trump. Aqui, Ruy Teixeira destaca o aumento vertiginoso, desde Obama, da lacuna, em termos socioeconômicos, no apoio do eleitor branco ao partido. Os números e detalhes sobre as pesquisas usadas pelo analista se encontram na versão original do artigo.

Outra diferença marcante entre ambas as coalizões é em relação ao voto da classe trabalhadora não branca, um grande ativo de Obama. O mesmo não acontece com Kamala, que tem um desempenho melhor entre os eleitores não brancos com diploma de ensino superior. Ou seja, houve uma inversão das preferências e da adesão deste grupo ao partido. Além disso, considerando-se o voto não branco em geral, Kamala tem cerca de metade do apoio de Obama, em 2012.

Como afirma o analista, “… ninguém deve se iludir pensando que, mesmo que seja bem-sucedida, a coligação de Harris representará a segunda vinda da coligação de Obama. Em vez disso, é provável que seja uma versão mais polarizada em termos de classe da coligação democrata pós-Obama, com uma dependência ainda maior do voto dos universitários, em particular do voto dos universitários brancos”.

Ainda sobre o que distingue o passado e o presente, ele menciona uma estratégia de campanha e de arrecadação de fundos on-line que ecoa a política identitária característica da ala mais progressista da legenda e adverte: “Esta abordagem de agregação de identidades e de grupos de interesse para a organização e a construção de coligações é exatamente aquilo de que Obama queria se afastar”.

 

Conheça alguns dos textos da autora publicados no OPEU

Informe “Think tanks, lobbies e política nos EUA”, 6 jun. 2024

Informe “Colégio Eleitoral nos EUA: um sistema obsoleto que resiste à mudança dos tempos e da sociedade”, 28 de maio de 2024

Informe “Lula e Biden: uma relação com ganhos e (novos) limites para Brasil e EUA”, 11 fev. 2023

Informe “A carta de Biden”, 21 mar. 2021

Informe “O legado do senador republicano Mitch McConnell”, 30 out. 2020

Informe “Think tanks e política nas eleições de 2020 nos EUA”, 15 dez. 2019

Informe “A bilionária e feroz propaganda eleitoral nos EUA”, 17 nov. 2019

Informe “Think tanks americanos e a desigualdade de gênero”, 29 out. 2019

 

Tatiana Teixeira é pesquisadora de Pós-Doutorado (INCT-INEU/CNPq) e editora-chefe do Observatório Político dos Estados Unidos (OPEU). Contato: professoratatianateixeira@outlook.com.

** Este conteúdo não reflete, necessariamente, a opinião do OPEU, ou do INCT-INEU.

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