China e Rússia

Eurásia livre de ameaças é crucial para interesses dos EUA, diz analista republicano

“Estados Unidos da Eurásia” (Fonte: r/vexillology/Reddit)

Por Ana Thees* [Informe OPEU]

Seth Cropsey

Seth Cropsey (Fonte: Yorktown Institute)

Publicado em 23 de março de 2023 no site RealClear Defense, o artigo “America and the Idea of Eurasia”, de Seth Cropsey, tem como enfoque a vinculação da projeção de poder e de influência da região da Eurásia com a prosperidade dos Estados Unidos.

Nota-se que o texto se orienta pela visão geoestratégica cunhada por John Mackinder, geógrafo e político inglês responsável por desenvolver a “Teoria do Heartland”. Tal teoria assinala o papel essencial na balança de poder das grandes potências desempenhado pela região localizada no interior da Eurásia, composta por parte da Europa, Ásia e Oriente Médio. Vale mencionar que a análise associa a vitória estadunidense na Guerra Fria à fomentação das forças eurasianas contra a então URSS. A partir disso, o artigo chama a atenção para a necessidade de impedir que uma potência hostil aos EUA domine o território em questão.

Taiwan e Ucrânia são peças-chave para estabelecer uma Eurásia livre de ameaças aos interesses estadunidenses. O texto apresenta uma breve retrospectiva da guerra travada pela Rússia, visando a oferecer ao leitor uma perspectiva dos seus pontos altos e baixos. A partir dos destrinchamentos desses acontecimentos, indica-se os erros que culminaram na derrocada do avanço russo sobre o conflito e o motivo pelo qual não foram capazes de antevê-los.

Para o autor, a Rússia se viu “incentivada” a atacar, em vista de sua eficiente infiltração no sistema de estratégia e segurança ucraniano, da lenta reação por parte da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) aos movimentos na fronteira do país e da crença de que as sanções econômicas seriam as únicas respostas à empreitada militar russa. No entanto, um horizonte de condições supostamente favoráveis aos objetivos da Rússia levou o país a subestimar a “vitalidade estratégica ucraniana”, a qual foi capaz de resistir à ofensiva e organizar uma defesa decisiva.

Em seguida, Cropsey procurou transpor tais erros de cálculo, cometidos tanto pelo “Ocidente”, quanto pela Rússia, para a análise da tensão entre China e Taiwan. Afirma-se que, diferentemente de seu país vizinho, a China seria mais pragmática em suas ponderações quanto à declaração de uma guerra. O fator determinante que iria prevalecer para uma decisão belicosa viria de “sua capacidade percebida de vencer uma guerra com os EUA e seus aliados por causa de Taiwan”. Isso leva o autor a uma conclusão pujante quanto à postura ideal que os estadunidenses devem assumir nesse contexto: para deter a China, os EUA devem demonstrar força e poder, de modo a firmar a certeza de que sua vitória na guerra seria inevitável. Cabe ressaltar que o artigo não restringe os limites do possível conflito apenas aos entornos de Taiwan, mas sim pela vastidão da Eurásia. Portanto, os interesses em jogo nesse cenário se referem à defesa e à preservação da presença e do controle estadunidense sobre a região.

O Oriente Médio também entra na equação do êxito dos EUA. A região é importante em um cenário de guerra, pois é a ligação entre a Eurásia Ocidental e Oriental. O litoral do Oriente Médio abrange a rota marítima fundamental de Suez-Oceano Índico, o que significa que a estabilidade dessa região e desta via estão interdependentes. O autor do artigo considera o Irã como o principal obstáculo para as ambições estadunidenses, devido ao seu desenvolvimento de arsenal nuclear. Somando-se isso à capacidade militar de Rússia, China e Coreia do Norte, estaria formada uma “coalizão revisionista da Eurásia” capaz de vencer os EUA.

Middle East | History, Map, Countries, & Facts | BritannicaPaíses do Oriente Médio em destaque na cor mais clara (Fonte: Enciclopédia Britannica)

Cropsey acrescenta que a vitória ucraniana poderia contribuir para dissuadir uma potencial “autonomia estratégica” da Europa, o que levaria à consolidação dos interesses estadunidenses no continente. Vencer a guerra permitiria a adesão da Ucrânia à OTAN, o que legitimaria e fortaleceria a aliança militar liderada pelos Estados Unidos.

O artigo se encerra, reafirmando a necessidade de um engajamento robusto por parte dos EUA na região da Eurásia. O tipo de ordem ali estabelecida definirá os rumos da atual maior potência econômica e militar global.

O autor do texto é presidente do Yorktown Institute, um think tank republicano fundado por ele em 2022. Conforme informações de sua biografia disponíveis no site institucional, Seth Cropsey começou sua carreira como assistente do secretário de Defesa e, mais tarde, foi comissionado como oficial da Marinha. Serviu como subsecretário-adjunto da Marinha no governo de Ronald Reagan e secretário-adjunto interino de Defesa para Operações Especiais e Conflitos de Baixa Intensidade na administração de George H. W. Bush. Confirmado pelo Senado dos EUA, tornou-se diretor do US International Broadcasting Bureau no governo de George W. Bush.

 

No OPEU, a autora também publicou:

Informe “RAND Corporation e sua influência na política externa estadunidense”, em 15 de maio de 2024

Documento “Relatório da diplomacia dos EUA acusa China de buscar remodelar ambiente global da informação”, em 21 mar. 2024

 

Ana Thees é graduanda em Relações Internacionais pelo Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e bolsista de IC do INCT-INEU, sob supervisão e orientação do prof. Dr. Williams Gonçalves (Uerj/INCT-INEU). Contato: anathees241@gmail.com.

* Revisão e edição finais: Tatiana Teixeira. Primeira versão recebida em 15 de maio de 2024. Este Informe não reflete, necessariamente, a opinião do OPEU, ou do INCT-INEU.

*** Sobre o OPEU, ou para contribuir com artigos, entrar em contato com a editora do OPEU, Tatiana Teixeira, no e-mailtatianat19@hotmail.com. Sobre as nossas newsletters, para atendimento à imprensa, ou outros assuntos, entrar em contato com Tatiana Carlotti, no e-mailtcarlotti@gmail.com.

 

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