Sede do CFR, em Nova York (Fonte: site institucional)

Por Gabriel Antônio Barboza Ferreira* [Informe OPEU]

Sediado em Nova York e fundado em 1921, o Council on Foreign Relations (CFR) é um dos mais influentes think tanks dos Estados Unidos. A instituição é resultado indireto dos encontros de um grupo de pesquisadores e acadêmicos reunidos pelo então presidente Woodrow Wilson (1913-1921), em 1917, para discutir o cenário pós-guerra em que os Estados Unidos se encontrariam, com a iminente derrota da Alemanha.

As pesquisas do grupo em questão, conhecido como The Inquiry, formaram as bases para os Quatorze Pontos de Wilson, o discurso que enunciaria um programa para pôr fim à Primeira Guerra Mundial. A partir de 1918, os encontros entre os componentes do grupo ficaram mais frequentes, e as discussões sobre o papel dos Estados Unidos na construção da ordem internacional pós-guerra se aprofundaram, resultando na instituição Council on Foreign Relations, fundada na cidade de Nova York em 1921.

(Arquivo) Membros do grupo The Inquiry, na Conferência de Paz de Paris, em 1919 (da esq. para dir.): Charles Homer Haskins, Europa Ocidental; Isaiah Bowman, chefe de Inteligência Territorial; Sidney Edward Mezes, diretor; James Brown Scott, Direito Internacional; David Hunter Miller, Direito Internacional; (em pé) Charles Seymour, Áustria-Hungria; R. H. Lord, Polônia; William Linn Westermann, Ásia Ocidental; Mark Jefferson, Cartografia; Edward M. House; George Louis Beer, Colônias; DW Johnson, Geografia; Clive Day, Bálcãs; WE Lunt, Itália; James T. Shotwell, História; Allyn Abbott Young, Economia (Fonte: Wikipedia)

Atualmente, o CFR publica bimestralmente sua principal revista sobre política externa e assuntos internacionais, a Foreign Affairs, uma tribuna de acadêmicos e, sobretudo, ideólogos que costuma ser um bom termômetro da agenda de política externa de Washington.

Saiba mais no livro: Continuing the Inquiry: The Council on Foreign Relations from 1921 to 1996, de Peter Grose (Council on Foreign Relations Press, 2006)

Por mais que o think tank tenha surgido da ação de um presidente democrata, o CFR não mantém vínculos políticos ou recebe financiamento de nenhum partido ou governo dentro ou fora do Estados Unidos, o que mantém seu status de instituição sem fins lucrativos frente ao Internal Revenue Service – órgão responsável por fiscalizar e coletar impostos em nível federal.

Suas principais publicações envolvem Rússia e China, na tentativa de expor e denunciar os avanços do que entendem como um projeto de dominância global dos governos de Vladimir Putin e Xi Jinping, respectivamente.

Sobre o governo chinês, as acusações em forma de publicações ganham intensidade e densidade, concentrando-se, em especial, em uma suposta estratégia de expansão da presença chinesa nas universidades, em espaços acadêmicos e educacionais e em setores de informação e mídia. A preocupação dos pesquisadores do CFR reside nos grandes investimentos que o governo de Xi tem direcionado para o Instituto Confucius, para a agência de notícias estatal Xinhua e o canal China Global Television Network, e para as publicações do Global Times, uma extensão do jornal do Partido Comunista Chinês. A organização dessa constelação de aparatos midiáticos seria de responsabilidade do órgão de Inteligência do governo chinês United Front Work Department.

Entre os textos analisados, estão “China’s Influence on University Campuses”, “Beijing’s Campus Offensive” e “China’s Media and Infomation Warfare”, todos publicados em 2023 por Josh Kurlantzick.

Por mais que o think tank tenha preocupações com outros países e questões do internacional, como seus últimos textos sobre as tensões no Oriente Médio indicam, a China ainda protagoniza grande parte das recentes publicações na seção de política externa. Muitos dos escritos envolvendo o país, e o Leste Asiático como um todo, são assinados por Kurlantzick, membro sênior do CFR, que demonstra profundo interesse e preocupação com as ações da China em sua tentativa de disputar a hegemonia da região asiática. Kurlantzick é autor do livro Beijing’s Global Media Offensive: China’s Uneven Campaign To Influence Asia and the World (Oxford University Press, 2022), em que aprofunda suas reflexões – e advertências – sobre os esforços do país asiático na disputa por influência e dominância no Leste Asiático e no mundo.

Por muito tempo se discutiu a viabilidade de uma outra ordem internacional, em oposição à dominância dos Estados Unidos. Se considerarmos os think tanks efetivamente como um termômetro dos interesses, objetivos e preocupações da política externa de Washington, a recorrência da China nos textos e publicações do Council on Foreign Relations expõe a visível apreensão dos ideólogos da hegemonia estadunidense para com o gigante asiático, o que, de alguma maneira, pode indicar que os esforços da China em propor uma alternativa à ordem internacional vigente estão no caminho certo.

Conheça outros textos do autor no OPEU

Informe CSIS e a Rota da Seda Marítima: a criação da narrativa como ferramenta de política externa, de 15 mar. 2024

Informe RAND Corporation e a geopolítica marítima chinesa, de 26 nov. 2023

Informe Council on Foreign Relations e a presença chinesa na mídia e na universidade, de 5 out. 2023

* Gabriel Antônio Barboza Ferreira é graduando em Relações Internacionais pelo Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e bolsista de IC do INCT-INEU, orientado pelo prof. Williams Gonçalves (Uerj/INCT-INEU). Contato: gbuerjri@gmail.com.

** Revisão e edição finais: Tatiana Teixeira. Primeira versão recebida em 15 abr. 2024. Este Informe não reflete, necessariamente, a opinião do OPEU, ou do INCT-INEU.

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