China e Rússia

Em meio a crises internacionais e eleições, Biden faz breve menção à política com a China no SOTU 2024

Fonte: Casa Branca/Wikimedia

Por Yasmim Abril M. Reis* [Informe OPEU]

A política externa dos EUA com a China é um ponto de inflexão na política norte-americana há mais de 60 anos. Em outras palavras, a relação sino-americana tem sido conduzida por padrões de cooperação e de contenção desde a proclamação do Partido Comunista Chinês na China e, consequentemente, a criação da República Popular da China (RPC), em 1949. Nesse mesmo ano, os EUA romperam as relações diplomáticas com a China.

Sublinha-se aqui que, desde o fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), a política externa dos EUA estava direcionada para a Europa e para a reconstrução do respectivo continente devastado no Pós-Guerra. Frente a isso, compreende-se que os EUA não tiveram uma atuação direta no continente asiático, já que a política externa e de defesa norte-americana no período conhecido como Guerra Fria (1946-1991) foi o combate à ameaça comunista, sobretudo, da antiga República Soviética (URSS).

Diante disso, identifica-se que a relação entre EUA e China passa constantemente por padrão de cooperação e de contenção, variando de acordo com o governo em comando na Casa Branca a cada período e com o contexto geopolítico mundial. Dessa forma, observa-se que houve um ponto de inflexão entre a relação sino-americana durante o governo de Donald Trump (2017-2021), quando o então presidente foi mais radical com a China por meio dos seus atos discursivos, por exemplo, classificando o país como uma “potência revisionista”.

China no governo de Donald Trump: uma ameaça iminente à Segurança Nacional dos EUA

Trump, que atualmente tenta uma nova corrida eleitoral à Casa Branca, não foi o primeiro presidente crítico à política externa com a China. O que o diferencia dentro do histórico de seus antecessores é que Trump não fez uso dos meios diplomáticos e construtivos, de certa forma, para lidar com a China. Contrariamente, desde sua campanha eleitoral em 2016, o republicano conduziu um discurso por meio da agenda econômica de que a China tem sido a principal ameaça à estabilidade norte-americana e, consequentemente, do mundo.

Dessa forma, observou-se que Trump construiu uma retórica da China como potência inimiga dos EUA, algo muitos tons acima do entendimento anterior de adversária econômica. Com isso, Trump, durante seu governo, enfatizou que ele era a melhor opção para lidar com o gigante asiático.

Em 2020, porém, Trump não se reelege, abrindo caminho para o democrata Joe Biden. Apesar da mudança partidária, a visão em relação à China não teve mudança significativa, dado que o atual presidente, em seu Discurso do Estado da União (SOTU, na sigla em inglês) de 2023 e em sua Estratégia de Segurança Nacional (NSS, na sigla em inglês) de 2022 continuou a sinalizar a China como a potencial desestabilizadora do sistema internacional.

É importante ressaltar que o SOTU é um discurso anual proferido pelo presidente dos EUA para os membros do Congresso, com o objetivo de evidenciar as principais diretrizes políticas para o ano. Já a Estratégia de Segurança Nacional se refere às diretrizes políticas do governo para os próximos anos.

Frente a tantas crises internacionais, Biden apenas mencionou a relação com a China

Na última quinta-feira (7), o presidente Biden proferiu seu discurso anual ao Congresso norte-americano. Entre os temas citados, Biden fez menção às crises internacionais em andamento no cenário global. Dentre os temas, destaca-se a situação entre Israel e Gaza, a defesa da democracia, a questão migratória e uma breve menção à China. No que tange à China, Biden se restringiu a enfatizar seu crescimento no cenário global, mas retornando à retórica mais diplomática com o país. Em outras palavras, reconheceu o crescimento chinês, mas sublinhou que prefere a competição com a China do que o conflito. De forma concisa, portanto, em relação à política externa com a China, Biden se mostrou mais moderado.

SOTU 2024: Trecho em que Biden menciona a China e a competição com os EUA (Fonte: PBS News)

O dia foi marcado por protestos dos universitários contra a situação em Gaza. Não diferentemente, os republicanos reagiram ao discurso de Biden, afirmando que sua Presidência é uma liderança fracassada e que está colocando a liderança dos EUA no “caminho errado”. Em relação à reação da população, as pesquisas mostram muito eleitores insatisfeitos com as políticas domésticas do democrata, as quais têm impactado o âmbito externo, sobretudo, em temas econômicos. Diante disso, uma questão que pode ressoar nas eleições deste ano é se a China voltará aos discursos, ou se as demais crises contribuirão para mais uma mudança de padrão nas relações sino-americanas. Independentemente da resposta, o fato é que os Estados têm um grande desafio para conseguirem manter sua hegemonia e liderança ante a presença chinesa pelo mundo.

 

* Yasmim Abril M. Reis é doutoranda em Relações Internacionais no Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais San Tiago Dantas (UNESP/UNICAMP/PUC-SP), mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Segurança Internacional e Defesa da Escola Superior de Guerra (PPGSID/ESG), pesquisadora colaboradora no OPEU e vice-líder e assistente de pesquisa voluntária no Laboratório de Simulações e Cenários na linha de pesquisa de Biodefesa e Segurança Alimentar (LSC/EGN). Contato: reisabril@gmail.com.

** Revisão e edição finais: Tatiana Teixeira. Primeira versão recebida em 8 mar. 2024. Este Informe não reflete, necessariamente, a opinião do OPEU, ou do INCT-INEU.

** Sobre o OPEU, ou para contribuir com artigos, entrar em contato com a editora do OPEU, Tatiana Teixeira, no e-mailtatianat19@hotmail.com. Sobre as nossas newsletters, para atendimento à imprensa, ou outros assuntos, entrar em contato com Tatiana Carlotti, no e-mailtcarlotti@gmail.com.

 

Siga o OPEU no InstagramTwitterLinkedin e Facebook e acompanhe nossas postagens diárias.

Comente, compartilhe, envie sugestões, faça parte da nossa comunidade.

Somos um observatório de pesquisa sobre os EUA, com conteúdo semanal e gratuito, sem fins lucrativos.

Realização:
Apoio:

Conheça o projeto OPEU

O OPEU é um portal de notícias e um banco de dados dedicado ao acompanhamento da política doméstica e internacional dos EUA.

Ler mais