‘Tiros em Columbine’: reflexões sobre armas e violência nos Estados Unidos
Os atiradores Eric Harris e Dylan Klebold, durante o massacre de Columbine (Crédito: Imagem do próprio documentário)
Por Carolina Weber* [Resenha OPEU]
O documentário “Tiros em Columbine” (“Bowling for Columbine” no original), dirigido, roteirizado e protagonizado por Michael Moore em 2002, mergulha de forma perturbadora na realidade norte-americana, explorando o complexo e controverso tema do uso de armas. O filme lnça luz sobre uma série de eventos assustadores, incluindo o trágico massacre na Escola de Columbine, onde dois adolescentes, alunos da instituição, cometeram um ato de violência sem precedentes nos Estados Unidos. Por meio de uma narrativa envolvente, Moore revela as justificativas nem sempre plausíveis que permeiam o acesso e o uso de armas por diversas faixas etárias na sociedade norte-americana.
O documentário, agraciado com o Prêmio Especial de Cannes e o Oscar de Melhor Filme Documentário em 2003, além de registrar recordes de público nos EUA, Inglaterra e Austrália, despertou tanto admiração quanto rejeição, evidenciando a contundência de sua abordagem.
Iniciando com o massacre na Escola Columbine em 20 de abril de 1999, Michael Moore busca entender as raízes desse evento e a persistência dessa realidade nos Estados Unidos. Sua investigação vai além do episódio em Columbine, adentrando na estrutura violenta que permeia a sociedade norte-americana e apoiando-se em imagens reais de outros ataques e em entrevistas com sobreviventes.
Moore adota uma abordagem investigativa baseada em questionamentos, buscando possíveis responsáveis, incluindo prefeitos, presidentes, artistas, como Marilyn Manson, empresas que vendem armamentos e até mesmo os pais e a escola dos agressores. A dificuldade em encontrar respostas concretas leva-o a compreender a questão como parte de um sistema patriarcal e estrutural arraigado nos Estados Unidos, onde a compra de armas é uma prática predominantemente masculina, naturalizada e até mesmo facilitada.
Essa realidade contrasta significativamente com a de outros países, como o Canadá, que enfrenta desafios semelhantes, mas sem a mesma incidência de violência armada. Moore explora outros motivos possíveis, como a militarização da sociedade norte-americana, o racismo sistêmico que contribui para a sensação de insegurança e a relação violenta com os povos nativos do país. Nenhuma dessas explicações oferece, contudo, uma justificativa plausível para o massacre em Columbine, perpetrado por Eric Harris e Dylan Klebold, dois jovens desinformados e isolados.
O filme de Moore destaca, assim, uma lacuna na compreensão e na justificativa para a prevalência de armas nos Estados Unidos e para a violência que acompanha essa realidade, lançando um olhar crítico sobre as falhas estruturais e culturais que perpetuam esse ciclo de tragédias.
Trailer do documentário, com legenda em português
O documentário levanta questões relevantes sobre a cultura da venda de armas nos Estados Unidos, explorando porque é tão comum e naturalizado, quem compra armas, por que esse comportamento é incentivado e permitido, e quem é percebido como a principal ameaça que leva as pessoas a procurarem meios de autodefesa. Apesar de abordar essas questões de maneira incisiva, o documentário de Michael Moore não oferece respostas e justificativas plausíveis para muitas delas.
Ao final, o filme ressoa com questões que permanecem relevantes até os dias de hoje, especialmente diante dos contínuos massacres em escolas e em outras áreas, da persistência da venda de armas e das medidas paliativas adotadas. Sua mensagem ecoa não apenas na realidade dos Estados Unidos, mas também em outros países, destacando como essas questões impactam profundamente não apenas a sociedade norte-americana, mas também comunidades ao redor do mundo. O documentário serve como um poderoso lembrete das complexidades e das consequências da cultura armamentista, incitando reflexões cruciais sobre os caminhos a seguir em busca de soluções efetivas e duradouras.
* Carolina Weber é bolsista de Iniciação Científica do INCT-INEU/OPEU (PIBIC-CNPq), graduanda em Defesa e Gestão Estratégica Internacional do Instituto de Relações Internacionais e Defesa (IRID/UFRJ). No OPEU, cobre a área de meio ambiente e energia dos EUA e faz parte da equipe do Instagram. Contato: carolinaweberds@gmail.com.
** Texto escrito como parte da avaliação proposta pela disciplina obrigatória de Introdução ao Estudo de Defesa, ofertada em 2021 pelo professor do IRID/UFRJ, Henrique Paiva. Revisão e edição final: Tatiana Teixeira. Primeira versão enviada para o OPEU em 30 jan. 2024. Esta Resenha OPEU não reflete, necessariamente, a opinião do OPEU, ou do INCT-INEU.
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