Política Doméstica

‘O Pai do Tempo é invicto’: Joe Biden e o etarismo na figura do líder

Fonte: Berkeley News (Crédito: Ilustração de Neil Freese, UC Berkeley; foto de Joe Biden, ao centro, de Lisa Ferdinando, Departamento da Defesa dos EUA, via Flickr; fotos de Ron DeSantis, à esq., e Donald Trump, de Gage Skidmore, via Wikipedia)

Por Augusto Scapini* [Informe OPEU]

No dia 20 de novembro, o presidente Joe Biden comemorou seu 81º aniversário, estendendo seu recorde como o presidente mais velho a ocupar o cargo na história dos Estados Unidos. A questão da idade avançada de Biden como um empecilho para suas pretensões políticas é algo que vem sendo discutido desde o início de sua campanha presidencial em 2019, angariando críticas tanto dos republicanos quanto dos próprios democratas que não se sentem representados pela liderança do presidente.

Segundo uma pesquisa conduzida recentemente pela NBC News, apenas 40% dos eleitores registrados aprovam o desempenho de Biden como presidente, atingindo o número mais baixo de seu mandato até o momento – uma queda repentina decorrente de suas atitudes em relação à guerra na Faixa de Gaza. A pesquisa também demonstra que o presidente encontra dificuldade em manter o apoio da população jovem, negra e latina, grupos sociais que constituíram grande parte de seu eleitorado em 2020.

Apesar desse fato, a assessoria de campanha de Biden vem se esforçando para reassegurar os eleitores de que sua idade avançada não é um fator que afete sua competência, ou capacidade de governar. Em abril, ao anunciar oficialmente que iria se candidatar à reeleição, o presidente, em uma entrevista concedida à ABC News, disse que entende a preocupação dos eleitores em relação a sua idade, mas afirmou estar se sentido bem e revigorado para continuar a liderar o país. Ainda, a campanha de Biden gastou, nos últimos meses, cerca de US$ 25 milhões em propagandas eleitorais focadas, majoritariamente, em expor o avanço de seu governo no setor econômico (que continua sendo uma questão crucial nas questões cogitadas pelos eleitores americanos). Entre as peças publicitárias, foi produzido um comercial de televisão que exibe imagens gravadas durante uma viagem secreta do democrata a Kiev, na Ucrânia, em fevereiro deste ano. Seu objetivo: destacar o vigor e a participação ativa do presidente nos assuntos internacionais.

Além disso, segundo o jornal The New York Times, a Casa Branca decidiu não organizar uma grande comemoração para o aniversário do chefe de Estado, de maneira a não chamar mais atenção desnecessária para seu envelhecimento. Por esse motivo, o presidente optou por postar apenas uma foto  em suas redes sociais, brincando que “quando se comemora o 146° aniversário, não há mais espaço para velas [no bolo]”.

Biden celebra seu aniversário (Fonte: Instagram do presidente)

Essa não foi a primeira vez que Biden fez piadas com sua própria velhice, pois já havia, em diversos momentos, mostrado que é capaz de encarar os ataques a sua idade com bom humor. E, neste ano, não foi diferente. No dia de seu aniversário, o presidente ficou encarregado de realizar a 76ª cerimônia anual de perdão presidencial aos perus sacrificados no Dia de Ação de Graças, tradição oficialmente estabelecida pelo presidente Harry S. Truman em 1947. Em tom jocoso, Biden disse que não pôde participar da primeira cerimônia, pois era muito jovem e, agradecendo pelos parabéns recebidos por seu aniversário, brincou que “é muito difícil fazer 60 anos de idade”. Em meio às piadas autodepreciativas, porém, Biden cometeu uma grande gafe, amplificada pelas redes sociais: ao confundir a cantora pop Taylor Swift com Britney Spears, entregou, de bandeja, mais uma carta à mídia e a seus adversários que buscam caracterizá-lo como senil.

Do outro lado da mesa, apesar de cometer seus próprios deslizes cognitivos, o ex-presidente Donald Trump – que, ao que tudo indica, será o principal adversário de Biden nas eleições de 2024 – não perdeu oportunidades de criticar a capacidade mental do atual chefe de Estado. Deve-se notar, no entanto, que o republicano, com seus 77 anos de idade, vem tomando cuidado para não jogar a culpa da “incompetência” de Biden em sua idade avançada, a fim de não dar um tiro no próprio pé. Não obstante, a instrumentalização do etarismo na descredibilização de ambos os candidatos é uma ferramenta que já está sendo empregada no discurso de demais figuras políticas, como o atual pré-candidato republicano à Presidência Ron DeSantis (R-FL). Em suas próprias palavras:

“A Presidência não é um cargo para alguém que está nos 80 anos de idade, e acho que isso vem sido mostrado com Joe Biden. O Pai do Tempo é invicto, e Donald Trump não está isento disso”.

File:Ron DeSantis (33090874326).jpg (Arquivo) DeSantis discursa na Conservative Political Action Conference (CPAC) realizada em National Harbor, Maryland, em 23 fev. 2017 (Crédito: Gage Skidmore/Flickr)

Enquanto isso, as pesquisas mostram que, cada vez mais, os jovens do país não se sentem plenamente representados por nenhum dos dois candidatos e manifestam preocupação com suas respectivas idades. Como afirmam os analistas políticos, esse grupo demográfico foi o grande responsável pela vitória de Biden em 2020, assim como do Partido Democrata nas eleições de 2021. Por esse motivo, a falha dos possíveis candidatos à Presidência em se conectarem com as gerações mais novas representa um enorme problema de imagem que poderá impactar na escolha do futuro líder da nação estadunidense.

Para mais leituras: The Weaponization of Biden’s Age, por Mauro Guillén | revista Time

 

* Augusto Scapini é bolsista de Iniciação Científica INCT-INEU/OPEU (PIBIC-CNPq) e graduando em Relações Internacionais do IRID/UFRJ. Contato: augusto.scapini@ufrj.br.

** Revisão e edição final: Tatiana Teixeira. 1ª versão recebida em 25 nov. 2023. Este Informe OPEU não reflete, necessariamente, a opinião do OPEU, ou do INCT-INEU.

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