Brasil

Reações de autoridades americanas ao atentado golpista em Brasília

Manifestantes invadem o prédio do Congresso Nacional, Supremo Tribunal Federal e o Palácio do Planalto, em Brasília, em 8 jan. 2023 (Crédito: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Por Lucas Amorim*

Jack Nicas on Twitter: "A capa do New York Times hoje: O Presidente Lula  sobe a rampa. "O perdedor está ausente." https://t.co/DneIcMNcyj" / Twitter

‘O perdedor está ausente’, diz manchete do NYT (Crédito: Jack Nicas, Twitter)

A invasão das sedes dos Três Poderes em Brasília – Congresso, Palácio do Planalto e Supremo Tribunal Federal – em 8 de janeiro chocou audiências domésticas e estrangeiras pela violência, pela facilidade de quebrar barreiras de segurança no centro da democracia brasileira e pela semelhança com a invasão ao Capitólio em 6 de janeiro de 2021.

O atentado também foi a segunda semana seguida que o Brasil virou manchete nos principais veículos de notícia internacional, sendo a primeira a posse do presidente Lula (foto ao lado).

Diversas autoridades americanas se manifestaram sobre os ataques.

O presidente Joe Biden condenou “o ataque à democracia e à transferência pacífica de poder” no país. O mandatário afirmou ainda que as instituições democráticas brasileiras contam com seu “apoio completo” e que a “vontade do povo brasileiro deve ser respeitada”. No mesmo comunicado, Biden também expressou a vontade de continuar trabalhando com o presidente Lula.

O secretário de Estado americano, Antony Blinken, responsável pela condução da política externa, também se manifestou nas redes sociais, condenando o ataque à Presidência, ao Congresso e ao Supremo brasileiros. Segundo Blinken, “o uso da violência para atacar as instituições democráticas é sempre inaceitável”. O chefe da diplomacia de Washington também se uniu ao presidente Lula, “instando um fim imediato” às ações golpistas.

O conselheiro de Segurança Nacional, Jake Sullivan, endossou os pronunciamentos das demais autoridades, condenando “o esforço de debilitar a democracia no Brasil”. Sullivan afirmou que o presidente Biden acompanhava a situação de perto e reforçou o “apoio inabalável” às instituições democráticas brasileiras. O responsável pela segurança nacional também declarou que a democracia no país “não será abalada pela violência”.

Congressistas rejeitam ‘6 de janeiro brasileiro’

Foi registrado também um grande número de manifestações de líderes e membros democratas no Congresso. Em 12 de janeiro, quatro dias após o ataque em Brasília, 46 membros da Câmara dos Representantes assinaram uma carta endereçada ao presidente Joe Biden, instando o governo federal americano a revogar o visto que permitia que o ex-presidente Jair Bolsonaro permanecesse no país. Segundo os parlamentares, “o ataque ilegal e violento contra as instituições do governo brasileiro foi construído sobre meses de invenções pré e pós-eleitorais do Sr. Bolsonaro e seus aliados, alegando que a eleição para presidente ocorrida em 30 de outubro fora roubada”.

O líder da maioria democrata no Senado, Chuck Schumer (D-NY), conclamou a todos para que “se posicionem e condenem o ataque” contra os Três Poderes no Brasil. Usando uma linguagem dura, Schumer reforçou o apoio à democracia e ao povo brasileiros e se colocou contra “demagogos que negam o resultado de eleições”.

Hakeem Jeffries, líder da minoria democrata na Câmara dos Representantes (D-NY), declarou que “o ataque violento no coração do governo brasileiro por extremistas de direita é uma visão triste, mas familiar”, e expressou sua solidariedade ao povo e à democracia do Brasil.

Gregory Meeks, o principal democrata no Comitê de Relações Exteriores da Câmara (D-NY), disse que “as cenas dos insurgentes violentos de direita invadindo o Congresso brasileiro representam não somente uma agressão física, mas um ataque à democracia e à vontade do povo brasileiro”. Meeks instou o presidente Biden e a comunidade internacional a continuarem a “apoiar o presidente Lula e todos os que acreditam em eleições livres e justas no Brasil e no mundo”.

Expoente da bancada progressista democrata no Senado, o senador Bernie Sanders (I-VT) declarou que os ataques demonstram a importância de sua tentativa de aprovar uma resolução apoiando eleições livres e justas no Brasil. O senador afirmou que a democracia brasileira está em jogo e demostrou seu apoio “ao governo democraticamente eleito do país”, além de “condenar a violência autoritária” dos agressores.

A senadora Elizabeth Warren (D-MA) tuitou que o “ataque à democracia brasileira é assustadoramente reminiscente da insurgência de 6 de janeiro”, ocorrida em Washington, D.C., por ocasião da posse de Joe Biden. A senadora afirmou que o “povo do Brasil votou em eleições livres e justas” e, portanto, “merece uma transferência de poder pacífica”. A democrata de Massachusetts condenou a violência e se solidarizou em defesa da democracia.

Membro da Câmara por Nova York, Alexandria Ocasio-Cortez (D-NY) lembrou que “dois anos atrás o Capitólio dos Estados Unidos foi atacado por fascistas” e que o atentado em Brasília “foi uma tentativa de movimentos fascistas fazerem o mesmo no Brasil”. Além de manifestar sua solidariedade para com o “governo democraticamente eleito do presidente Lula”, a representante (deputada) exigiu que os “Estados Unidos parem de oferecer refúgio a Bolsonaro na Flórida”.

O senador Martin Heinrich (D-NM) disse que as cenas do ataque eram “perturbadoras” e que o “ataque ilegítimo que tentou tomar o poder pela força é uma agressão à democracia no mundo todo”. O parlamentar do Novo México afirmou que, seja no Brasil, seja nos Estados Unidos, seja no resto do mundo, “os sediciosos conspiracionistas devem ser levados à Justiça”.

O representante democrata Joaquín Castro (D-TX) se posicionou a favor do presidente Lula e do governo democraticamente eleito. Segundo o texano, “terroristas domésticos e fascistas devem ser impedidos de utilizar os métodos de Donald Trump para minar a democracia”. Castro ainda adicionou que “Bolsonaro não deve receber refúgio na Flórida, onde ele tem se escondido da responsabilização por seus crimes”.

Rep. Joaquin Castro Calls for Biden Admin to Extradite Jair Bolsonaro Back  to BrazilCrédito: Mediaite.com

Adriano Espaillat (D-NY), membro da Câmara dos Representantes, condenou fortemente o ataque ao governo e ao povo brasileiros. O deputado nova-iorquino, que informa na rede social ter sido imigrante em situação irregular, reafirma a necessidade de apoiar “a vontade do povo e a transferência pacífica de poder”.

Representante democrata do estado de Wisconsin (D-WI), Mark Pocan disse que “a violência nunca é a resposta, nem nos Estados Unidos, nem no Brasil, ou em qualquer outro país”. O deputado frisou que “o presidente Lula foi eleito em um processo eleitoral livre e justo e que todos que negam isso estão errados”. Pocan declarou ainda que “Bolsonaro deve sair do seu esconderijo, condenar a violência e impedir que seus apoiadores continuem imediatamente”.

A deputada Ilhan Omar (D-MN) lembrou que, há dois anos, o Capitólio foi atacado por “fanáticos” e que o público assistia a uma repetição desse fato no Brasil. Além de expressar sua solidariedade para com Lula e povo brasileiro, a representante por Minnesota afirmou que as “democracia do mundo devem se unir e condenar o ataque”, acrescentando que “Bolsonaro não deveria receber refúgio na Flórida”.

Republicanos em silêncio

Em contraste com o grande número de manifestações de autoridades democratas, apenas três republicanos demonstraram sua preocupação em relação ao ocorrido em 8 de janeiro de 2023 em Brasília. Os líderes republicanos na Câmara e no Senado – Kevin McCarthy (R-CA) e Mitch McConnell (R-KY), respectivamente – não se pronunciaram sobre o assunto.

O deputado de ascendência brasileira George Santos (R-NY) afirmou que “os atos de violência no Brasil não levam a nada” e condenou o ataque em Brasília como “vandalismo”. Santos corre o risco de perder seu mandato, após ter fraudado informações sobre seu histórico profissional e sobre sua formação acadêmica. O representante de Nova York também foi alvo de polêmica por ter feito um sinal associado a grupos supremacistas brancos, durante uma sessão da Câmara.

O senador e ex-governador da Flórida Rick Scott (R-FL) publicou um tuíte bilíngue, em inglês e português, afirmando que “instabilidade e violência em qualquer lugar é ruim para a segurança nacional, liberdade e democracia do mundo todo”. Scott também exortou aqueles que “valorizam a democracia na América Latina a se unirem e clamarem pela paz, pelo respeito a lei e pela ordem no Brasil”.

Brian Fitzpatrick (R-PA), representante da ala mais moderada do Partido Republicano na Câmara, publicou uma mensagem, condenando “o ato violento que aconteceu no Brasil em uma tentativa de interromper a transferência pacífica de poder, que é a principal característica da democracia”. O deputado pela Pensilvânia disse estar “ansioso” para trabalhar com o presidente Lula, em sua condição de membro da Comissão de Relações Exteriores.

 

* Lucas Silva Amorim é pesquisador colaborador do OPEU e doutorando pelo Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (IRI-USP). Contato: amorimlucas@usp.br.

** Revisão e edição final: Tatiana Teixeira. 1ª versão recebida em 13 jan. 2022. Esta matéria não reflete, necessariamente, a opinião do OPEU, ou do INCT-INEU.

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