EUA e o Resumo da Semana (de 11 a 17 abr. 2022)
(Arquivo) Senador Robert Menendez e o então vice-presidente de Taiwan, Wu Dunyi, em 19 ago. 2013 (Crédito: Assessoria de imprensa do Comitê de Relações Exteriores do Senado dos EUA)
Por equipe OPEU
América Latina, por Vitória de Oliveira Callé
Na terça-feira (12), o secretário de Estado americano, Antony Blinken, reuniu-se com o ministro das Relações Exteriores do Uruguai, Francisco Bustillo, em Washington, D.C. No encontro, foram tratadas questões bilaterais entre os países, como os laços econômicos e cooperação para a agenda climática, a manutenção da paz internacional e a recuperação nacional após a pandemia da covid-19. Foi posta em pauta a importância de modernizar o comércio entre as partes, especialmente no tocante ao Acordo Marco de Comércio e Investimento (TIFA, na sigla em inglês). Como parte do aprofundamento das relações, também foi definido o “Diálogo Interministerial Bilateral Anual” para a coordenação das áreas prioritárias nas relações bilaterais, como comércio, investimentos e tecnologia. Ressaltou-se, ainda, o posicionamento comum dos governos dos EUA e do Uruguai em repúdio à invasão russa na Ucrânia.
O chanceler uruguaio, Francisco Bustillo, e Blinken (Crédito: Embaixada dos EUA no Uruguai)
China e Rússia, por Carla Morena e João Bernardo Quintanilha
Na quinta-feira (14), um grupo bipartidário de seis parlamentares norte-americanos, incluindo o presidente do Comitê de Relações Exteriores do Senado dos Estados Unidos, senador Robert Menendez (D-NJ), desembarcou em Taiwan em uma viagem não anunciada. A visita demonstrou o apoio bipartidário dos Estados Unidos a Taiwan e o estreitamento das relações bilaterais, tendo significado um alerta à China. Na sexta-feira (15), o grupo se encontrou com a presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, e, posteriormente, com o ministro da Defesa. Menendes reforçou a importância da democracia e o status global de Taiwan como fabricante de semicondutores. De acordo com o senador, “Taiwan é um país de importância, consequência e impacto globais e, portanto, aqueles que poderiam desejar-lhe mal devem compreender que a segurança de Taiwan tem um impacto global”.
A visita a Taiwan levou a uma resposta do corpo diplomático e militar de Pequim. Em pronunciamento, o porta-voz do Comando do Teatro Oriental do Exército de Libertação do Povo Chinês, coronel Shi Yi, afirmou que foram enviados destróieres, fragatas, caças e bombardeiros, tanto para o Mar da China Oriental quanto para as águas e o espaço aéreo de Taiwan. Shi Yi declarou que “essa operação foi organizada em resposta aos sinais equivocados que os Estados Unidos vêm emitindo sobre as questões de Taiwan nos últimos dias”. Em entrevista coletiva, o porta-voz do Ministério chinês das Relações Exteriores, Zhao Lijian, acrescentou que “os membros do Congresso dos Estados Unidos devem agir em conjunto com a política de uma só China do governo norte-americano […] Os relevantes movimentos do Exército chinês são apenas respostas às ações negativas dos EUA recentemente, incluindo a visita dos parlamentares a Taiwan”.
As manifestações de Finlândia e Suécia, sinalizando a intenção de entrar na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), levaram a reações da Rússia. O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, afirmou que a Aliança permanece como ferramenta destinada à confrontação e que a expansão da Otan não ajudaria a assegurar a estabilidade europeia. A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, alertou para os riscos da incorporação desses países à Otan: “A escolha está sob a responsabilidade das autoridades da Suécia e da Finlândia. Entretanto, elas devem compreender as consequências desse passo para as nossas relações bilaterais e para a arquitetura da segurança europeia como um todo”. As autoridades da Suécia e da Finlândia já declararam que suas decisões serão arbitradas nas próximas semanas. Nesse meio-tempo, o ex-presidente russo Dmitri Medvedev declarou que, caso a decisão dos países escandinavos seja favorável à Otan, a Rússia posicionará armamentos nucleares próximos às suas fronteiras no Báltico.
Indo-Pacífico, por Eduardo Mangueira
Na segunda-feira (11), ocorreram os encontros do 4º Diálogo Ministerial 2+2 Índia-EUA em Washington, D.C. As reuniões foram precedidas pelo encontro virtual entre o presidente Joe Biden e o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi. Do lado americano, participaram, ainda, o secretário de Estado, Antony Blinken, e o secretário da Defesa, Lloyd Austin III, junto às suas contrapartes indianas, o ministro da Defesa, Rajnath Singh, e o ministro das Relações Exteriores, Subrahmanyam Jaishankar. Foram tratados temas de mútuo interesse, como ciência e tecnologia, combate ao terrorismo internacional, combate à mudança climática, defesa e segurança e educação. O encontro foi, contudo, antecedido por algumas fricções entre os países, tendo em vista a firme posição da Índia de não-alinhamento à Ucrânia no conflito com a Rússia. Ainda assim, os Estados Unidos buscaram adotar uma posição flexível no tema, para não comprometer a cooperação bilateral com a Índia. Outro assunto de grande relevância foi a situação do Indo-pacífico e os desenvolvimentos no subcontinente indiano. As partes concordaram que devem elevar sua presença na região para combater a crescente influência chinesa. Nesse sentido, Jaishankar enfatizou a relevância do Acordo Quadrilateral de Segurança (Quad, na sigla em inglês), cujo Encontro se dará em maio e terá o Japão como anfitrião.
Economia e Finanças, por Ingrid Marra e Marcus Tavares
Na última quarta-feira (13), reguladores dos Estados do Texas e do Alabama ordenaram o fim das vendas de Tokens Não-Fungíveis (mais conhecidos como NFTs, na sigla em inglês), de um cassino on-line, sob a alegação de que o estabelecimento estaria oferecendo – de maneira ilegal – títulos não registrados e, como consequência, cometendo o crime de fraude. O cassino, chamado Sand Vegas Casino Club, ofereceu mais de 11 mil NFTs como forma de arrecadar fundos para criar novos cassinos no metaverso (mundo virtual que tenta replicar a realidade através de dispositivos digitais) e prometia lucros de até US$ 81 mil por ano. O Conselho de Títulos do Estado do Texas afirmou, ainda, que o cassino teria informado erroneamente que os NFTs vendidos não se enquadravam como títulos. Trata-se de um precedente para futuras ações por parte das federações dos EUA, já que a Comissão de Títulos e Câmbio ainda não tem orientações formais para esse tipo de caso.
Em entrevista à emissora CNBC em 14 de abril, o CEO da Amazon, Andy Jassy, disse que a plataforma de e-commerce poderá contar, em breve, com a venda de NFTs. Para ele, o mercado de NFTs está em significativo crescimento, o que justifica essa movimentação. Jassy deixou claro, entretanto, que não aceitará pagamentos em criptomoedas, ao contrário de seu competidor, e-Bay, a primeira plataforma a aceitar a venda de NFTs e que planeja aceitar criptomoedas no futuro.
A secretária do Departamento do Tesouro dos Estados Unidos, Janet Yellen, afirmou, em evento no think tank Atlantic Council na quarta-feira (13), que a China “deve ajudar a pôr fim à guerra hedionda” da Rússia na Ucrânia, ou “enfrentar uma perda em sua posição” frente ao mundo. A secretária também disse que países que tentam diminuir os efeitos das sanções econômicas do Ocidente enfrentarão consequências econômicas. Por sua relação “especial” com a Rússia, Yellen esperava que a China pudesse persuadir Moscou a finalizar o conflito. Afirmou, ainda, que países que não se posicionam têm “pouca visão”. Essas falas refletem o posicionamento do governo de Joe Biden, que condena a invasão russa do território ucraniano e espera que o governo chinês acompanhe-no. Em resposta, o representante da Embaixada chinesa em Washington, Liu Pengyu, condenou a associação da relação sino-russa com a crise da Ucrânia, mas ressaltou que a China está comprometida com promoção da paz.
Dados liberados no relatório da Adobe Inc. evidenciam o aumento constante de preços para produtos on-line, demonstrando a dificuldade de o Banco Central dos Estados Unidos, o Federal Reserve (Fed), combater o ritmo de crescimento dos preços na economia estadunidense. O relatório mensal acompanha o preço de produtos de 18 categorias – semelhante ao Índice de Preços do Consumidor governamental. Nos últimos 12 meses, houve 8,5% de aumento nos preços de produtos, a maior taxa desde 1981. Esse aumento evidencia a mudança de perspectiva em relação à inflação global, que não parece ser reversível de maneira simples.
Aumento de preços continua a preocupar (Crédito: Advantus Media Inc. e QuoteInspector.com)
Investidores do mercado de ações estão preocupados com a incerteza geopolítica e com o impacto sobre o crescimento econômico das ações do Fed contra a inflação. Isso explica seu direcionamento para “ativos defensivos”, como saúde, serviços de utilidade pública e imobiliário. A elevação dos juros de alguns títulos de curto prazo do governo, ultrapassando os rendimentos oferecidos pelos títulos de longo prazo, foi recebida com grande preocupação por Wall Street, que vê o movimento como um sinal de recessões. O setor “defensivo” chegou a ter um desempenho entre 15% e 20% a mais do que o tradicional Standard & Poor’s 500 (mais conhecido como S&P 500) em períodos de incerteza econômica nos últimos 20 anos. O índice S&P 500 chegou a ficar 1,6% abaixo de sua média dos últimos 125 dias. Quedas rápidas como essa sinalizam níveis de medo extremo no mercado.
Meio Ambiente e Energia, por Lucas Amorim
O estado americano da Califórnia, que tem como meta alcançar uma matriz elétrica 100% livre de emissões de CO2, teve um vislumbre desse futuro. Segundo matéria do jornal The Mercury News, às 15h39 de 3 de abril o Operador Independente do Sistema registrou que 97% da demanda de eletricidade do estado havia sido suprida por energia proveniente de fontes renováveis. Esse valor supera o recorde anterior de 96,4%.
No domingo (10), os legisladores mexicanos debateram o projeto de emenda constitucional proposta pelo Executivo que implementaria mudanças importantes no setor energético do país. A proposta devolveria à estatal Comisión Federal de Electricidad (CFE) papel central no planejamento, geração e distribuição de energia elétrica no país. Atualmente, a CFE divide essas funções com a iniciativa privada e com reguladores independentes. Segundo artigo do jornal U.S. News, investidores americanos apresentam forte resistência à proposta de reestatizar o setor elétrico do México. Nem investidores privados, nem o governo americano descartam a possibilidade de recorrer a instâncias domésticas e internacionais, como tribunais mexicanos, ou mecanismos encontrados em tratados como o Nafta (Acordo de Livre-Comércio da América do Norte) e o USMCA (Acordo Estados Unidos-México-Canadá).
Leia mais no Informe OPEU de 10 de abril de 2022.
Política Doméstica, por Augusto Scapini
No dia 11, o presidente Joe Biden anunciou que nomeará Steve Dettelbach como diretor da Agência de Álcool, Tabaco, Armas de Fogo e Explosivos (AFT, na sigla em inglês). O presidente também reforçou seu compromisso com erradicar as chamadas “armas-fantasma”. Para isso, anunciou uma medida que será implementada pelo Departamento de Justiça, voltada para impedir a produção e a venda de kits de armas montáveis sem números de série, por não serem rastreáveis. Biden afirmou, ainda, que serão aumentadas as restrições ao processo de compra de armas, com uma verificação mais rigorosa de antecedentes criminais daqueles que procuram adquiri-las. Veículos de informação, como a rede Fox News, o jornal The Guardian e o site Inside Sources analisam a resposta da classe política americana à nomeação de Dettelbach.
No dia 12, houve um tiroteio em massa no metrô do bairro de Brooklyn, em Nova York, deixando, até o momento de redação final deste texto, 29 pessoas feridas. No dia seguinte, Frank James, suspeito de orquestrar o ataque, foi detido pela polícia local e enfrenta acusações criminais de terrorismo doméstico, apesar de alegar sofrer de doenças mentais. Em um pronunciamento público proferido no dia 17, o prefeito de Nova York, Eric Adams, ressaltou que o fim da pandemia aumentou os índices de criminalidade na cidade, defendeu sua controversa decisão de remover cidadãos sem moradia das estações de metrô e destacou a importância dos serviços de tratamento para pessoas com doenças mentais. O ataque se soma à sequência de tiroteios ocorridos em diferentes estados do país na semana anterior.
No dia 14, Stephen Miller, ex-conselheiro e aliado de Donald Trump, testemunhou diante do Comitê da Câmara de Representantes responsável pela investigação da invasão ao Capitólio, ocorrida em 6 de janeiro de 2021. Os questionamentos dos investigadores se concentraram em discursos de Trump, escritos por Miller, que teriam, supostamente, encorajado as multidões apoiadoras do ex-presidente a ultrapassarem as barreiras do edifício federal. Diante dos legisladores, Miller afirmou que acredita que as eleições de 2020 foram “roubadas”. Seu testemunho, somado ao prestado por Ivanka Trump, filha mais velha do ex-presidente, no dia 5, contribuem para a crescente quantidade de evidências acumuladas pelo Comitê contra Donald Trump e seus aliados. Segundo uma matéria do jornal The New York Times, publicada no dia 10, o painel de investigadores ainda se abstém, contudo, de recomendar oficialmente acusações criminais contra o ex-governante ao Departamento de Justiça, com receio de sofrer críticas por interferência política na investigação.
Primeira revisão: Rafael Seabra. Edição e revisão final: Tatiana Teixeira.
** Sobre o OPEU, ou para contribuir com artigos, entrar em contato com a editora do OPEU, Tatiana Teixeira, no e-mail: tatianat19@hotmail.com. Sobre as nossas Newsletters, para atendimento à imprensa, ou outros assuntos, entrar em contato com Tatiana Carlotti, no e-mail: tcarlotti@gmail.com.
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