Resumo da Semana

EUA e o Resumo da Semana (de 4 a 10 abr. 2022)

Chefe do Estado-Maior Conjunto dos EUA, general Mark Milley, em 21 jun. 2018 (Crédito: U.S. Army/Matthew Moeller/Flickr)

Por Equipe OPEU

América Latina, por Vitória de Oliveira Callé

No início da semana, os secretários da Agricultura de Estados Unidos e México, Tom Vilsack e Víctor Villalobos, respectivamente, reuniram-se, tendo em vista “continuar a cooperação em prioridades compartilhadas, incluindo comércio aberto, formulação de políticas baseadas na ciência e na produção agrícola sustentável e inteligente em relação ao clima”. Os secretários concordaram com uma visita de autoridades mexicanas em abril, para concluir até 15 de maio as discussões em curso sobre acesso ao mercado mexicano.

Em suas redes, o presidente mexicano, Andrés Manuel Obrador López, destacou o crescimento de 35% do comércio agroindustrial entre ambos os países nos últimos três anos e vislumbrou um futuro promissor. Após o encontro, o secretário Villalobos transmitiu a preocupação do presidente com o aumento da inflação, ressaltando a necessidade de colaboração com os EUA para conter o aumento dos preços dos alimentos no México: “Ele nos pediu para trabalharmos de forma coordenada para que, por meio da nossa agricultura, possamos reduzir o impacto da inflação, que se faz sentir diretamente no custo dos alimentos”.

China e Rússia, por Carla Morena e João Bernardo Quintanilha

A presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, a democrata Nancy Pelosi (D-CA), testou positivo para covid-19. De acordo com seu porta-voz, Drew Hammill, via Twitter, Pelosi está assintomática, completamente vacinada e com as duas doses de reforço. O resultado positivo levou ao adiamento da viagem da Delegação do Congresso à Ásia, que Pelosi planejava liderar.

A viagem, que provavelmente incluiria Taiwan, — informação não confirmada pelo gabinete de Pelosi — incendiou as relações diplomáticas entre Pequim e Washington. Em resposta, o ministro chinês das Relações Exteriores, Wang Yi, expôs o que seria uma incongruência na política estadunidense: “Sobre a Ucrânia, os Estados Unidos enfatizaram que a soberania e a integridade territorial de um país deve ser respeitada; mas, quando se trata de Taiwan, eles cruzam deliberadamente a linha vermelha do princípio de uma só China”. Wang Yi disse ainda que, “se a presidente da Câmara dos Estados Unidos, uma líder política norte-americana, conscientemente visita Taiwan, seria uma provocação maliciosa contra a soberania da China e uma grosseira interferência nos assuntos domésticos chineses (…)”.

A porta-voz do ministro das Relações Exteriores de Taiwan, Joanne Ou, não confirmou, nem negou, a viagem de Pelosi, mas enfatizou que Taipei estaria de portas abertas para a visita de oficiais americanos. Para o vice-diretor do Departamento de Informação do Ministério de Relações Exteriores da China, Zhao Lijian, Pelosi deveria cancelar a viagem, em vez de apenas adiá-la. Desejou, ainda, uma rápida recuperação para a democrata.

O governo russo fechou os escritórios do Observatório dos Direitos Humanos (ODH) e da Anistia Internacional, existentes desde a dissolução da União Soviética. Essas organizações têm reportado as violações de direitos humanos envolvendo o conflito ucraniano e o governo de Vladimir Putin. Isso ocorre em meio à precarização da sociedade e da economia russas, devido às intensas sanções econômicas provenientes dos países ocidentais. Episódios de corrida bancária e utilização de moedas estrangeiras, inclusive de criptomoedas, incentivaram diversas medidas restritivas por parte do Banco Central russo, como forma de combater “ameaças à estabilidade do rublo e ao câmbio”.

Defesa e Segurança, por Maria Manuela de Sá Bittencourt

Na segunda (4), o secretário de Imprensa do Pentágono, John Kirby, deu uma coletiva, em que abordou a guerra na Ucrânia. Kirby renovou o compromisso dos Estados Unidos com o rápido fornecimento de armamentos defensivos e ressaltou o gasto estadunidense de assistência aos ucranianos. A quantia já superou US$ 2,3 bilhões desde o início do governo Biden, dos quais mais de US$ 1,6 bilhão foram despendidos após a invasão do país pela Rússia. Além disso, Kirby destacou os frequentes contatos entre o secretário americano da Defesa, Lloyd Austin, e o ministro da Defesa ucraniano, Oleksii Reznikov, de modo a assegurar o suporte necessário e a regularidade no abastecimento de material bélico.

Na terça (5), o chefe do Estado-Maior Conjunto, general Mark Milley, disse ao Comitê de Serviços Armados da Câmara que o pedido de orçamento da Defesa para o ano fiscal de 2023 de US$ 773 bilhões permitirá que os militares americanos cuidem das missões atuais e que estejam prontos para os conflitos em potencial de 2030 em diante. Milley descreveu um mundo mais instável, com crescente possibilidade de conflitos entre grandes potências. Para o general, o orçamento permitirá maior modernização e uma transformação das forças, atendendo às condições do ambiente operacional norte-americano nesse período. “Em alinhamento com a próxima estratégia de defesa nacional e com a estratégia militar nacional, este orçamento oferece uma força conjunta pronta, ágil e capaz, que defenderá a nação, enquanto cuida do nosso povo e trabalha com nossos parceiros e aliados”, disse ele.

Economia e Finanças, por Ingrid Marra e Marcus Tavares

O primeiro quadrimestre do mercado de títulos públicos dos Estados Unidos foi marcado pela alta volatilidade e por uma das piores performances em décadas. A Comissão de Trading de Commodities Futuras mostrou que os fundos de hedge reduziram sua posição para os títulos de contratos de 10 anos do Tesouro, enquanto aumentou a posição para títulos de contratos curtos, de 2 anos.

Investidores especulam se a política comparativamente agressiva de contração do balanço patrimonial por parte do Fed, o Banco Central dos Estados Unidos, poderia afetar o achatamento da curva de juros, que tem sinalizado uma potencial recessão. A velocidade da contração poderia estimular que os títulos de longo prazo do Tesouro voltem a ficar acima dos títulos de curto prazo.

Desde o início da pandemia da covid-19, em março de 2020, investidores retiraram mais de US$ 130 bilhões da indústria de fundos monetários. Esses fundos são importante fonte de financiamento corporativo e municipal de curto prazo, mas têm sido alvo de tentativas de regulação, pois já foram resgatados pelos contribuintes duas vezes em 12 anos. Os administradores dos fundos rejeitaram, entretanto, o esboço de regulação, argumentando que “matariam a procura por produtos populares”. Uma dessas propostas, advindas da Comissão de Títulos e Câmbio (SEC, na sigla em inglês), teria como medida o ajuste do valor do fundo monetário de acordo com a atividade de negociação. Assim, investidores que realizarem os resgates do fundo arcam com os custos da saída do investimento, evitando que diluam esses custos sobre os investidores restantes. Em tese, a medida reduziria o estímulo de saída inicial de um fundo.

De acordo com analistas da organização financeira REFINITIV I/B/E/S (London Stock Exchange Group), os seis maiores bancos estadunidenses terão uma queda de 35% em seus rendimentos líquidos no primeiro quadrimestre do ano. O período será difícil para todos os grandes bancos. Ainda assim, as expectativas para o restante do ano seguem em alta para a maior parte das instituições financeiras.

A Corporação Federal Asseguradora de Depósitos (FDIC, na sigla em inglês) solicitou a todos os bancos por ela supervisionados que notifiquem qualquer atividade, planejada, ou atual, relacionada a criptomoedas. De acordo com a FDIC, atividades envolvendo ativos em cripto têm riscos sistêmicos em maior escala, de modo que qualquer instituição financeira que possua, ou planeje possuir, um ramo de investimentos em criptoativos deverá notificá-la imediatamente. Essa movimentação é resultado direto do aumento do interesse do governo dos Estados Unidos na regulamentação do ramo, já que ativos criptografados têm ganhado grande popularidade no país.

Meio Ambiente e Energia, por Lucas Amorim

Pesquisa da agência Gallup revela que amplas maiorias do público americano apoiam políticas ambientais que têm como objetivo reduzir os efeitos da mudança climática. Segundo o estudo, 89% dos entrevistados apoiam a concessão de isenções tributárias a famílias que instalem painéis solares em suas residências. Ainda, 53% da população considera que o risco ambiental da mudança climática é mais crítico que o risco econômico das políticas destinadas a combatê-lo. Apesar da clivagem partidária, os eleitores republicanos apoiam várias das propostas apresentadas na pesquisa.

Após ter revogado isenções de regras ambientais para refinarias de biocombustíveis, a Agência de Proteção Ambiental (EPA, na sigla em inglês) apresentou um caminho alternativo para que as empresas não tenham de seguir todas as exigências presentes na lei que regula a mistura de biocombustíveis aos combustíveis fósseis. Segundo a agência de notícias Reuters, para ter acesso às facilidades regulatórias, as refinarias têm de apresentar relatórios que atestem o cumprimento de regras ambientais até 2018. Para a Associação dos Combustíveis Renováveis, no entanto, a decisão representa uma “vitória vazia”. O presidente da Associação, Geoff Cooper, afirma que a EPA considera que a isenção não deveria ter sido concedida, e, agora, implementa uma medida retroativa destinada a mantê-la provisoriamente. Implementado pela Lei de Política Energética de 2005 e ampliado pela Lei de Independência e Segurança Energética de 2007, o programa Renewable Fuel Standard (Padrão para Combustíveis Renováveis), demanda um percentual mínimo de mistura de biocombustíveis e tem como objetivo auxiliar os produtores rurais, reduzir a emissão de gases de efeito estufa e reduzir as importações americanas de petróleo.

Em decisão liminar, a Suprema Corte dos EUA suspendeu regras ambientais postas em vigor sob a lei que limita a poluição da água. A decisão em relação ao caso Louisiana vs. American Rivers contou com estreita maioria de 5 a 4 pela reversão do status quo do governo Trump. O voto da maioria não revelou a justificativa para a decisão, que ainda aguarda julgamento do mérito.

Oriente Médio, por Haylana Burite

Na segunda-feira (4), EUA e Turquia lançaram o Mecanismo Estratégico EUA-Turquia, em consonância com o compromisso assumido pelos presidentes Joe Biden e Recep Erdogan durante reunião em Roma, em outubro de 2021. Assim, os dois governos revisaram tópicos de interesse mútuo, incluindo cooperação econômica e de defesa, contraterrorismo e áreas-chave de interesse regional e global compartilhado. Os EUA também elogiaram os esforços turcos “para facilitar uma solução diplomática justa e negociada” para pôr fim à Guerra da Ucrânia. A iniciativa tem por objetivo estabelecer canais regulares que facilitem a cooperação entre os países onde for possível, além de prevenir que pontos de atrito evoluam para crises. Em comunicado conjunto, Estados Unidos e Turquia sinalizaram a possibilidade de um encontro ministerial ainda esse ano.

Na quinta (7), os Estados Unidos saudaram o anúncio da formação de um Conselho de Liderança Presidencial no Iêmen. Em um comunicado, o secretário de Estado americano, Antony Blinken, declarou que os EUA apoiam “(…) as aspirações do povo iemenita por um governo eficaz, democrático e transparente que inclua diversas vozes políticas e da sociedade civil, incluindo mulheres e outros grupos marginalizados”.

Política Doméstica, por Augusto Scapini

Em 3 de março, um tiroteio em massa ocorreu na cidade de Sacramento, na Califórnia. Seis pessoas morreram, e 12 ficaram feridas, alvo de vários atiradores. Até o momento, três suspeitos foram presos pela polícia local, que ainda investiga as motivações por trás do ataque. Em um pronunciamento público, proferido no mesmo dia, o presidente Joe Biden ofereceu suas condolências às famílias das vítimas e suplicou ao Congresso para aprovar maiores restrições ao processo de aquisição de armas e autorizar seu plano econômico que, entre outras medidas, ampliaria a alocação de recursos financeiros para os órgãos de segurança locais. Outros tiroteios similares, porém com menos vítimas, também ocorreram durante a semana nos estados do Texas, da Carolina do Sul e da Virgínia.

No dia 4, os estados do Missouri, Arizona e Louisiana, de maioria republicana, anunciaram que vão processar o governo Biden por sua decisão de remover a Title 42. Essa medida executiva de saúde pública foi assinada pelo então presidente Donald Trump em 2020 e impôs restrições ao trânsito de pessoas na fronteira do país com o México, devido à pandemia da covid-19. Em um pronunciamento, o procurador-geral do estado do Missouri, Eric Schmitt, afirmou que a remoção das restrições vai gerar uma “crise sem precedentes” na fronteira. A decisão de Biden foi anunciada em 1º de março, após o Centro de Controle de Doenças (CDC, na sigla em inglês) atualizar suas recomendações de combate ao coronavírus, reafirmando que não era mais necessário bloquear a entrada de imigrantes no país.

No dia 5, uma lei que proíbe a realização de abortos, exceto em casos de emergências médicas, foi aprovada pela Câmara de Representantes no estado de Oklahoma, com 70 votos a favor e 14 contra. A chamada Senate Bill 612 passou pelo Senado estadual no ano passado e aguarda a assinatura final do governador Kevin Stitt. O republicano já havia declarado sua intenção de sancionar qualquer lei “pró-vida”. Isso significa que os direitos reprodutivos continuam a ser desafiados em diversos estados majoritariamente republicanos, como Texas, Flórida, Kentucky, Arizona, Idaho e Maryland, com leis que restringem o número máximo de semanas para a realização do aborto.

Para mais leituras, uma análise do jornal The Guardian projeta os impactos que a nova lei de Oklahoma poderá ter sobre a luta dos direitos reprodutivos.

No dia 8, após semanas de audiências, Ketanji Brown Jackson foi confirmada pelo Senado americano para ocupar o cargo de juíza da Suprema Corte, tornando-se a primeira mulher negra a compor o órgão judiciário. Jackson recebeu 53 votos a favor de sua confirmação, dos quais apenas três vieram de republicanos. Foram eles os senadores Susan Collins (R-ME), Mitt Romney (R-UT) e Lisa Murkowski (R-AK). Espera-se que a juíza comece a atuar na instituição a partir de junho, quando o atual juiz da vaga, Stephen Breyer, aposenta-se.

Para mais leituras, uma matéria do jornal The New York Times analisa a possível influência que Jackson poderá ter na Corte, que se mantém com maioria conservadora.

 

* Primeira revisão: Rafael Seabra. Edição e revisão final: Tatiana Teixeira.

** Sobre o OPEU, ou para contribuir com artigos, entrar em contato com a editora do OPEU, Tatiana Teixeira, no e-mail: tatianat19@hotmail.com. Sobre as nossas Newsletters, para atendimento à imprensa, ou outros assuntos, entrar em contato com Tatiana Carlotti, no e-mail: tcarlotti@gmail.com.

 

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