EUA e o Resumo da Semana (de 28 mar. a 4 abr. 2022)
Refinaria no Texas (Crédito: PIXNIO/U.S. Fish and Wildlife Service)
Por Equipe OPEU*
América Latina, por Vitória de Oliveira Callé
Na segunda-feira (28), a Suprema Corte de Honduras aprovou a extradição do ex-presidente Juan Orlando Hernández para os EUA, onde será julgado sob acusações de tráfico de drogas e de armas pelo Tribunal de Nova York. Hernández foi detido em fevereiro, e sua extradição, autorizada no julgamento de primeira instância de Honduras, em 16 de março. Três dias depois, porém, em 19/3, a defesa de Hernández apelou para a Suprema Corte hondurenha, órgão máximo do Poder Judiciário do país, que ratificou o pedido de extradição do ex-presidente. Nas redes, a esposa de Hernández se manifestou sobre a situação, afirmando a inocência de seu marido e que o caso não passa de uma “trama orquestrada” de vingança e conspiração.
Na quinta-feira (31), o enviado especial dos EUA para o clima, John Kerry, encontrou-se com o presidente mexicano, Andrés López Obrador, para dar continuidade aos esforços pela aceleração de uma possível cooperação para a crise climática. A reunião envolveu também o embaixador dos EUA no México, Ken Salazar, e empresários estadunidenses do setor energético. Apesar de Obrador ter descrito a reunião como “amigável, necessária e benéfica”, a proposta de Kerry de formação de um grupo estadunidense para monitorar esforços em torno da lei de energia foi rejeitada por Obrador como uma ação de “vigilância”.
A divergência se deve ao projeto de lei do governo de Obrador, voltado para o fortalecimento das empresas estatais de energia. O presidente mexicano reitera que o projeto permanecerá “inalterado”. Na versão atual do texto sobre a reforma, o setor privado, composto em grande número por empresas estadunidenses, vê-se prejudicado. Por isso, o governo dos EUA mantém as pressões sobre Obrador, sob o argumento da defesa da competitividade do mercado energético no México. Washington também acusa a iniciativa de promover a emissão de energia suja.
Na sexta (1º/4), o presidente do México abordou a situação em sua coletiva de imprensa diária: “Ontem [quinta-feira (31)], estávamos com o sr. Kerry, com empresários, e se explicou a eles o motivo dessa iniciativa. Aparentemente, eles se sentiram atendidos e satisfeitos, porque não é verdade que a iniciativa tenha a ver com a promoção de energia suja (…) Impor um grupo [dos EUA] para nos vigiar, para nos observar… Ninguém permite isso. Talvez em outros tempos, com governos submissos, entreguistas, mas isso é coisa do passado”.
China e Rússia, por Carla Morena e João Bernardo Quintanilha
Em conferência ocorrida na quinta-feira (31), o presidente chinês, Xi Jinping, reiterou a necessidade de os países vizinhos ajudarem na construção de um Afeganistão estável. Realizada na província chinesa de Anhui, a conferência contou com representantes de Paquistão, Irã, Turcomenistão, Tadjiquistão, Uzbequistão e Afeganistão. De acordo com Xi Jinping, “o Afeganistão é um vizinho comum e parceiro de todos os países participantes, e nós formamos uma comunidade com um futuro ligado pelas mesmas montanhas e rios que podem ascender, ou cair, juntos”. Nesse sentido, ressaltou que um Afeganistão “pacífico e estável” é de interesse tanto do povo afegão, quanto dos países participantes, no âmbito regional, assim como da comunidade internacional.
Ao encerrar essa reunião de dois dias, o ministro chinês das Relações Exteriores, Wang Yi, destacou o papel dos Estados Unidos e do Ocidente na reconstrução e no desenvolvimento do Afeganistão, referindo-se aos ativos de US$ 9 bilhões do Banco Central do Afeganistão. Esse montante foi congelado pelos Estados Unidos, depois da tomada do poder por parte do Talibã.
O rublo se valorizou frente ao dólar americano após nova rodada de negociações de paz em Istambul, na tentativa de solucionar o conflito entre Rússia e Ucrânia. A valorização garante certo alívio para a economia russa frente às fortes sanções ocidentais. Além do corte das importações de petróleo e gás russos por parte do governo americano e de outras organizações ocidentais, o Ocidente congelou as reservas internacionais do Banco Central russo, que somam cerca de US$ 300 bilhões. Essas ações abalaram profundamente a vida dos cidadãos desse país, como mostra matéria do jornal russo on-line The Moscow Times, com destaque para os habitantes de Moscou. Cabe saber se a valorização da moeda russa vai alterar os rumos do atual conflito.
Economia e Finanças, por Ingrid Marra e Marcus Tavares
O Departamento de Comércio dos EUA informou, na quinta-feira (31), os dados da inflação. Excluindo-se os preços de alimentos e energia, o índice de preços de gastos com consumo pessoal aumentou 5,4% nos últimos 12 meses, o maior salto desde abril de 1983. Quando incluídos gás e mantimentos, a inflação alcança 6,4% (em um período de 12 meses), o ritmo mais rápido desde janeiro de 1982. Apesar do aumento dos preços, a inflação no período foi um pouco menor do que a estimativa de 5,5% do Dow Jones. Na comparação mensal, o indicador subiu 0,4%. Os gastos do consumidor subiram 0,2% no mês, ficando abaixo da estimativa de 0,5%. A renda pessoal disponível aumentou 0,4%, um pouco abaixo da expectativa de 0,5%, enquanto a renda disponível real caiu 0,2%.
Ainda no dia 31, o Departamento do Trabalho informou que os pedidos iniciais de seguro-desemprego totalizaram 202.000 na semana que terminou em 26 de março. Isso representa um aumento de 14.000 em relação à semana anterior, ficando acima da estimativa de 195.000 novos pedidos. O número ficou, no entanto, abaixo do nível prevalecente antes da pandemia da covid-19.
Meio Ambiente e Energia, por Lucas Amorim
A Casa Branca anunciou que, a partir de terça-feira (1º/4), os EUA disporão de sua reserva estratégica de petróleo para ampliar a oferta dessa commodity em um milhão de barris por dia. A medida se dá em resposta ao aumento do preço dos combustíveis, que começa a ter efeito significativo sobre a popularidade do presidente Joe Biden. O governo espera reduzir o preço da gasolina ao consumidor final em até 35 centavos de dólar o galão. No plano internacional, os Estados Unidos buscam apoio de outros países no aumento da oferta global do produto, mas encontram resistência, especialmente dos países da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep). Entre aqueles que já se dispuseram a também disponibilizar suas reservas estratégicas, encontra-se o Reino Unido.
A Rússia decidiu que os contratos de petróleo e gás fechados com “nações hostis” deverão ser saldados em rublos (1 US$ = 85,88 RUB), em vez de moedas de circulação internacional, como o dólar americano e o euro. O movimento ocorre em um momento em que o país euroasiático busca reverter a depreciação de sua moeda, apesar de o rublo já ter atingido o patamar cambial pré-conflito. Ainda assim, o Kremlin não optou pelo cancelamento dos contratos vigentes e pela assinatura de novos contratos em rublos, tida como a opção mais radical. Os contratos atuais seguem vigentes com a opção de pagamento em rublos. A decisão tem o potencial de impactar os aliados europeus dos Estados Unidos e o mercado global de petróleo.
A Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA, na sigla em inglês) se negou a emitir uma regulação definindo limites aceitáveis à poluição por perclorato, produto químico usado em combustíveis de foguete e fogos de artifício. A decisão, tomada “tendo em vista a melhor produção científica revisada por pares disponível”, foi criticada por grupos ambientalistas. Ela contraria decisão recente do órgão análogo da União Europeia e mantém decisão anterior do governo de Donald Trump. A EPA recebeu um aumento de US$ 2 bilhões em seu orçamento esse ano.
Oriente Médio, por Haylana Burite
Na segunda-feira (28), o Departamento de Estado norte-americano publicou uma nota de imprensa defendendo o direito à liberdade de expressão no Afeganistão, depois das novas diretrizes restritivas impostas pelo Talibã ao “acesso a fontes de mídia internacionais independentes e objetivas”. Na mesma data, o secretário de Estado americano, Antony Blinken, conversou com o ministro das Relações Exteriores da Arábia Saudita, príncipe Faisal bin Farhan, sobre os recentes ataques terroristas dos huthis à estação petrolífera da Aramco em Jidá, sobre a possibilidade de uma trégua durante o período do Ramadã e sobre os esforços para alcançar a paz.
Na quarta (30), os Estados Unidos anunciaram sanções contra cinco indivíduos e entidades iranianos pelo descumprimento da Ordem Executiva 13382, que visa a responsabilizar os envolvidos em atividades de proliferação de armas nucleares. Já na quinta (31), durante a Conferência de Alto Nível de Anúncio de Contribuições, os Estados Unidos informaram o fornecimento de quase US$ 204 milhões em assistência humanitária para o Afeganistão.
Em uma declaração de imprensa, divulgada na sexta (1º/4), os EUA saudaram o armistício da ONU no Iêmen. O Departamento de Estado norte-americano declarou que apoia os esforços da ONU e dos iemenitas para garantir um cessar-fogo duradouro que possibilite um futuro mais brilhante e próspero neste país.
Política Doméstica, por Augusto Scapini
Na segunda-feira (28/3), o Comitê da Câmara de Representantes responsável pela investigação da invasão ao Capitólio, ocorrida em 6 de janeiro de 2021, publicou um relatório por desacato contra Dan Scavino e Peter Navarro, aliados próximos do ex-presidente Donald Trump. Apesar de intimados a depor, eles são acusados de não cooperarem com a investigação. Alegando proteção por privilégios executivos, Scavino requisitou seis extensões de prazo para entregar documentos e responder às questões dos legisladores. O Comitê votará na segunda-feira (4/4), se recomendará oficialmente acusações criminais contra ambos. E, no último dia 31, o Comitê, teria recebido informações úteis após entrevistar Jared Kushner, genro do ex-presidente. Seu testemunho voluntário foi requisitado pelos membros do Comitê, após não conseguirem marcar uma reunião com sua esposa, Ivanka Trump, filha mais velha de Trump.
Na terça-feira (29/3), senadores do estado da Geórgia, membros do Comitê de Ética dessa câmara legislativa, revogaram diversas provisões de uma lei estadual que procurava facilitar o processo eleitoral. Aprovada pela Câmara de Representantes do estado no começo do mês, a legislação concederia mais poderes ao Departamento de Investigações da Geórgia (Georgia Bureau of Investigation) para iniciar investigações de fraude eleitoral. A lei foi criticada por funcionários eleitorais locais, de ambos os partidos, por dificultar o processo de voto e, consequentemente, desestimular a população de exercer seu direito ao sufrágio. Essencialmente, se aprovada pelo Senado, restarão do projeto inicial apenas benefícios aos trabalhadores para obterem mais dias de folga para participar do processo.
Na semana que passou, o Comitê Judiciário do Senado atrasou o processo de aprovação de Ketanji Brown Jackson para o voto final, necessário à sua confirmação como juíza da Suprema Corte. O atraso se deu, devido à ausência de alguns legisladores. Espera-se que o voto do Comitê seja empatado, com 11 democratas votando a favor, e 11 republicanos, votando contra a aprovação. Isso não impedirá, contudo, o seguimento do voto final para a Câmara, que deverá confirmar a posição de Jackson. A senadora Susan Collins (R-ME) já anunciou que votará a favor da aprovação, obtendo assim, a maioria do Senado.
Primeira revisão: Rafael Seabra. Edição e revisão final: Tatiana Teixeira.
** Sobre o OPEU, ou para contribuir com artigos, entrar em contato com a editora do OPEU, Tatiana Teixeira, no e-mail: tatianat19@hotmail.com. Sobre as nossas Newsletters, para atendimento à imprensa, ou outros assuntos, entrar em contato com Tatiana Carlotti, no e-mail: tcarlotti@gmail.com.
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