Resumo da Semana

EUA e o Resumo da Semana (de 19 a 25 set. 2021)

Agentes da Patrulha de Fronteira dos EUA a cavalo perseguem imigrantes haitianos às margens do Rio Grande, em Del Rio, Texas, em 19 set. 2021 (Crédito: Paul Ratje/AFP via Getty Images)

Resumo da Semana OPEU n 1 Set 2021

Por equipe OPEU

Biden na Assembleia Geral da ONU, por Eduardo Mangueira

No dia 21, o presidente estadunidense, Joe Biden, apresentou seu primeiro discurso na Assembleia Geral da ONU. Nele, defendeu a já concluída retirada de tropas do Afeganistão, afirmando que a era de “guerras implacáveis” terminou, dando lugar à “diplomacia implacável”. Nesse sentido, indicou a preferência, na resolução de crises, por mecanismos diplomáticos e científicos ao poder militar. Sem mencionar a China diretamente, disse não querer uma nova Guerra Fria, procurando demonstrar que não quer que a competição entre os países se torne um conflito. Essa mesma preocupação também foi expressa pelo secretário-geral da ONU, António Guterres. O presidente dos Estados Unidos elencou “desafios globais”, aos quais atribui centralidade: pandemia e crise climática. Não houve qualquer menção ao imbróglio com a França referente ao relativo ao acordo de submarinos nucleares com a Austrália.

How Biden's UN General Assembly Speech Lines Up with Reality | TimePresidente Joe Biden fala na Assembleia Geral da ONU, em Nova York, em 21 set. 2021 (Crédito: Michael Nagle/Bloomberg via Getty Images)

Brasil na Assembleia Geral da ONU, por Nathan Oliveira

A visita do presidente Jair Bolsonaro e de sua delegação a Nova York nesta semana marcou os noticiários nacionais e internacionais. Antes mesmo de seu discurso oficial na Assembleia Geral da ONU, o negacionismo de Bolsonaro causou controvérsia, envolvendo o prefeito de Nova York, Bill de Blasio (D-NY), por ser o brasileiro o único dos líderes mundiais a declarar que ainda não tinha se vacinado. Durante uma videoconferência, De Blasio se dirigiu aos líderes mundiais – e, mais explicitamente, a Bolsonaro –, pedindo que se vacinassem antes de comparecer ao encontro na ONU. O brasileiro não deixou de cumprir sua agenda na sede da organização, uma vez que esta é considerada território internacional e, portanto, as leis locais não se aplicam àquele espaço. A chegada de Bolsonaro e sua comitiva também gerou tensão com manifestantes, que protestaram na porta do hotel, em que estavam hospedados. Com palavras de ordem, os manifestantes diziam que o presidente não era bem-vindo ali e acusaram-no de “genocida”. Em sua conta do Twitter, Bolsonaro publicou um vídeo minimizando a manifestação dos brasileiros contra ele.

Na terça-feira (26), mantendo a tradição, o presidente brasileiro abriu os discursos oficiais na Assembleia Geral da ONU. Em sua fala, priorizou sua base eleitoral no Brasil, em detrimento do posicionamento do país no plano internacional e de sua agenda de política externa. Bolsonaro se declarou contra o passaporte sanitário que concede benefícios a pessoas vacinadas contra a covid-19 – medida adotada em muitos países e/ou cidades, caso de Nova York; disse que não há corrupção em seu governo; manipulou dados para corroborar sua ideia de que o desmatamento na Amazônia diminuiu; mentiu ao afirmar que as manifestações a seu favor, no dia 7 de setembro, foram “as maiores da história”; e indagou por que muitos países se posicionaram contra o tratamento precoce anticovid-19.

As falácias proferidas por Bolsonaro nesse espaço de difusão internacional tiveram repercussão nos grandes jornais ao redor do mundo e na própria imprensa estadunidense. O jornal The New York Times destacou a não-vacinação de Bolsonaro, seu posicionamento a favor de tratamentos ineficazes contra o vírus e também sua gestão ambiental. O periódico ainda salientou que Bolsonaro “liderou uma das três respostas mais criticadas do mundo à pandemia”. O jornal The Washington Post noticiou, por sua vez, que Bolsonaro teria, possivelmente, quebrado um “sistema de honra” da ONU por não ter-se vacinado e por alimentar o sentimento antivacina, uma vez que a instituição solicitou a total imunização contra o coronavírus a todos os presentes na assembleia. Veículos como CNN e Bloomberg adotaram uma postura mais moderada em relação ao presidente, destacando a tentativa isolada de Bolsonaro de melhorar sua imagem e reputação pessoal, em meio às críticas que vem recebendo – inclusive de outros líderes mundiais – sobre sua atuação no combate à pandemia e sua política ambiental.

Ainda durante a visita da delegação brasileira, um dos filhos do presidente, o deputado Eduardo Bolsonaro, deu uma entrevista à rede televisiva estadunidense Fox News. Nela, criticou as políticas sanitárias do prefeito de Nova York, a quem chamou de “marxista”. O deputado ainda enviou um recado à sociedade estadunidense, alertando que os EUA poderiam virar “uma Venezuela”. As falas conservadoras de Eduardo foram corroboradas pelo entrevistador Tucker Carlson. Em Nova York, o deputado Eduardo e o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, testaram positivo para covid-19 – e não foram os únicos da comitiva brasileira.

Outro discurso emblemático de um líder latino-americano foi o do presidente venezuelano, Nicolás Maduro. Em vídeo, pelo receio de ser preso caso pisasse em solo estadunidense, Maduro discursou na Assembleia Geral da ONU e exigiu que as “sanções criminosas” impostas a seu país fossem retiradas. O mandatário pediu ao governo dos EUA que desbloqueie o dinheiro da Venezuela retido no sistema bancário internacional, devido às sanções. Curiosamente, um dia antes da Assembleia, os EUA anunciaram um novo pacote de assistência financeira para a crise humanitária no país caribenho.

China e Rússia, por Carla Morena e João Bernardo Quintanilha Chagas

Na terça-feira (21), o presidente da China, Xi Jinping, discursou por vídeo na 76ª sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas. Primeiramente, Xi reforçou a luta global contra a covid-19, enfatizando o valor da vida e a importância da vacinação como arma contra a doença. Na sequência, o presidente destacou a necessidade de revitalização da economia e de se buscar um desenvolvimento global mais robusto, verde e equilibrado. Nesse sentido, com o objetivo de acelerar e contribuir na transição para uma economia verde e de baixo carbono, a China se comprometeu a não desenvolver projetos de energia elétrica alimentados a carvão no exterior. Outro ponto do discurso foi a ideia do fortalecimento da solidariedade e a promoção de respeito mútuo e de cooperação vantajosa para ambas, no que diz respeito às relações internacionais. Por último, destacou o dever de se melhorar a governança global e praticar o verdadeiro multilateralismo. Em editorial, o periódico chinês pró-governo Global Times retratou a fala como pautada pela ideia de uma comunidade compartilhando um futuro para a humanidade, em contraste com os valores demonstrados no discurso de Joe Biden. Nesse sentido, sustentou que Biden menciona “todos os povos” de modo sentimental em seu discurso, pois se refere, na verdade, apenas aos EUA e a seus aliados e parceiros. Criticou, ainda, a assim chamada “transformação democrática” por meio de intervenções militares que apenas causam danos, como demonstrado no caso do Afeganistão.

Na quinta-feira (23), a Evergrande Group se comprometeu com o pagamento de juros para seus investidores. A gigante do ramo imobiliário já havia indicado ao público que não conseguiria honrar sua dívida, no valor equivalente a US$ 300 bilhões. Com isso, entraria em um cenário de default. Essa nova declaração da empresa e a ação do Banco Central chinês de injetar dinheiro no sistema bancário serviram, no entanto, para acalmar expectativas internacionais de uma nova crise, potencialmente semelhante à crise financeira de 2008. Este quadro tem gerado questionamentos sobre a vitalidade da economia chinesa e, indiretamente, sobre o governo comunista chinês. Este tem mantido sua popularidade, graças ao expressivo crescimento econômico do país, com ascensão de uma ampla classe média e melhora das condições de vida para praticamente todos os estratos sociais. Ainda assim, a BBC destaca que grandes e inesperadas mudanças regulatórias têm-se tornado comuns, lançando incertezas sobre decisões de investimentos.

Na quarta-feira (22), o chefe do Estado-Maior Conjunto dos Estados Unidos, general Mark Milley, reuniu-se com seu homólogo russo, general Valery Gerasimov, para discutir o futuro da Ásia Central. De acordo com declarações dadas à agência de notícias Associated Press, o general Mark Milley disse que “foi uma reunião produtiva. Quando líderes militares e grandes potências se comunicam, o mundo se torna mais seguro”. Em junho, durante cúpula em Genebra, o presidente Joe Biden e o presidente da Rússia, Vladimir Putin, deram início a diálogos sobre a estabilidade estratégica da região. Em julho, contudo, o vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Ryabkov, afirmou que Moscou alertou os Estados Unidos que qualquer implantação de tropas americanas em países vizinhos ao Afeganistão será “inaceitável”. Isso se torna uma questão fundamental para os estadunidenses, pois, sem presença no Afeganistão, o país precisa de maior compartilhamento de Inteligência, acordos de base, direitos de sobrevoo, entre outros, para monitorar uma possível recuperação da Al-Qaeda e do Estado Islâmico (EI) no país.

Marc A. Thiessen: Ask Biden about the 9/11 mastermind | | journalnow.comGeneral Mark Milley em entrevista coletiva no Pentágono, em Washington, D.C., em 1º set. 2021, sobre fim da guerra no Afeganistão (Crédito: Susan Walsh/AP)
Defesa e Segurança, por Maria Manuela de Sá Bittencourt

A vice-secretária de Defesa americana, Kathleen H. Hicks, reuniu-se, na terça (21), com o conselheiro de Segurança Nacional do Reino Unido, Stephen Lovegrove, para reafirmar a relação bilateral entre os dois países e tratar da relação trilateral com a Austrália. No encontro, foram trocadas opiniões a respeito das prioridades de defesa e segurança, incluindo as revisões estratégicas dos Estados Unidos e o AUKUS na garantia de paz e a estabilidade na região do Indo-Pacífico. Na quarta-feira (22/9), o primeiro-ministro australiano, Scott Morrison, e o secretário da Defesa, Lloyd Austin, fizeram uma reunião no Pentágono, para discutir como a parceria trilateral reforçada entre seus países e o Reino Unido avançará. Esta “se soma às parcerias existentes, sejam as parcerias e relacionamentos quádruplos, sejam as maravilhosas relações que temos com a [Associação das Nações do Sudeste Asiático] na região”, afirmou Morrison. “Mas, o mais importante, [é que o AUKUS se baseia] nas relações com a OTAN e nas relações com nossos parceiros europeus, trazendo esse foco para o Indo-Pacífico”, completou. Essa reunião ocorre uma semana depois da consulta ministerial (AUS-EUA) feita no Departamento de Estado americano.

Economia e Finanças, por Ingrid Marra e Marcus Tavares

Em 24 de setembro, o secretário adjunto do Tesouro americano, Adewale Adeyemo, enviou uma carta aos participantes do Emergency Rental Assistance Program (ERA 1), um programa que dá assistência a famílias que não possuem recursos para pagar aluguel, ou outras contas. A carta explicava o cenário das realocações de verbas futuras do ERA 1. Primeiramente, ocorrerá uma segunda rodada de oferta de fundos aos participantes do programa para aqueles que demonstrarem a necessidade de recursos adicionais. Depois, será feita a identificação de fundos alocados em excesso, com base nos relatórios enviados para o Departamento do Tesouro. Caso existam “sobras” de recursos, estes serão disponibilizados para realocação. O Departamento do Tesouro também terá um procedimento “mais justo” em relação à realocação de recursos em excesso, de modo que nenhum valor já comprometido será realocado. Para criar um processo organizado, o ERA 1 tentará fazer com que as realocações ocorram dentro de um mesmo Estado, além de implementar esse procedimento de maneira gradual. Por último, a carta diz que o Departamento do Tesouro sempre consultará povos originários e territórios especiais antes de realizar quaisquer realocações de fundos.

Durante uma conversa virtual entre alguns executivos de organizações e de empresas e o presidente do Federal Reserve (Fed, o Banco Central americano), Jerome Powell, no dia 24, foram discutidas como as consequências econômicas da covid-19 estão-se mantendo na economia estadunidense. Ao mesmo tempo em que cadeias de restaurantes e hotéis estão com dificuldades de encontrar trabalhadores, muitas pessoas desempregadas não conseguem encontrar um emprego, ainda que o número de posições tenha batido recorde. O momento, descrito como “único” por Powell, conta com problemas de suprimentos, escassez de mão de obra, entre outros desafios específicos de uma economia em constante transformação. A presidente da organização sem fins lucrativos Towards Employment, Jill Rizika, comenta que está familiarizada com as dificuldades de compatibilidade entre a população que a organização ajuda e as posições de emprego em aberto. Por volta de 60% da população que solicita ajuda da Torwards Employment tem antecedentes criminais, e somente 65%, diploma de Ensino Médio. Além disso, muitas crianças têm sido enviadas de volta para casa durante as ondas de covid-19, o que impede muitas pessoas com filhos de voltarem a trabalhar em tempo integral.

Na quarta-feira (22), Biden escreveu no Twitter: “Estou farto de ver as corporações super-ricas e gigantes que não pagam sua parte justa em impostos”. Tal fala faz referência e antecipa uma nova análise econômica publicada pela Casa Branca, no dia seguinte (23), segundo a qual os americanos mais ricos e as grandes corporações pagam proporcionalmente poucos impostos. A análise de dois economistas da Casa Branca sugere que as 400 famílias mais ricas dos EUA (detentoras de patrimônios líquidos entre US$ 2,1 bilhões e US$ 160 bilhões) pagam, em média, uma taxa de imposto de renda federal efetiva pouco superior a 8% ao ano. Segundo a análise, essas 400 famílias ganharam, entre 2010 e 2018, um total de US$ 1,8 trilhão e pagaram cerca de US$ 149 bilhões em impostos federais de renda individual. A análise é tida como um esforço para apoiar a pressão do presidente Joe Biden para aumentar os impostos sobre os ricos, de modo a financiar sua agenda econômica.

O presidente Biden disse, no último dia 25, que o orçamento de reconstrução de US$ 3,5 trilhões atingiu um impasse no Congresso. Biden reconhece as dificuldades entre democratas, que envolvem desde taxações, agenda de saúde e mudanças climáticas, mas acredita que será possível criar um momentum para a votação. A presidente da Câmara de Representantes (Deputados), a democrata Nancy Pelosi (D-CA), prevê a passagem dos dois pilares da agenda doméstica de Biden: a lei orçamentária, ainda sendo trabalhada, de US$ 3,5 trilhões, que envolve um pacote destinado a programas de seguridade social e voltados para o combate das mudanças climáticas; e outra medida separada, de aproximadamente US$ 1 trilhão, voltada, sobretudo, para financiamentos de infraestrutura. Ainda não está claro como Pelosi conciliará as diferenças durante a votação, que deve acontecer ainda em setembro.

Meio Ambiente, por Victor Hugo de Oliveira Souza

O que as mudanças climáticas e a bolha imobiliária têm em comum? Com inúmeras pessoas ainda interessadas em assumir financiamento habitacional, as mudanças climáticas podem modificar drasticamente tais contratos de médio e longo prazo, gerando um fator de incerteza significativo para o setor. O Instituto de Pesquisa para Habitação da América, da Mortgage Bankers Association, elaborou um relatório, no qual aponta o impacto da mudança climática na habitação e no financiamento habitacional. Segundo o texto, o mercado de hipotecas não está preparado para o risco climático. Por isso, o fenômeno tende a aumentar a inadimplência das hipotecas, elevando a já conhecida volatilidade dos preços das casas e produzindo uma migração climática significativa. Embora já se admita a maior incidência de eventos como inundações, furacões e aumento do nível dos oceanos, eventos dessa natureza não podem ser previstos com tanta precisão. Esta característica aumenta, sensivelmente, os riscos inerentes ao mercado. Para tentar, então, minimizar o efeito dessas ameaças, investidores em títulos hipotecários já estão pedindo mais informações dos credores sobre o risco climático. A depender das análises, acredita-se que tais investidores também possam recuar, deixando o mercado de hipotecas com menos liquidez.

Migração, por Diana Obermuller

No dia 19, os mais de dez mil migrantes que acampavam debaixo da ponte de Del Rio (Texas) começaram a ser deportados sob a Title 42, a política utilizada para expulsar imigrantes e solicitantes de refúgio com a justificativa de prevenir surtos da covid-19. No mesmo dia, começaram a circular imagens e vídeos de agentes da fronteira a cavalo, agarrando, perseguindo e usando as rédeas para atingir os migrantes. Na segunda-feira (20), o Departamento de Segurança Interna dos Estados Unidos afirmou que iniciaria uma investigação sobre o tratamento dado aos migrantes para avaliar possíveis ações disciplinares. Em pronunciamento no dia 21, o secretário deste Departamento, Alejandro Mayorkas, e a vice-presidente dos EUA, Kamala Harris, disseram estar “horrorizados” com as imagens. A gravidade da situação ficou demonstrada no dia 22, quando o enviado especial dos EUA para o Haiti, Daniel Foote, renunciou ao cargo, afirmando que não queria ser associado à “decisão desumana e contraproducente de deportar milhares de refugiados haitianos” de volta para o país. Foi somente no dia 24 que o presidente Biden se pronunciou sobre a crise na fronteira: “É horrível o que vocês viram. Ver pessoas como eles viram, com cavalos, atropelando-os, pessoas sendo amarradas, é ultrajante”. No mesmo dia, Mayorkas comunicou que não havia mais migrantes haitianos no acampamento em Del Rio. Sob a política Title 42, 2.000 migrantes foram deportados para o Haiti, e cerca de 8.000 voltaram para o México.

Na prática, a política migratória de democratas e republicanos é muito diferente? Assista ao episódio do Diálogos INEU, de 7 out. 2021, com os pesquisadores Neusa Maria Bojikian (INCT-INEU) e William Laureano (PPGRI – Unesp/Unicamp/PUC-SP) para entender melhor

Oriente Médio, por Luísa Azevedo e Maria Manuela de Sá Bittencourt

O Departamento da Defesa anunciou na segunda-feira (20), que a investigação realizada pelo Comando Central dos EUA sobre o ataque aéreo de 29 de agosto, em Cabul, passará por uma nova revisão. “Parte dessa revisão vai ser para examinar a investigação em si, o rigor da investigação, estudar até que ponto quaisquer políticas, procedimentos (…) poderão precisar ser alterados daqui para frente”, disse o porta-voz do Pentágono, John F. Kirby, acrescentando que o secretário Lloyd Austin pediu que este procedimento seja concluído dentro de 45 dias.

Em discurso na 76ª Assembleia Geral da ONU na terça (24/9), o presidente Biden afirmou que, pela primeira vez em 20 anos, “os Estados Unidos não estão em guerra”, após a retirada do Afeganistão. Analistas destacam, porém, que conflitos militares de menor escala prosseguem, como parte da política de contraterrorismo do país, com 2.500 militares estacionados no Iraque, mais de 900 soldados na Síria e ataques aéreos na Somália.

As relações entre Estados Unidos e Afeganistão apresentam impasses, na medida em que Washington ainda não reconhece a legitimidade do governo talibã. Isso tem criado obstáculos para um novo envio de ajuda humanitária, de mais de US$ 64 milhões, para o Afeganistão. Enquanto isso, o Talibã solicitou falar na Assembleia Geral da ONU e sustenta que o atual embaixador na ONU, Ghulam Isaczai, não mais representa o país. O acompanhamento da situação do Afeganistão também foi pautado pelo secretário Antony Blinken em reuniões com os ministros das Relações Exteriores da Turquia e do Paquistão.

Ainda na Assembleia, na quarta-feira (22), a Associated Press reportou a saída dos representantes dos EUA e Israel durante apresentação de resolução que relaciona o sionismo ao racismo. No mesmo dia, o Departamento de Estado anunciou mais de US$ 290 milhões em ajuda humanitária ao Iêmen para dar assistência a 20 milhões de pessoas. A assistência também inclui a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID, na sigla em inglês) e está de acordo com discussões para refugiados iniciadas por União Europeia, Suécia e Suíça na Assembleia da ONU.

Na quinta (23), o secretário Antony Blinken participou da reunião ministerial do Conselho de Cooperação do Golfo (GCC, da sigla em inglês), em Nova York. Ele falou da importância da parceria com os países do Golfo e reiterou o interesse dos Estados Unidos pela paz na região do Oriente Médio. Entre os pontos discutidos, destacam-se os esforços por uma resposta conjunta ao conflito no Iêmen; o uso da diplomacia para se alcançar o retorno mútuo aos compromissos previstos no Plano de Ação Conjunto Global (JCPOA, na sigla em inglês) – referente ao programa nuclear iraniano –; a ação conjunta para lidar com o “contínuo comportamento agressivo do Irã”; e a condenação dos ataques dos huthis à Arábia Saudita.

Em resposta, o presidente do Irã, Seyyed Ebrahim Raisi, discursou na Assembleia Geral da ONU e pediu o fim das sanções ao país. Declarou, ainda, que o programa nuclear iraniano não tem por objetivo produzir armas nucleares. Sobre este tema, um funcionário de alto escalão do Departamento de Estado disse, na quinta-feira (23), que o país trabalha em planos de contingenciamento, caso o Irã prossiga no desenvolvimento do plano nuclear, uma vez que “não está interessado em voltar ao JCPOA”.

Política Doméstica, por Augusto Scapini

No dia 23, a Secretaria de Estado do Texas anunciou uma auditoria forense dos resultados das eleições de 2020 nos condados de Dallas, Harris, Tarrant e Collin. Isso ocorreu após o ex-presidente Donald Trump pedir ao governador Greg Abbott (R-TX) para introduzir legislações, visando à reavaliação dos resultados. As autoridades eleitorais dos condados responderam ao anúncio, afirmando que a auditoria é mais uma tentativa de manipulação partidária por parte dos republicanos e que não houve fraudes no processo eleitoral. Um dia depois, também afirmaram que não receberam informações de como será conduzido o processo de auditoria, nem tiveram qualquer resposta da Secretaria de Estado, ou do gabinete do governador.

Durante a semana, quatro membros republicanos da Câmara de Representantes introduziram artigos de impeachment contra o presidente Biden. Como causa, o quarteto alegou a má gestão do presidente em relação ao Afeganistão, aos conflitos na fronteira com o México e à moratória que proibia o despejo de inquilinos durante a pandemia. Essa é a sexta resolução de impeachment aplicada contra Biden desde o começo de seu mandato. As outras cinco foram encaminhadas para um Comitê Judiciário, sem resposta. De qualquer modo, mesmo que o processo seja encaminhado para o Congresso, não será aprovado por uma Câmara de maioria democrata.

Relações Transatlânticas, por Vitória Martins

Na semana anterior, o presidente Joe Biden anunciou o Pacto AUKUS, em videoconferência simultânea com o primeiro-ministro australiano, Scott Morrison, e o britânico, Boris Johnson. No dia 22, Biden conversou por telefone com o presidente da França, Emmanuel Macron, sobre o tema. Este pacto estratégico custou ao Estado francês o rompimento de um contrato avaliado em bilhões de dólares. A venda de submarinos franceses convencionais para o governo australiano foi cancelada frente ao fornecimento de submarinos nucleares – e o compartilhamento desta tecnologia – por parte do governo americano, ao país da Oceania. Apesar das relações estremecidas, Macron concordou com o retorno do embaixador francês a Washington. E, na tentativa de amenizar o clima de desconfiança, Biden “reconheceu” a necessidade de consultar sua contraparte europeia, a fim de alcançar “objetivos comuns”. Os líderes devem se encontrar na Europa no final do mês que vem.

O que é a aliança AUKUS e qual seu impacto para as relações transatlânticas? Assista ao último episódio do Diálogos INEU, de 23 set. 2021, com as pesquisadoras Solange Reis e Tatiana Teixeira

 

Primeira revisão: Rafael Seabra. Edição e revisão final: Tatiana Teixeira.

Assessora de Imprensa do OPEU e do INCT-INEU, editora das Newsletters OPEU e Diálogos INEU e editora de conteúdo audiovisual: Tatiana Carlotti. Contato: tcarlotti@gmail.com.

 

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