Sociedade

Governador de NY, Andrew Cuomo, renuncia após acusações de assédio sexual

Em vídeo, governador Andrew Cuomo anuncia saída do cargo, em 10 ago. 2021 (Crédito: Gabinete do Governo do estado de NY)

Por Diana Obermuller*

Em 10 de agosto, o governador de Nova York, Andrew Cuomo (D-NY), renunciou ao cargo, após a divulgação de um relatório, confirmando que ele assediou 11 mulheres, entre atuais e ex-funcionárias do governo. Assim que o relatório foi divulgado pela procuradora-geral de Nova York, Letitia James, no dia 3, surgiram diversos pedidos pela saída de Cuomo, incluindo do presidente, Joe Biden, e da líder da Câmara de Representantes, Nancy Pelosi (D-CA). Anteriormente aclamado pela forma como que conduziu seu governo no início da pandemia, o governador agora estava cada vez mais isolado em meio às investigações para um possível processo de impeachment, às acusações de assédio e ao escândalo envolvendo as mortes em lares de idosos por covid-19.

Em seu discurso de renúncia, Cuomo voltou a afirmar que as acusações de assédio eram falsas, além de ressaltar as medidas progressistas aprovadas por seu governo, citando as comunidades latina, negra e LGBTQ+. Com um histórico de alinhamento público com o movimento #MeToo, Cuomo cultivava uma imagem progressista, a qual continua a explorar para se defender das acusações. De acordo com os investigadores, porém, o ambiente de trabalho cultivado pelo governador era “hostil” e ajudou a permitir a “ocorrência de assédio”, fazendo as mulheres temerem retaliações.

Segundo o relatório, Cuomo e seus aliados próximos promoveram tentativas de desacreditar Lindsey Boylan – a primeira mulher que anunciou publicamente ter sofrido assédio –, em dezembro do ano passado, vazando seus registros pessoais. Além disso, o governador teve aliados de grupos de defesa dos direitos LGBTQ+ e de proteção às vítimas de assédio sexual, que o ajudaram a ajustar sua resposta pública às alegações. Dentre estes, Alphonso David, presidente da Human Rights Campaign – a maior organização de lobby LGBTQ+ no país –, e Roberta A. Kaplan, presidente da Time’s Up. Após a divulgação do relatório, Kaplan renunciou a seu cargo na organização que defende sobreviventes de assédio e abuso sexual.

Lindsey Boylan Reflects on Women Who Accused Cuomo of Misconduct - The New York Times

Crédito: Eduardo Munoz Alvarez/Associated Press)

Além da investigação conduzida pela Procuradoria Geral sobre os casos de assédio sexual, Cuomo estava sendo investigado por um comitê da Assembleia Legislativa de Nova York desde março, para um possível processo de impeachment. As acusações contra o governador envolviam não apenas os relatos de assédio, mas também esforços para esconder os números reais de mortes em lares de idosos por covid-19, o uso de recursos do estado para escrever um livro que lhe rendeu US$ 5,1 milhões e a omissão de potenciais problemas estruturais na ponte do governador Mario M. Cuomo.

Antes da renúncia, o impeachment de Cuomo era considerado quase certo. Uma pesquisa da Associated Press descobriu que a maioria dos membros da Assembleia favorecia o início do julgamento político. Com a divulgação do relatório, o inquérito que avançava lentamente começou a ganhar ímpeto. Carl Heastie (D-NY), presidente da Assembleia, afirmou “agiremos rapidamente e tentaremos concluir nossa investigação de impeachment o mais rápido possível”. Com a renúncia, ainda não está claro se o processo irá adiante. O comitê responsável deve se reunir, em 16 de agosto, para decidir os próximos procedimentos.

Cuomo ainda pode enfrentar investigações criminais e processos civis. Na semana passada, Brittany Commisso, cujo relato está presente no relatório, apresentou uma queixa-crime contra ele no condado de Albany. Não foi divulgado se o promotor do condado de Albany, David Soares, ou qualquer um dos outros quatro promotores que solicitaram os materiais da investigação da Procuradoria Geral, irão acusar o governador. Além disso, Lindsey Boylan já declarou que pretende processar tanto Cuomo quanto seus aliados próximos envolvidos nas tentativas de difamá-la.

Com a saída de Cuomo, quem assumirá o governo daqui a duas semanas será sua vice, Kathy Hochul (D-NY), a primeira governadora do estado. Em um pronunciamento breve após a renúncia, Hochul afirmou que a decisão do governador era “a coisa certa a fazer e no melhor interesse dos nova-iorquinos”. A futura governadora não tinha um relacionamento próximo de Cuomo e, após a divulgação do relatório no dia 3, escreveu em seu Twitter: “A investigação documentou comportamento repulsivo e ilegal do governador em relação a várias mulheres. Eu acredito nessas mulheres corajosas e admiro sua coragem”. Hochul agendou uma entrevista coletiva para esta quarta, dia 11.

Além de Kathy Hochul, outras vozes já se pronunciaram sobre a renúncia de Cuomo. O presidente Joe Biden disse respeitar a decisão do governador. Lindsey Boylan agradeceu aos investigadores e “a todos aqueles que perseguiram a verdade, apesar das intimidações e das ameaças de retaliação”. Por fim, a procuradora geral, Letitia James, afirmou “O dia de hoje fecha um capítulo triste para toda Nova York, mas é um passo importante em direção à justiça”.

 

* Diana Obermuller é pesquisadora júnior do OPEU, bolsista de Iniciação Científica do INCT-INEU/PIBIC-CNPq e graduanda em Relações Internacionais do Instituto de Relações Internacionais e Defesa (IRID/UFRJ). Contato: dianaobermuller@gmail.com.

** Recebido em 10 ago. 2021 e publicado com revisão e supervisão da editora do Opeu e professora colaboradora do IRID/UFRJ, Tatiana Teixeira, e do editor associado do Opeu, Rafael Seabra. Este Informe não reflete, necessariamente, a opinião do Opeu, ou do INCT-INEU.

 

Assessora de Imprensa do OPEU e do INCT-INEU, editora das Newsletters OPEU e Diálogos INEU e editora de conteúdo audiovisual: Tatiana Carlotti. Contato: tcarlotti@gmail.com.

 

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