Resumo da Semana

EUA e o Resumo da Semana (de 25 a 31 jul. 2021)

‘Perdoe nosso aluguel’, diz pichação em Los Angeles, em 1º de maio de 2020 (Crédito: Valerie Macon/AFP via Getty Images)

Por Equipe Opeu*

América Latina

No dia 26, o presidente da Colômbia, Iván Duque, pediu aos Estados Unidos que incluam a Venezuela na lista de países patrocinadores do terrorismo. Segundo Duque, os venezuelanos ofereceram proteção aos rebeldes que atentaram contra o helicóptero presidencial, em 25 de junho. A declaração do colombiano se deu em um evento que contava com a presença do embaixador dos EUA na Colômbia, Philip Goldberg. A Colômbia acredita que o ataque foi planejado na Venezuela por dissidentes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc, agora extintas) e por um ex-oficial do Exército colombiano. Caso seja incluída na lista, a Venezuela poderá sofrer novas sanções comerciais e restrições da assistência externa estadunidense. No mesmo dia, o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, conversou por telefone com a vice-presidente e ministra das Relações Exteriores da Colômbia, Marta Lucía Ramírez, reafirmando a longa parceria entre os dois países e a importância de avançar e defender a democracia na região, particularmente no Haiti, Nicarágua, Venezuela e Cuba, além de apoiar a recuperação econômica e o ritmo da vacinação na Colômbia.

Blinken também felicitou o presidente recém-eleito do Peru, Pedro Castillo, na segunda (26) por sua vitória nas urnas. O secretário parabenizou o povo peruano pela sua escolha nas urnas. Na ocasião reforçou, ainda, o apoio dos EUA ao Peru para superar a pandemia da covid-19 e afirmou que está ansioso para cooperar com a nova administração peruana, à espera de um papel construtivo em relação à Venezuela, a Cuba e à Nicarágua.

O governo cubano acusou os EUA de pressionaram os membros da Organização dos Estado Americanos (OEA) a condenarem a ilha no Conselho Permanente da instituição. O tom hostil estadunidense cresceu após os recentes protestos populares contrários ao governo em Cuba. A reação das autoridade cubanas se dá, após a adoção de uma declaração conjunta, com a participação de 20 países e liderada pelos EUA, pedindo que Cuba respeite direitos e liberdades civis. Entre os países que assinaram o documento, encontram-se Brasil, Colômbia, Equador, Guatemala e Honduras, que denunciaram as prisões e detenções dos manifestantes cubanos por parte do governo, pressionando por liberdades civis e de imprensa.

O pesquisador do INCT-INEU e professor da FAAP Carlos Gustavo Poggio Teixeira propõe uma leitura eleitoral sobre a política do democrata Joe Biden para Cuba. O peso do voto dos Cuban-Americans na Flórida, um swing state (estado pendular, ou indeciso), faz deste um tema de política externa dos mais atravessados pela política doméstica. Talvez motivados pelo que percebem como uma guinada à esquerda do Partido Democrata, esses eleitores se tornaram mais conservadores. Trata-se de uma reversão da direção percebida durante o governo Barack Obama, quando gerações mais jovens de Cuban-Americans tendiam para a legenda democrata, o que tornava o cenário mais propício ao caminho da normalização das relações diplomáticas bilaterais.

Will flag-waving Latinos win Florida for Trump? - POLITICO

Cubano-americanos pró-Trump em comício em Miami em 25 jun. 2019 (Crédito: Joe Raedle/Getty Images)

China

No dia 26, houve uma reunião bilateral de alto escalão entre China e EUA, no município chinês de Tianjin. Compareceram a secretária de Estado adjunta dos Estados Unidos, Wendy Sherman, e o vice-ministro das Relações Exteriores da China, Xie Feng. Apesar de tom apaziguador, houve atritos e acusações por parte de ambos os lados. Os EUA apontaram as violações de direitos humanos que ocorrem dentro do território chinês, como o desmonte da democracia em Hong Kong, além de lançar críticas à postura da China de não participar da investigação conduzida pela OMS sobre a origem da pandemia. Xie rebateu, declarando que os EUA “não estão em posição de censurar a China” em casos que envolvam democracia, ou violação dos direitos humanos, e afirmou que é do interesse de Pequim construir um “novo tipo de relações internacionais baseada no respeito”. Apesar do clima de intensa rivalidade entre as potências, Sherman também declarou que os EUA não buscam um conflito e que há interesse na cooperação entre os países em áreas específicas, como mudança climática e Coreia do Norte. Uma cúpula entre Biden e Xi Jinping ainda não foi discutida, mas se espera que um encontro bilateral possa acontecer na próxima reunião do G-20, no final de outubro.

Defesa e Segurança

No dia 26, o secretário da Defesa dos EUA, general Lloyd Austin, chegou a Singapura, em viagem pelo Sudeste asiático, que inclui Vietnã e Filipinas. Em uma região definida como crucial, o chefe do Pentágono ressaltou o apoio estadunidense no enfrentamento da pandemia do coronavírus e a confiabilidade da parceria entre os Estados Unidos e seus aliados. Em mensagem direta para a China, afirmou que a situação do Mar do Sul da China gera preocupações no entorno quanto à possibilidade de que “as regras” possam estar se deteriorando. Ao mesmo tempo, declarou que “nenhum país pode determinar as regras para outros países”. Nesse contexto, enfatizou os esforços para a atualização das capacidades conjuntas. Em discurso, observou ainda que os EUA trabalharão por meio de organizações regionais e multilaterais, assim como pelo Conselho de Segurança da ONU. O secretário denunciou a agressividade da China em relação à índia, a Taiwan e contra os muçulmanos uigures em Xinjiang e encerrou afirmando que as parcerias estratégicas “podem nos levar para mais perto do projeto comum histórico de um Pacífico livre e aberto – em paz consigo mesmo e com o mundo –, para uma ordem regional mais forte e estável, onde os países resolvem disputas amigavelmente e defendem todos os direitos de todos os seus cidadãos”. Nas Filipinas, o secretário e o presidente Rodrigo Duterte assinaram a renovação do Visiting Forces Agreement (VFA), um acordo de defesa entre os dois países.

Em discurso no Centro Nacional de Contraterrorismo, no dia 27, o presidente Joe Biden enfatizou a necessidade de uma volta ao “básico”, ou seja, assegurar que a comunidade de Inteligência não terá seu trabalho “politizado” e que agirá dentro dos parâmetros legais, sob supervisão do Congresso. Biden enxerga um mundo em rápida mudança, no qual a ameaça de ataques cibernéticos ganha maior peso e pode desencadear conflitos reais. Segundo ele, para além de sua capacidade de interferir no processo eleitoral estadunidense, a Rússia estaria mais perigosa, acuada por sua fragilidade econômica. A China é tida, por sua vez, como uma rival decidida a se tornar a maior potência militar e a maior economia do mundo, em meados de 2040. A rivalidade com a China é, no entanto, compreendida de modo mais nuançado do que no governo de Trump, havendo espaço para cooperação em agendas de mútuo interesse, como no tema das mudanças climáticas.

Economia e Finanças

Um dos marcos da semana foi o anúncio de que o PIB dos EUA no último trimestre retornou ao patamar pré-pandemia, com crescimento de 6,5%, porém ainda abaixo das previsões de 8%. O crescimento reflete o aumento nas contratações de trabalhadores e a retomada do setor de serviços – em especial, lazer e turismo. Se, por um lado, alguns americanos receberam cheques de estímulo econômico de US$ 1.400 no final da primavera (outono no Brasil), ou benefícios de desemprego estendidos, por outro, a variante Delta ainda traz temores ao mercado, além de dificultar cadeias de suprimentos.

No dia 30, foi divulgado o Personal Consumption Expenditures (PCE), índice de preços para gastos de consumo pessoal. O PCE registrou um aumento de 4% em relação ao ano anterior – a maior leitura anual em 30 anos. Economistas acreditam que esse ritmo de alta não irá se manter. Já o Employment Cost Index (ECI), Índice de Custo do Emprego, subiu 0,7% no último trimestre, após aumento de 0,9% no período de janeiro a março. A economia estaria sofrendo escassez de trabalhadores, a despeito dos cerca de 9,5 milhões de pessoas oficialmente desempregadas. A ausência de serviços de cuidado infantil (child care) acessível, como creches, e o medo de contaminação pelo coronavírus são apontados como motivos para que trabalhadores não retornem ao mercado. Muitos republicanos e grupos de empresários culpam, no entanto, os auxílios concedidos pelo governo aos desempregados.

Também nesta semana, o Senado aprovou a abertura da discussão quanto ao pacote de infraestrutura de cerca de US$ 1 trilhão. A proposta foi negociada durante meses entre um grupo bipartidário de legisladores e a Casa Branca. Democratas pretendem que esta seja a primeira de um conjunto de medidas, que passa ainda por um pacote de US$ 3,5 trilhões em “infraestrutura humana” e enfrenta forte oposição dos republicanos. As concessões necessárias para aprovar o pacote de infraestrutura foram, porém, alvo de críticas, por não considerarem as questões de segurança nas ruas e a emissão de carbono, resultantes da priorização do transporte por automóveis. Para os defensores do projeto, cabe notar, o acordo bipartidário é mais importante que o conteúdo em si, pois alcança algo que a administração de Trump não conseguiu cumprir, apesar do prometido. No dia 28, o ex-presidente se manifestou sobre o acordo, ameaçando membros do Partido Republicano que apoiassem o projeto.

No dia 28, Biden apresentou proposta para a impulsionar a indústria nos Estados Unidos por meio de uma política de Buy America nas compras do governo federal.

Oriente Médio

No dia 26, o presidente Joe Biden se encontrou com o primeiro-ministro do Iraque, Mustafa Al-kadhimi. De acordo com o presidente americano, em seu governo, os EUA assumirão um papel consultivo no combate ao Estado Islâmico (EI). Biden também excluiu a possibilidade de tropas americanas entrarem em missão de combate no Iraque até o final de 2021. Biden e Al-kadhimi conversaram sobre a importância de as eleições no Iraque, previstas para outubro deste ano, serem transparentes e ocorrerem dentro do prazo estabelecido. O presidente dos EUA e seu homólogo iraquiano comentaram a relevância da missão da ONU em apoio a eleições justas, transparentes e democráticas no país.

No dia 29, o Congresso dos Estados Unidos aprovou US$ 1,1 bilhão para financiar o programa de realocação de afegãos que apoiaram a campanha militar. De acordo com o senador Patrick Leahy (D-VT), o dinheiro será destinado para expandir o número de vistos especiais e prover “ajuda humanitária para a enxurrada inevitável de afegãos que fogem para os países vizinhos”. No dia seguinte (30), o primeiro voo da Operation Allies Refuge chegou aos Estados Unidos com 200 afegãos elegíveis para vistos especiais, devido ao seu trabalho de colaboração com a campanha militar estadunidense. O segundo voo é esperado para agosto e faz parte da primeira leva de cerca de 2.5000 pessoas realocadas.

House to Vote on Speeding Visas for Afghans Who Helped U.S. - The New York Times

Crédito: Mariam Zuhaib/Associated Press)

Política Doméstica

No dia 27, o comitê bipartidário selecionado pela presidente da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi (D-CA), realizou sua primeira audiência visando à investigação dos acontecimentos ligados à invasão do Capitólio em 6 de janeiro deste ano. Nela, foram ouvidos relatos de quatro oficiais da Polícia do Capitólio presentes no dia da invasão. Um deles, Harry Dunn, um policial negro, conta que sofreu ameaças e foi ofendido com insultos raciais por apoiadores de Trump, enquanto tentava impedir sua passagem. Outro policial, Aquilino Gonell, emocionou-se ao relatar os ferimentos sofridos durante o ataque. Também expressou sua raiva, ao ser perguntado sobre o que achava dos comentários de Trump, descrevendo os acontecimentos como manifestações pacíficas. Os membros do comitê acreditam que os relatos oferecem uma visão humana e em primeira pessoa do ocorrido e servem como uma demonstração de como será investigado o evento. O episódio ainda é defendido por diversos políticos republicanos. Muitos deles convocaram um boicote ao trabalho da comissão, depois de Pelosi rejeitar a participação de certos membros do partido.

No dia 30, o presidente Biden se pronunciou sobre a expiração de uma moratória que proíbe o despejo de inquilinos com aluguel atrasado durante a pandemia. Biden pediu aos governos locais e estaduais que utilizem os fundos arrecadados pelo “Emergency Rental Assistance”, ou “Assistência de Aluguel Emergencial”, para evitar despejos em massa. Criada por Trump em 2020, a moratória teve sua data de expiração estendida diversas vezes pelo Centro de Controle de Doenças (CDC). A Suprema Corte julgou, no entanto, que a organização não teria autorização para tal decisão. Neste mesmo dia, o Congresso americano se reuniu para discutir a possível extensão da moratória, mas a reunião foi adiada sem se chegar a uma decisão. O impacto pode ser dramático. Estima-se que mais de 3 milhões de americanos sofram o risco de serem despejados, a partir do dia 31.

Política Externa

No dia 28, o presidente Joe Biden se reuniu com Svetlana Tikhanovskaya, líder da oposição do governo bielorrusso de Alexander Lukashenko, ocasião em que demonstrou seu apoio aos manifestantes pró-democracia em Belarus. Além desse movimento diplomático, que tem por objetivo aumentar a pressão sobre Lukashenko, Tikhanovskaya pediu a adoção de novas sanções em setores estratégicos, como petróleo, madeira, mineração e aço. Esta ex-professora tornada ativista política já havia se encontrado com o secretário Antony Blinken e com o conselheiro de Segurança Nacional, Jake Sullivan, neste mês de julho.

Blinken esteve em viagem desde o dia 26, com visitas à Índia e ao Kuwait. Em solo indiano, o chefe da diplomacia dos EUA se reuniu com o ministro das Relações Exteriores Subrahmanyam Jaishankar e com o primeiro-ministro Narendra Modi. Vários assuntos foram debatidos, entre eles, a importância da cooperação e a situação de segurança no Afeganistão. O secretário estadunidense não deixou de criticar veladamente o governo indiano, afirmando a necessidade de se fortalecer suas instituições democráticas. Além disso, reuniu-se rapidamente com um representante do Dalai Lama, Ngodup Dongchung, em Nova Délhi.

no Kuwait, Blinken se encontrou com o emir Nawaf Al-Ahmad Al-Jaber Al-Sabah e com o ministro das Relações Exteriores, xeque Ahmed Nasser Al-Mohammed Al-Sabah. Em solo kuwaitiano, o secretário de Estado abordou as negociações relativas ao acordo de não-proliferação nuclear com o Irã, atribuindo ao Irã a responsabilidade pela continuidade das discussões, que “não podem prosseguir indefinidamente”. Além disso, procurou negociar com o Kuwait e com outros países da região a possibilidade de concessão de abrigo aos aliados afegãos, em razão da retirada das tropas americanas da região. Blinken teme que estes sofram algum tipo de represália dos talibãs por terem colaborado os EUA. No mais, expressou sua preocupação com a crise democrática na Tunísia, após a suspensão das atividades do Parlamento e a destituição do governo do primeiro-ministro Hichem Mechichi.

Relações Transatlânticas

No dia 28, aconteceu a 45ª Reunião da Comissão Bilateral Permanente (CBP) entre Portugal e os EUA, em Washington, D.C. Os países reafirmaram seu “diálogo político intenso” e sua estreita cooperação em temas como o comércio internacional e a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). Estas afirmações podem colocar em xeque a tentativa da China de ter Portugal como um aliado estratégico. No dia 22, o conselheiro de Estado e ministro dos Negócios Estrangeiros da República Popular da China, Wang Yin, conversou por videochamada com seu equivalente em Portugal, Augusto Santos Silva, e manifestou a expectativa de que o país europeu se oponha à “politização” da origem do coronavírus e da pandemia da covid-19 – em alusão às tentativas da Organização Mundial da Saúde (OMS) e dos Estados Unidos de investigarem a origem do vírus.

Saúde

A saúde mental é um dos assuntos mais falados nos Estados Unidos nos últimos dias, em especial pela repercussão das declarações da ginasta americana Simone Biles e de sua decisão de não completar sua participação nos Jogos Tóquio-2020. Um anúncio que surpreendeu os fãs, que esperavam que a ginasta de 24 anos, amplamente considerada como a maior de todos os tempos, conduzisse sua equipe ao ouro. A decisão de Biles faz parte de um crescente movimento entre os atletas estadunidenses que estão buscando priorizar sua saúde mental.

A temida variante Delta é, agora, a grande responsável pelo aumento do número de casos de covid-19 nos Estados Unidos, que avançam no país. Vários estudos, incluindo os referidos na apresentação dos Centros para Controle de Doenças (CDCs), mostraram que as vacinas continuam sendo eficazes contra a variante Delta, particularmente contra a hospitalização e a morte. Em condados onde as taxas de vacinação são baixas, os casos estão aumentando rapidamente, porém, assim como o número de óbitos.

Como os EUA seguem em uma batalha ferrenha contra o coronavírus, especialistas preveem que a divisão entre vacinados e não vacinados continuará existindo. Em algumas partes do país, onde as taxas de vacinação são baixas, os hospitais estão voltando a criar alas especiais para o tratamento da covid-19, enquanto os hospitais dos condados onde as taxas de vacinação são mais elevadas poderão ver um menor afluxo de doentes.

Sociedade

As mobilizações pelos direitos de voto continuam nos EUA. No dia 28, uma marcha de quatro dias começou na cidade de Georgetown (Texas), com previsão de terminar em Austin, capital do estado, no sábado (31). Em Washington, mais uma manifestação de grupos de mulheres ocorreu no Capitólio, na quinta-feira (29). As principais reivindicações são o fim da regra do filibuster (uma prática de obstrução legislativa) e a aprovação de dois projetos de lei (For the People Act e a John Lewis Voting Rights Advancement Act) que podem anular algumas das restrições ao voto aprovadas.

 

Primeira revisão: Rafael Seabra. Edição e revisão final: Tatiana Teixeira.

Assessora de Imprensa do OPEU e do INCT-INEU, editora das Newsletters OPEU e Diálogos INEU e editora de conteúdo audiovisual: Tatiana Carlotti. Contato: tcarlotti@gmail.com.

 

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