A Cúpula da Rússia e dos EUA: ceticismo, mas esperança cautelosa
por Clifford Kupchan
Traduzido do Valdai Club*
O anúncio de que o presidente Donald Trump se encontrará com o presidente Vladimir Putin em Helsinque, em 16 de julho, enfrentou considerável ceticismo nos Estados Unidos. Membros do Congresso de ambos lados e especialistas influentes duvidaram da sensatez da reunião por várias razões. No rescaldo da reunião de Trump com Kim Jong-un, em 12 de junho, muitos nas elites americanas temem que o presidente dos Estados Unidos faça concessões insensatas à Rússia. Eles temem que, por gostar tanto das cúpulas em estilo reality show, Trump esteja motivado a fazer concessões indevidas ao seu interlocutor. Seu principal exemplo é a suspensão dos “jogos de guerra” na península coreana, uma concessão para a qual os Estados Unidos, de fato, não obtiveram nenhum benefício aparente.
As recentes declarações de Trump sobre a Rússia provocaram alarmes nos Estados Unidos e na Europa e aumentaram o ceticismo sobre a cúpula. Ele pediu que a Rússia se junte ao G7, defendeu as ações russas na Crimeia e continuou a expressar opiniões ambíguas sobre se a Rússia interferiu na eleição presidencial dos Estados Unidos em 2016. Além disso, muitos nos Estados Unidos e na Europa estão preocupados porque a cúpula EUA-Rússia ocorrerá logo após a da OTAN, de 11 a 12 de julho. Líderes de ambos os lados do Atlântico estão preocupados que o encontro da OTAN não vá bem, dadas as relutantes relações do presidente Trump com muitos líderes europeus. Eles não querem uma repetição da tensa reunião do G7 em junho. Trump tem continuamente enviado mensagens conflitantes sobre o seu apoio à OTAN, expressando solidariedade, mas também dúvidas sobre sua missão e custo atuais. No mês passado, o presidente dos Estados Unidos enviou cartas a vários líderes europeus reclamando que suas nações não estão pagando o suficiente para as despesas da OTAN. Dado o desconforto de longa data da Rússia com a OTAN e sua expansão contínua, muitos observadores temem que uma cúpula problemática da organização possa abrir a porta para a Rússia enfraquecer ainda mais a aliança quando Putin e Trump se encontrarem.
Na cúpula de Helsinque, devemos esperar uma melhoria modesta nas relações EUA-Rússia. Várias questões estão potencialmente maduras para o progresso. Em primeiro lugar, os lados podem revigorar a cooperação na Síria. Uma zona de desescalada militar patrocinada pelos Estados Unidos e pela Rússia no sudoeste da Síria entrou em colapso e os líderes podem abordar a catástrofe humanitária que está ocorrendo na região de Daraa. Os dois presidentes também podem encontrar um terreno comum ao circunscrever o papel iraniano na Síria. Os Estados Unidos querem que o Irã saia da Síria como parte de seu esforço para conter esse país na região. A Rússia e o Irã foram “aliados” no conflito na Síria e, em certa medida, isso continuará. Mas, posteriormente, a principal prioridade para o Irã será manter sua infraestrutura militar na Síria, enquanto a Rússia se tornará mais focada na reconstrução e estabilidade. Trump e Putin podem encontrar um terreno comum para restringir a política iraniana.
Em segundo lugar, os Estados Unidos e a Rússia provavelmente abordarão como lidar com a renovação do New START quando o tratado expirar em 2021. O progresso será lento, dado o compromisso dos Estados Unidos com a modernização de suas forças estratégicas, bem como uma revisão contínua do tratado pelo governo americano. Mas Washington não negou firmemente a extensão do tratado. Finalmente, haverá discussão sobre a produção de petróleo. Com o preço girando em torno de 78 dólares americanos por barril, os Estados Unidos estão pressionando outras nações para aumentar a produção – o que a Rússia está disposta e é capaz de fazer.
Mas qualquer aquecimento nas relações será ameno. A situação na Ucrânia, uma das principais causas de tensão, continua a ser um beco sem saída. A retomada do diálogo entre Kurt Volker, dos Estados Unidos, e Vladislav Surkov, da Rússia, é provável, mas parece haver diferenças fundamentais sobre como reativar o processo de paz em Minsk. Um acordo sobre uma força de paz parece ser o primeiro passo, mas as abordagens norte-americana e russa, até agora, são diferentes.
Quando se trata da Ucrânia ou das sanções correspondentes, as mãos de Trump estão parcialmente atadas pela política interna dos Estados Unidos. O Congresso continua rígido com a Rússia, tem poder de veto sobre a remoção de sanções e criará um alvoroço se Trump “for longe demais”. A investigação de Mueller está em um estágio delicado, já que provavelmente será concluída em vários meses. Isso tornará o Congresso ainda mais sensível a aberturas em relação à Rússia neste momento e pode até vincular o quanto o próprio presidente Trump estará disposto a avançar.
Tradução por Solange Reis
*Artigo originalmente publicado em 09/07/2018, em http://valdaiclub.com/a/highlights/the-russia-us-summit-skepticism-but-cautious-hope/