Internacional

Capacite um “Banco do Irã” alemão para salvar o acordo nuclear iraniano

A perspectiva de garantir grandes investimentos do setor privado poderia dar ao Irã  incentivo para manter sua parte no acordo nuclear, apesar da retirada de Washington. Laura von Daniels argumenta que um banco alemão privado do Irã seria um caminho.

por Laura von Daniels

Traduzido do IRNA*

 

A União Europeia (UE) tem procurado respostas desde que Washington se retirou do acordo nuclear com o Irã (JCPOA, na sigla em Inglês). O acordo entrará em colapso caso Teerã perca os benefícios econômicos do comércio internacional.

Se grandes empresas ocidentais saírem do país – especialmente do setor de petróleo e gás -, o Irã terá poucas razões para honrar sua parte no acordo.

Quando Donald Trump se retirou do JCPOA, no início de maio, ele também reaplicou “o mais alto nível de sanções econômicas” que haviam sido suspensas como parte do acordo nuclear com o Irã. As sanções dos Estados Unidos não se restringem aos atos de empresas de propriedade norte-americana; Washington também exige que empresas e indivíduos de outros países abandonem rapidamente todas as negociações com o Irã.

As sanções norte-americanas relacionadas a armas nucleares entram em vigor no dia 6 de agosto, embora certos setores, incluindo o petrolífero, tenham até 4 de novembro para cumprir o que foi determinado. Não só as empresas que comercializam com o Irã serão impedidas de fazer negócios nos Estados Unidos

Sujeitos a sanções secundárias, bancos e empresas financeiras que transacionam com o Irã serão excluídos dos mercados financeiros dos Estados Unidos. A estratégia americana parece ser eficaz: mesmo antes do anúncio oficial de Trump, empresas que atuavam no Irã vinham encerrando suas operações e repatriando os lucros. Até o momento, nenhum grande banco da UE ou dos Estados Unidos se declarou disposto a comprar a briga do Irã.

A Comissão Europeia poderia forçar as empresas europeias a ignorar as sanções secundárias dos Estados Unidos invocando o Estatuto de Bloqueio de 1996, atualizado em 6 de junho de 2018. O Estatuto nunca foi utilizado e se a UE o aplicar agora corre o risco de ser processada pelas empresas europeias afetadas.

Outra opção para manter viva a relação econômica com o Irã seria financiar importantes projetos de infraestrutura iraniana por meio do Banco Europeu de Investimento. Mas Teerã já deixou claro que não vai se contentar com as “migalhas” de projetos financiados por governos. Por outro lado, a possibilidade de atrair grandes projetos de investimento do setor privado representaria um incentivo real para o Irã manter seus compromissos com o JCPOA, apesar da retirada dos Estados Unidos. Isso cria uma terceira, e incomum, opção para o governo alemão, que também abriria novas perspectivas para a UE como um todo.

Berlim poderia promover o estabelecimento ou a conversão de um banco privado destinado a fornecer capital a corporações que continuem interessadas em fazer negócios com o Irã. Idealmente, seria uma instituição com ampla experiência em finanças corporativas, independente do setor financeiro americano e sem uma linha de investimentos própria nos Estados Unidos.

Um potencial candidato é o problemático Deutsche Bank, que já diminuiu grande parte de suas atividades como banco de investimento nos Estados Unidos. Se o governo alemão fosse forçado a usar receitas fiscais para resgatar o maior banco da Alemanha, ganharia voz nas prioridades dos negócios da instituição.

Para o Deutsche Bank, isso criaria a possibilidade de se expandir de volta para um mercado do qual havia sido forçado a abandonar devido a sanções anteriores dos Estados Unidos. Desde 2015, empresas começaram a investir novamente bilhões no Irã, com a gigante petrolífera francesa Total e a montadora PSA liderando o caminho.

De acordo com relatos da mídia, os setores que vendem produtos para o Irã incluem a fabricante de aeronaves europeia Airbus, montadoras de carros, empresas de engenharia, produtores de bens de consumo e empresas de transporte e logística. Essas exportações demandariam financiamento por meio de empréstimos.

Se Paris e Berlim conseguirem concordar com o apoio político de um banco iraniano baseado na Alemanha, eles não só poderão salvar o acordo nuclear com o Irã, como ganhar muito para seus respectivos setores de negócios. Ofereceria às empresas alemãs a possibilidade de avançar com os investimentos planejados e permanecer no mercado iraniano. O mesmo se aplica às corporações francesas que já fizeram grandes investimentos iniciais. Empresas de todos os tamanhos na UE inteira poderiam lucrar.

Outro benefício seria a preservação do fornecimento de petróleo e gás do Irã. Isso não é insignificante numa época em que é dada uma importância grande à necessidade de se diversificar o suprimento de energia, Aumentaria também o peso internacional da UE ao permitir que ela bloqueasse a Rússia – e sobretudo a China – de assumir o importante comércio iraniano de petróleo e gás. Não menos relevante, passaria uma mensagem forte dentro da União Europeia, no sentido de os governos colocarem em prática as promessas de “uma Europa que protege”, feitas pelo presidente francês Emmanuel Macron e pelo presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Junker. Isso significa uma UE que também esteja disposta a trilhar caminhos não convencionais para proteger seus negócios e, em última instância, seus cidadãos.

 

Dr. Laura von Daniels é vice-diretora da divisão de pesquisa do German Institute for International and Security Affairs

 

Tradução por Solange Reis

*Artigo originalmente publicado em 20/06/2018, em http://www.irna.ir/en/News/82947675

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