Economia e Finanças

Tarifas: os Estados Unidos rejeitados

por Tom Chodor
Traduzido do The Interpreter*

 

A declaração concisa da reunião dos ministros das Finanças do G7, sobre a decisão dos EUA de impor tarifas de aço e alumínio contra UE, Canadá e México, chocou muitos observadores acostumados com essas cúpulas, que terminaram com comunicados engraçados, cheios de superficialidades sobre colaboração e cooperação globais.

Em vez disso, os ministros das Finanças do G7 (menos os EUA) disseram que “a colaboração e a cooperação foram colocadas em risco pelas ações comerciais contra outros membros”. Em discurso diplomático, essas são palavras de combate, exacerbadas apenas pela alegação do primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, de estar “insultado” pelo fato de os EUA sugerirem que as importações de aço canadense representam uma ameaça à segurança nacional.

Como foi dito muito bem, a defesa da “segurança nacional” é bastante tênue, necessária para que o presidente dos EUA, Donald Trump, decrete tarifas sem aprovação do Congresso, em vez de indicar uma ameaça real à segurança. Da mesma forma, ficou bem claro que a meta real é a China, que tem deprimido os preços globais do aço com excesso de produção.

No entanto, existe também uma preocupação mais ampla de que as tarifas representem o início de uma agenda protecionista voltada não apenas para os chineses, mas também para os europeus (em particular, as exportações de carros alemães) e para o Canadá e o México (sobre o Tratado de Livre Comércio da América do Norte).

De fato, o que estamos testemunhando é um processo em que os EUA tentam reverter, ou pelo menos retardar, seu relativo declínio econômico às custas do resto do mundo, e os aliados que se danem.

Enquanto a economia dos EUA vai bem graças aos cortes de impostos de Trump, os economistas esperam que esta seja uma jogada isolada que não resolverá os problemas econômicos mais profundos dos EUA, caracterizados por desindustrialização, baixa produtividade e competitividade, e investimentos estagnados, todos ilustrados por seu grande déficit comercial, o pesadelo número um de Trump.

Nesse contexto, a política protecionista tenta reduzir o déficit sem contração doméstica, promovendo exportações e impulsionando o consumo interno. Os aliados dos EUA entendem isso bem, já que um renascimento das exportações dos EUA só pode ocorrer às suas custas. Daí a resposta concisa do G7, quando esses países percebem que estão se tornando o alvo da abordagem transacional de Trump para a política externa (econômica).

Curiosamente, esta não é a primeira vez em que os EUA tentam tal política. De fato, há paralelos interessantes com os anos 80, quando os EUA se recuperavam de uma década de estagnação e estavam sob a pressão de “potências emergentes” mais competitivas, nesse caso, a Alemanha Ocidental e o Japão. Aquele período também foi caracterizado por um grande déficit comercial dos EUA, dólar americano forte e altos pedidos por protecionismo pela indústria doméstica.

Essas pressões acabaram levando o G5 – a versão anterior do G7 – a concordar com o Acordo Plaza em 1985, segundo o qual a Alemanha, o Japão, o Reino Unido e a França se comprometeram a valorizar suas moedas em relação ao dólar. Embora o Acordo tenha sido vendido como uma decisão “cooperativa” entre os membros do G5, ele foi de fato ditado pelos EUA, em uma tentativa de exportar a sua solução para os problemas e descarregar o custo de ajuste nos seus aliados, especialmente os que ascendiam rapidamente, como Japão e Alemanha.

O Japão foi o mais afetado, com um iene mais forte, levando a uma bolha de preços de ativos que acabou por dizimar sua economia e resultou em um período prolongado de estagnação, acabando com a iminente “hegemonia japonesa” tão difundida nos anos 80. Enquanto isso, os EUA se recuperaram e reafirmaram sua hegemonia econômica ao longo dos anos 90.

Nos últimos tempos, os líderes em Washington procuraram seguir uma estratégia semelhante. O governo Obama concentrou sua ira na China e em sua “manipulação cambial”, mas fez pouco progresso. Até mesmo o Fundo Monetário Internacional declarou, em 2015, que o yuan não foi desvalorizado.

Com Trump, essa estratégia agora parece ter sido estendida a todos os concorrentes econômicos dos Estados Unidos e perseguida por meio de instrumentos muito mais suaves e coercitivos, como as tarifas, já que Washington luta para convencer seus aliados a seguir suas ordens.

E esta talvez seja a mudança mais importante em relação aos anos 80. Naquela época, a Alemanha e o Japão não tinham escolha senão aceitar as exigências dos EUA, dado que Washington garantia a segurança deles na Guerra Fria. A ameaça externa da URSS era suficiente para colocar as prioridades econômicas em segundo plano. Hoje, poucos aliados dos EUA estão dispostos a fazê-lo.

Não só não existe uma ameaça existencial comparável à da União Soviética, como os aliados dos EUA também dependem da China para seu bem-estar econômico, apesar dos recentes temores sobre a “influência chinesa”. Além disso, diferentemente dos anos 80, existe um sentimento mais amplo entre os países do G7 de que os problemas econômicos dos EUA são de sua responsabilidade por terem se baseado no “privilégio exorbitante” do dólar e se recusarem a fazer os ajustes necessários para reduzir seu déficit comercial.

Nesse sentido, a resistência do G7 em assumir o fardo dos problemas econômicos de Washington faz todo o sentido. No entanto, com um transacionalista na Casa Branca, parece improvável que os EUA mudem de rumo e aceitem mais responsabilidade por seu próprio ajuste econômico.

Em suma, aguardemos mais declarações alarmadas e concisas nos próximos meses.

 

Tradução por Solange Reis
*Artigo originalmente publicado em 07/06/2018, em https://www.lowyinstitute.org/the-interpreter/tariffs-us-rebuffed

 

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