Política Doméstica

Midterms: sinal de alerta para republicanos e democratas

por Tatiana Teixeira

Em 8 de maio, quatro estados (todos conquistados por Donald Trump em 2016) realizaram primárias republicanas: Virgínia Ocidental, Indiana, Ohio e Carolina do Norte. Foi um dia difícil para os já congressistas que foram preteridos nas disputas estaduais: três representantes candidatos às prévias do Senado acabaram perdendo para “novatos”, assim como um representante que buscaria a reeleição. Dos vencedores, nenhum é um dissidente anti-Trump e, em muitos palcos, a presença do presidente tem sido bem-vinda – especialmente em um momento de melhoria da economia americana. Ainda não é clara, porém, a extensão do poder de convocação de Trump, com uma aprovação média beirando os 40%, e de sua capacidade de transferência de votos. Historicamente, no país, o partido de presidentes com popularidade abaixo de 50% tem perdas significativas nas midterms.

Com disputas que apontavam a possibilidade de vitória dos pré-candidatos com discursos e agendas mais radicais nesses estados, um sinal de alerta tocou no GOP. A cúpula teme que candidatos mais conservadores, com discursos racistas, xenófobos, radicalmente protecionistas e uma agenda impraticável no âmbito legislativo, por exemplo, possam levar ao afastamento de uma grande parcela do eleitorado. Assim, sem surpresa, em estados naturalmente mais azuis (democratas), a estratégia é evitar posições extremadas. Já nos deep red o magnata nova-iorquino ainda é visto como um asset.

Outro sinal vermelho é a ausência de uma mensagem guarda-chuva do partido, um carro-chefe que torne mais claro para o cidadão qual é a base, na qual seus candidatos vão trabalhar na Câmara uma vez eleitos. O ex-presidente na Casa Newt Gingrich, com seu Contract with America, de forte oposição ao então governo Bill Clinton; o atual, Paul Ryan, e sua agenda Better Way; ou ainda o conjunto de propostas do Tea Party, intitulado Pledge to America, talvez sirvam de inspiração.

Alívio na Virgínia Ocidental

A briga foi feia na Virgínia Ocidental e acompanhada de perto pelos caciques do partido. No fim, os republicanos acabaram respirando aliviados com a vitória do procurador-geral do estado, Patrick Morrisey. Ele venceu as primárias para a candidatura ao Senado, derrotando Don Blankenship, ex-CEO da empresa de carvão Massey Energy, e o representante Evan Jenkins. A disputa será pela cadeira do senador democrata Joe Manchin, acusado por Morrisey de estar alinhado com “a elite e a agenda liberal de Washington”. Apontado pelos adversários democratas como um lobista em DC com vínculos com a indústria farmacêutica, Morrissey é uma das esperanças do GOP para ampliar a apertada maioria na Casa.

Polêmico, Blankenship já cumpriu pena de um ano de prisão por violar normas de segurança em suas minas, uma infração que levou à explosão de uma delas em 2010. O episódio na Upper Big Branch Mine terminou em 29 mortos. Ao longo da campanha, ele criticou o mainstream republicano, com ataques diretos, de ordem pessoal e racistas ao líder da maioria na Casa, senador Mitch McConnell (R-KY), e à família de sua mulher, a secretária dos Transportes, Elaine Chao, de origem asiática. Na reta final da campanha, anúncios de grupos ligados a McConnell e um tuíte de Trump (“Blankenship não pode vencer na Eleição Geral do seu estado”) ajudaram a enterrar suas pretensões.

Embora Donald Trump tenha sido vitorioso no estado nas eleições de 2016, o ex-CEO era visto como um risco muito grande para o partido em novembro. Ainda é recente na memória do partido a eleição especial do Alabama, em dezembro passado, na qual outro controverso candidato, o republicano Roy Moore, envolvido em um escândalo sexual com adolescentes, foi derrotado pelo democrata Doug Jones. Como tuitou Trump para esvaziar Blankenship: “Lembrem de Alabama”.

Surpresa na Carolina do Norte

Ninguém esperava, mas, por uma estreita margem (menos de mil votos), o representante Robert Pittenger (R-NC) perdeu a indicação para o pastor conservador Mark Harris, tornando-se o primeiro candidato (entre republicanos e democratas) no exercício do cargo a ser derrotado em uma primária este ano. Contrário ao aborto e ao casamento entre pessoas do mesmo sexo e mais um crítico da cúpula do partido, esse ex-presidente da Convenção Batista da Carolina do Norte quase venceu esse mesmo rival nas primárias de 2016. Agora, superou Pittenger, a quem rotulou de “insider de Washington”, e terá de enfrentar um candidato democrata forte e com muitos recursos de campanha: o veterano da guerra do Iraque Dan McCready.

Em ano de Blue Moon Election, o estado não é (ainda) uma das grandes preocupações do GOP. Nele, Trump venceu com uma diferença de 11 pontos em 2016 e, nesse distrito especificamente (9º), é baixo o histórico de voto em democratas. Já os estrategistas democratas, mais otimistas, acreditam que o perfil extremamente conservador do republicano (mais acentuado do que o perfil do eleitor médio local) e a disparidade de recursos de campanha entre McCready e Harris (cerca de US$ 1,2 milhão contra US$ 70 mil, respectivamente) possam reverter esse quadro.

Vitória do ‘outsider’ em Indiana

Em Indiana, a prévia para a indicação ao Senado também foi acirrada. Dos três pré-candidatos, o vencedor foi Mike Braun, ex-congressista estadual e empresário que adotou o discurso de outsider da política para derrotar os representantes Todd Rokita e Luke Messer. Agora, Braun disputará a vaga com o senador Joe Donnelly, um novato democrata no Senado.

“Sou um empresário e um outsider, assim como nosso presidente”, declarou Braun em um comício ao lado de Trump, um estado no qual ele venceu com uma margem de cerca de 20% em 2016. A agenda de compromissos políticos do presidente anda cheia. Nas últimas semanas, antes de Indiana, Trump já tinha participado de eventos de campanha em Michigan e Ohio, além de discursar no encontro anual da National Rifle Association, em Dallas, onde convocou os eleitores republicanos a irem às urnas em novembro para conter os democratas.

Extrema direita e extrema esquerda perdem em Ohio

Em Ohio, um swing state de tendência populista conquistado por Trump em 2016, o procurador-geral do estado, Mike Dewine, venceu as prévias para governador, após uma agressiva campanha com a vice-governadora Mary Taylor. Já o senador estadual Troy Balderson superou por uma estreita margem a executiva Melanie Leneghan, que contava com o apoio da bancada de extrema direita House Freedom Caucus. Balderson assume a cadeira deixada por Pat Tiberi. Na corrida pela vaga aberta pelo representante James Renacci, a vitória foi de Anthony Gonzalez. Já Renacci venceu as primárias para o Senado.

Entre os democratas, que também tiveram suas primárias para governador, a vitória foi do ex-diretor do Escritório de Proteção Financeira do Consumidor e ex-procurador-geral de Ohio Richard Cordray, apoiado pela senadora Elizabeth Warren (D-MA) e pelos sindicatos para superar o ex-representante e ex-prefeito de Cleveland Dennis Kucinich. O resultado foi um alívio para o partido, que temia uma derrota sem muito esforço para Dewine, mais à frente, dado o perfil à esquerda de Kucinich. Uma vitória democrata nesse estado em novembro seria de bom agouro para 2020, mas não será fácil. Desde o início dos anos 1990, os republicanos perderam apenas um mandato em Ohio, e o governador em final de mandato, John Kasich, goza de boa popularidade.

Democratas em alerta

Um sinal de alerta também começou a soar entre os liberais e na cúpula democrata neste ano de eleições de meio de mandato, crucial para tentar recuperar a maioria em pelo menos uma das Casas do Congresso. A avaliação é que a sigla e seus representantes estariam adotando uma postura mais defensiva do que propositiva. A exemplo do que aconteceu com a então candidata à Presidência em 2016, a ex-secretária de Estado Hillary Clinton, os democratas estariam gastando mais tempo e recursos do que deveriam apagando incêndios e apenas reagindo ao governo Donald Trump, em vez de se concentrar em uma agenda própria – sobretudo, na área econômica. Mais uma vez, os democratas estariam se colocando em risco de perder a batalha da propaganda das ideias.

Lançado pelo líder democrata Senado, Charles Schumer (D-NY), e pela líder da minoria na Câmara de Representantes, Nancy Pelosi (D-CA), como base da agenda do partido para as midterms, o programa Better Deal estaria sendo ofuscado pelas disputas sobre Russiagate, discussões sobre o impeachment de Trump, política migratória, reforma das armas, orçamento, tudo isso em meio aos esforços para defender parte do legado do governo Barack Obama sob constante ataque republicano, como a reforma de Saúde (o chamado Obamacare), ou o acordo nuclear firmado com o Irã.

Entre outras medidas desse plano voltado principalmente para a classe trabalhadora, os democratas destacam a criação de empregos, projetos de infraestrutura e recursos para promover a educação e a pesquisa científica. O plano segue o modelo do A New Direction for America, do vitorioso ano de 2006. Este começou com uma ampla lista de princípios e propostas políticas até ser refinado e sintetizado no Six for ’06 e defendido por Nancy Pelosi em sua gestão.

“Você não consegue ganhar apenas dizendo o quão horrível Trump é. Precisamos de uma agenda positiva na economia”, defende o codiretor do liberal Campaign for America’s Future Roger Hickey.

Essa declaração ecoa outro medo do partido: o de que os republicanos ganhem momentum com a melhora na economia e, sobretudo, com a intensa iniciativa de Trump para capitanear os louros dessa mudança. Em abril, o desemprego chegou a 3,9%, seu percentual mais baixo desde dezembro de 2000. De acordo com pesquisa de maio da rede CNN, 57% dos entrevistados consideram que o país está no caminho certo, contra 49% em fevereiro. E, segundo a CBS, para 66% dos americanos a situação da economia é boa.

Cadeiras em jogo

Ainda assim, há margem para algum otimismo no partido com essa onda azul, principalmente após algumas vitórias em “eleições especiais” (com bons índices de participação eleitoral), como Alabama, Pensilvânia e Virgínia, e diante do grande número de candidatos republicanos na Câmara e no Senado que decidiram não disputar a reeleição, entre eles o presidente da Câmara, o representante Paul Ryan (R-WI), e os senadores Bob Corker (R-TN) e Jeff Flake (R-AZ). Em evento de campanha no dia 6 de maio, Nancy Pelosi afirmou que, agora, os democratas contam com financiamento, temas, entusiasmo da base e com um clima político favorável, que estariam criando uma “onda” para recuperar a maioria em novembro. “Não será por uma grande diferença. Em muitos lugares, será por uma margem estreita”, adverte ela.

Do total de 100 cadeiras do Senado, 33 estarão em disputa no dia 6 de novembro. Hoje, os republicanos têm uma maioria de 51 assentos, e os democratas, 47, além dos dois votos de independentes, com os quais costumam se alinhar. Precisam conquistar duas vagas para retomar a liderança, mas têm de defender 26 que tentam a reeleição. Destes, dez são em estados, nos quais Trump foi vitorioso em 2016, entre eles Ohio, Indiana e Virgínia Ocidental. Já os republicanos defendem nove cadeiras, apenas uma em um estado onde Trump foi derrotado. Na Câmara, a eleição é para todos os 435 lugares da Casa. A legislatura atual conta com 235 republicanos, 193 democratas e sete vagas em aberto (dois democratas e cinco republicanos).

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