EUA olham para o que vem depois do prazo do acordo nuclear com Irã
por Nick Wadhams
Traduzido do site Bloomberg*
Donald Trump parece determinado a se retirar do acordo nuclear do Irã na próxima semana, com as autoridades dos Estados Unidos sugerindo que qualquer turbulência diplomática inicial será seguida por negociações para um novo acordo.
Há um grande problema: o Irã descarta novas negociações, chamando o atual acordo de “não negociável”. E os aliados europeus dos Estados Unidos continuam apoiando o acordo, dizendo que ele tem sido essencial para refrear o programa nuclear iraniano.
Enquanto os mercados, os aliados dos Estados Unidos e o governo em Teerã questionam o que poderia acontecer depois da retirada americana, o governo Trump continua focado em como poderia endurecer ou substituir o acordo para tratar de questões como o comportamento do Irã no Oriente Médio – incluindo sua posição firme na Síria e o apoio aos militantes do Hezbollah que ameaçam Israel – e seu contínuo desenvolvimento de mísseis balísticos.
O presidente Trump insinuou sua ideia na segunda-feira. Embora se recuse a revelar o que fará até 12 de maio, ele repetiu a crença de que o acerto existente é “um acordo horrível para os Estados Unidos”. Mas, acrescentou: “Isso não significa que eu não negocie um novo acordo”.
O governo do presidente iraniano, Hassan Rouhani, diz que os Estados Unidos estão “intimidando” a nação do Oriente Médio. Há muito tempo, o Irã afirma que Washington não cumpre totalmente a sua parte no acordo – a exigência de que as potências mundiais aliviem as sanções econômicas – e que a incerteza sobre o futuro do compromisso bloqueou o investimento necessário.
“Deixe-me esclarecer de uma vez por todas: Nós não vamos terceirizar nossa segurança, nem vamos renegociar ou ampliar um acordo que já implementamos de boa fé”, disse o ministro das Relações Exteriores, Mohammad Javad Zarif, em mensagem de vídeo no Twitter.
Poucas pessoas estão dispostas a prever como esse impasse será superado.
“Em nenhuma circunstância teremos clareza total em 13 de maio”, disse Suzanne Maloney, vice-diretora do programa de política externa do Brookings Institution.
Embora o prazo de 12 de maio tenha sido retratado como uma decisão “sim ou não” para Trump, não é tão simples assim. De acordo com uma lei aprovada pelo Congresso, Trump tem que determinar periodicamente se continua a renunciar a sanções ligadas a transações com o Banco Central do Irã. O acordo de 2015 exigiu que os Estados Unidos suspendessem essas sanções. Se elas entrarem em vigor, os Estados Unidos quase certamente violarão o acordo.
Um cenário possível: Trump declara que desiste do acordo e reinstitui as sanções, mas dá tempo para que entrem em vigor. Esse período de tolerância pressionaria os aliados europeus a fazer novas concessões para consertar o que os Estados Unidos consideram as maiores lacunas do acordo.
“Não acho que ele vá retroceder nas sanções”, disse Amir Handjani, membro sênior do South Asia Center, do Atlantic Council. “Acho que ele vai dar mais tempo para ver se os Estados Unidos e os europeus conseguem chegar a uma fórmula para apresentar ao Irã.”
O novo secretário de Estado, Mike Pompeo, não prometeu período de carência, mas disse na audiência de sua confirmação no Senado, em abril, que “mesmo após 12 de maio ainda há muito trabalho diplomático a ser feito”.
O objetivo de longo prazo de Trump é um acordo melhor, não um conflito, disse Michael Singh, diretor-gerente do Washington Institute for Near East Policy e ex-diretor sênior para assuntos do Oriente Médio do presidente George W. Bush.
“Mesmo se tentássemos reimpor as sanções e aumentar a pressão, o objetivo final seria levá-las à mesa de negociações para definir medidas de maior alcance”, disse Singh.
Durante semanas, os negociadores dos Estados Unidos se reuniram com os aliados da França, do Reino Unido e da Alemanha para chegar a um consenso sobre acordos paralelos que atendam às preocupações americanas. Eles dizem que fizeram progressos em alguns pontos, mas não cruzaram a linha de chegada nas cláusulas que caducam no acordo atual – que expiram nos próximos anos e permitirão que o Irã comece a enriquecer urânio em níveis elevados novamente.
Apesar da insistência do Irã em não negociar um novo acordo, o governo americano aposta que as tensões econômicas no país, e a perspectiva de mais isolamento sem o acordo forçará seus líderes a irem à mesa de negociações. Isso é visto com intenso ceticismo por pessoas de fora. Eles dizem que o Irã não tem motivos para concordar com um arranjo mais duro sem as concessões como as que levaram ao acordo, formalmente conhecido como Plano de Ação Compreensiva Conjunta (JCPOA, na sigla em inglês).
“Seriam vistos como muito fracos por voltar às negociações”, disse Handjani. “Se os Estados Unidos não honrarem o compromisso com o JCPOA, qual é a garantia de que vão honrar a continuação do acordo?”
Revisão Econômica
Conforme os mercados aguardam a decisão dos Estados Unidos, a inflação no Irã diminuiu, o rial caiu e o petróleo subiu nos últimos meses. O chefe de operações no Oriente Médio e na Ásia Central do Fundo Monetário Internacional disse, na segunda-feira, que Teerã precisará acelerar as reformas econômicas, incluindo os planos para reformar seu sistema bancário, caso os Estados Unidos saiam do acordo.
“Num cenário de incerteza, investidores hesitam e o Irã perde”, disse Maloney, do Brookings Institution.
Isso dá ao governo Trump o que eles consideram uma vantagem crucial: o Irã cumpre o acordo nuclear, mas usufrui pouco dos benefícios potenciais.
Quanto a um acordo futuro, as autoridades americanas foram encorajadas, na semana passada, por uma proposta de quatro pontos feita pelo presidente francês, Emmanuel Macron, que ecoou muitas demandas americanas. Mas Macron argumentou que qualquer novo acordo seria um complemento, não um substituto para o atual.
Não negociável
Num telefonema com Rouhani no final do mês passado, Macron e sua contraparte iraniana concordaram em trabalhar juntos para tentar preservar o acordo. Mas o site oficial do governo iraniano citou Rouhani, dizendo que o Irã não vai aceitar nenhuma restrição adicional e que o acordo “não é negociável”.
Ao mesmo tempo, a estratégia europeia parece ser a de tentar administrar Trump – possivelmente com algum tipo de medida adicionai – e persuadir o Irã a permanecer no acordo nuclear o maior tempo possível, talvez até depois de 2020, quando os Estados Unidos poderão ter um novo presidente.
“Foram necessários 13 anos de impasse nuclear com o Irã para se conseguir um acordo”, disse Ali Vaez, diretor de projetos do Irã no International Crisis Group. “Seria uma pena perdê-lo como resultado de algo que, no final das contas, pode ser considerado um período turbulento.”
Tradução por Solange Reis
* Artigo originalmente publicado em 04/05/2018, em https://www.bloomberg.com/news/articles/2018-05-04/u-s-looks-beyond-iran-nuclear-deal-deadline-to-what-comes-next