Política Doméstica

Senado confirma Pompeo, ex-CIA, no Departamento de Estado

por Tatiana Teixeira

Ao contrário do que se antecipava após uma tensa votação no Comitê de Relações Exteriores do Senado, a Casa confirmou sem dificuldade, no dia 26 de abril, o diretor da Agência Central de Inteligência (CIA), Mike Pompeo, de 54 anos, como novo secretário de Estado. Foram 57 votos contra 42, com o “sim” de todos os republicanos, incluindo o do senador Rand Paul (R-KY), um de seus grandes críticos por conta do apoio à guerra no Iraque e por sua visão mais intervencionista em política externa. O independente Angus King (I-ME) e seis democratas também foram a favor. Cinco deles tentarão uma disputada reeleição em estados que votaram em Donald Trump em 2016. Atentos ao eleitor mais conservador nessas midterms, os senadores Heidi Heitkamp (D-ND), Joe Donnelly (D-IN), Joe Manchin III (D-WD), Claire McCaskill (D-MO) e Bill Nelson (D-FL) se somaram a Doug Jones (D-AL) e ficaram ao lado de Pompeo.

Para substituir Mike Pompeo na CIA, Trump escolheu Gina Haspel. Se aprovada pelo Senado, será a primeira mulher a assumir o cargo. Pompeo foi confirmado como diretor da Agência em 23 de janeiro de 2017, por 66 votos a 32, com o apoio de 14 democratas. Na ocasião, Rand Paul foi o único republicano dissidente.

‘Um patriota’

Trump celebrou a confirmação do novo funcionário, com quem desenvolveu afinidades e uma relação próxima, referindo-se a um “patriota” com “imenso talento, energia e intelecto” e que “será um asset incrível para o nosso país nesse momento crítico da história”. O presidente disse ainda que Pompeo “sempre colocará os interesses da América em primeiro lugar”, acrescentando: “Ele tem minha confiança. Ele tem o meu apoio”. Há alguns dias, ao anunciar sua indicação, o magnata já havia deixado claro seu entusiasmo e o que espera de Pompeo: “Ele continuará nosso programa de restaurar a posição da América no mundo, fortalecendo nossas alianças, confrontando nossos adversários e buscando a desnuclearização da península coreana”. Será a primeira vez que um diretor da CIA assume o Departamento de Estado (DoS, na sigla em inglês).

Esta semana, ao longo do processo de votação, o líder da minoria no Senado, Chuck Schumer (D-NY), manifestou sua apreensão, alegando que Pompeo é excessivamente “falcão”. Segundo ele, esse perfil mais “duro” seria inadequado para a pasta e não serviria como um contrapeso a Trump. Na dúvida, lembra-se que esse papel é, sobretudo, do Congresso. Declarações preconceituosas contra muçulmanos e homossexuais também foram alvo de preocupação dos democratas que votaram contra sua nomeação.

Agenda cheia

Resolvidos os trâmites burocráticos de sua posse, Mike Pompeo embarcou direto para Bruxelas, onde participou de uma reunião de ministros das Relações Exteriores dos países-membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Na bagagem, além da “questão russa”, levava uma das demandas de Trump desde a campanha eleitoral: que seus aliados da Aliança Atlântica aumentem seus gastos militares na organização, desonerando os Estados Unidos como principal fornecedor de recursos para a defesa. Em outras palavras, Trump quer dividir a conta, especialmente com a Alemanha, até agora refratária a aumentar sua contribuição de pouco mais de 1% de seu PIB.

Esse primeiro roteiro de viagens já no cargo inclui visitas de alto nível a Riad, na Arábia Saudita, a Jerusalém e a Amã, na Jordânia. Um dos itens da pauta será o acordo nuclear com o Irã, um grande adversário regional de Israel e dos sauditas. O momento é delicado. Em meados de maio, Trump anuncia se os Estados Unidos retomarão as sanções econômicas a Teerã e se manterão sua adesão ao pacto firmado em 2015, o chamado P5+1.

Seu antecessor Rex Tillerson nunca foi a Jerusalém, cumprindo uma espécie de deferência ao genro e conselheiro sênior do presidente Trump, Jared Kushner, aparentemente responsável por tentar negociar um acordo de paz entre israelenses e palestinos. Se em curso, gestões da parte de Jared seguem infrutíferas, já que não há, até o momento, indícios de avanço nesse sentido. Pelo contrário: o que se vê é uma escalada na região, em especial após a decisão de Trump de transferir a embaixada americana de Tel Aviv para Jerusalém.

Desafios prementes

Mal tomou posse e Pompeo se depara com uma agenda carregada de questões importantes para lidar, entre elas as relações com a Rússia e o papel de Moscou em uma série de teatros internacionais (tudo isso em meio às investigações do FBI sobre a suspeita de conluio de funcionários de campanha de Trump com os russos), a guerra na Síria, a situação de Afeganistão e Iraque, o acordo nuclear com Teerã, a expansão da China na Ásia, ou o programa nuclear norte-coreano e a cúpula de Trump com Kim Jong-un. Nesta sexta (27), aliás, um dia histórico para as duas Coreias, a Casa Branca divulgou fotos de Pompeo com Jong-un, durante uma viagem sigilosa preparatória para o encontro bilateral que deve acontecer em junho.

O movimento parece reforçar a confiança de Trump, sinalizando a expectativa de que Pompeo tenha um envolvimento mais direto e mais visível nessas negociações. Em termos comparativos: em sucessivas ocasiões, Trump deslegitimou publicamente os esforços de seu ex-secretário de Estado Rex Tillerson nesse espinhoso tema.

Além disso, há um Departamento inteiro para ser reorganizado e ter seu prestígio recuperado, após a passagem do CEO da ExxonMobil pela pasta. Um primeiro passo parece ter sido dado. Oficialmente, a pronta viagem de Pompeo à Europa e ao Oriente Médio teria como objetivo refletir “a importância de aliados-chave e de parceiros na região”, nas palavras da subsecretária para Diplomacia Pública, Heather Nauert. Extraoficialmente, seria uma forma de recolocar o esvaziado DoS no centro da política externa trumpista.

Disputa intragabinete

Outro desafio será navegar pelas águas nada tranquilas de um gabinete politicamente dividido sob um presidente imprevisível e sem muita consideração por protocolos, sobretudo, os diplomáticos. Pompeo não é um neófito nesse ambiente. Há meses, acompanha de perto a dinâmica da Casa Branca, informando pessoalmente o presidente em questões de segurança e de Inteligência. Ainda assim, terá de achar seu lugar em meio ao neocon John Bolton, terceiro conselheiro de Segurança Nacional em pouco mais de um ano; ao chefe de gabinete, general John Kelly; ao secretário da Defesa, Jim Mattis; a Kushner, ou ainda, à embaixadora dos EUA na ONU, Nikki Haley, um dos desafetos de Tillerson.

Trajetória de um falcão

Graduado na Academia Militar de West Point, serviu no Exército de 1986 a 1991. Formou-se em Direito pela Universidade de Harvard em 1994, e, com recursos do irmãos David e Charles Koch, dois dos principais patrocinadores da causa conservadora, abriu a empresa Thayer Aerospace, na qual permaneceu como CEO por cerca de dez anos. De janeiro de 2011 a janeiro de 2017, foi representante pelo estado do Kansas (R-KS), elegendo-se com o apoio do Tea Party. Enquanto esteve no Congresso, integrou um comitê sobre Benghazi na Câmara, responsável por investigar um atentado contra o consulado americano na Líbia, em 2012. O episódio foi amplamente usado pela oposição contra o governo Barack Obama, em especial durante a campanha presidencial de 2016, como um dos flancos vulneráveis da então candidata democrata, a ex-secretária de Estado Hillary Clinton. Enquanto esteve no Congresso, Pompeo também se opôs duramente ao acordo com o Irã, um das celebradas vitórias do governo Obama em política externa, e sempre se manifestou contra o Acordo de Paris sobre mudança climática.

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