Almirante dos Estados Unidos alerta: só a guerra pode impedir Pequim de controlar o Mar do Sul da China
por Jamie Seidel
Artigo traduzido de News.com.au*
As fortalezas da ilha estão construídas. Os aeroportos estão prontos. Os portos estão abertos.
Tudo o que a China precisa fazer agora é mobilizar os navios de guerra e caças.
O chefe do Comando de Operações Navais dos Estados Unidos disse ao Congresso americano que Pequim construiu infraestrutura militar suficiente no Mar do Sul da China para controlar completamente a disputada hidrovia.
“Uma vez ocupada, a China poderá estender sua influência por milhares de quilômetros ao sul e projetar poder para a Oceania”, escreveu o almirante Philip S. Davidson.
“O Exército de Libertação Popular poderá usar essas bases para desafiar a presença dos Estados Unidos na região, e as forças mobilizadas para as ilhas poderiam facilmente subjugar a capacidade militar de outros países que demandam soberania no Mar da China Meridional.
“Em suma, a China agora é capaz de controlar o Mar da China Meridional em todos os cenários que não sejam de guerra com os Estados Unidos.”
Na quinta-feira, surgiram rumores de que dois navios de guerra e um navio-tanque australianos teriam sido confrontados pela Marinha chinesa na semana anterior, quando atravessavam as rotas marítimas vitais da região para uma visita amistosa ao Vietnã.
Anteriormente, era comum esse tipo de visita a nações, incluindo às Filipinas, pelo Mar do Sul da China.
O que mudou é a afirmação da China – esnobando uma decisão do tribunal internacional de arbitragem de 2016 – de que detém a soberania nacional sobre toda a hidrovia de 3,5 milhões de quilômetros quadrados. O mar limita Filipinas, Brunei, Malásia, Taiwan e Vietnã.
Pequim estabeleceu a reivindicação quase como um fato consumado ao transformar, ilegalmente, recifes de corais e afloramentos rochosos (cuja propriedade é disputada) em enormes fortalezas. Agora, alega que as ilhas formadas artificialmente representam território soberano.
O tribunal internacional de arbitragem discorda.
Problemas de Tratado
O almirante Davidson foi nomeado para assumir o Comando do Pacífico dos Estados Unidos, responsável pela coordenação das ações do Exército, da Marinha e da Força Aérea naquela região.
Ele afirmou que só um conflito armado pode impedir que Pequim feche as rotas marítimas internacionais no Mar do Sul da China.
Disse aos políticos que, por essa razão, é vital reconquistar a vantagem tecnológica que as forças dos Estados Unidos mantiveram por cinco décadas depois da Segunda Guerra Mundial.
“No futuro, armas hipersônicas e de energia dirigida, resiliência no espaço sideral, recursos cibernéticos e de rede, soldados, marinheiros, pilotos, fuzileiros navais e guardas costeiros bem treinados serão cruciais para nossa capacidade de lutar e vencer”, disse ele.
O almirante Davidson usa o impasse com a China para dizer que o acordo dos Estados Unidos com a Rússia para limitar os mísseis de curto e médio alcance (INF, na sigla em Inglês), não é mais válido.
A China não é signatária do tratado. Ela vem construindo rapidamente um arsenal de mísseis que se enquadra nessa categoria, capaz de atingir porta-aviões dos Estados Unidos em alto-mar.
O almirante Davidson disse ao Congresso que as forças americanas não podem se defender contra as novas armas hipersônicas chinesas.
“Na região Indo-Pacífico, a ausência do tratado INF daria opções adicionais para conter as capacidades de mísseis da China, dificultar a tomada de decisões, impor custos e forçar os adversários a gastar dinheiro com sistemas de defesa antimísseis caros”, informou o almirante Davidson ao Congresso dos Estados Unidos.
“Acredito que o tratado INF, hoje, deixa os Estados Unidos, injustamente, em desvantagem e põe nossas forças em risco pelo fato de a China não ser signatária”.
A retórica da China sobre Taiwan também se tornou cada vez mais belicosa.
A mídia estatal emitiu um aviso severo de “destruição” se os Estados Unidos continuarem a desenvolver laços com o último posto avançado da China para resistência ao regime comunista.
“Taiwan é parte dos principais interesses da China, mas Washington se descontrolou ao ferir a política de “uma única China”, encorajando um pequeno grupo de separatistas em Taiwan a se tornar mais agressivo e arrogante nas suas tentativas de secessão”, disse o editorial do Global Times.
“O Exército de Libertação Popular tem uma determinação inabalável para salvaguardar a reunificação nacional. Quem quer que infrinja a política de “China única” e defenda a independência de Taiwan estará fazendo um convite à destruição. E os Estados Unidos não são exceção ”.
Voos de caças e bombardeiros chineses se tornaram comuns em torno de Taiwan nos últimos meses .
Após participar de uma parada militar recente no Mar da China Meridional, uma frota de guerra que tinha como elemento central o porta-aviões Liaoning passou entre o Japão e Taiwan para realizar exercícios no litoral do Pacífico Oeste.
“Embora a reunificação pacífica com Taiwan seja a melhor escolha, o uso da força está sendo seriamente considerado como opção”, diz o editorial aprovado pelo governo. “Cabe ao povo chinês decidir quando e como Taiwan será reunificada.”
Em linguagem que lembra a mídia norte-coreana controlada por Kim Jong-un, o Global Times ameaçou: “quanto mais Washington apoiar os separatistas de Taiwan, mais cedo eles verão o dia do juízo final”.
Assertividade crescente
A voz política de Pequim, The Global Times, publicou um artigo atacando a Austrália por seu “sentimento hostil”.
“Se a Austrália considera as trocas entre países como interferência, ela deve se trancar no quarto escuro”, observou o ministério das Relações Exteriores chinês, em resposta ao tenso impasse entre os navios de guerra das duas nações.
“As pessoas que têm essa mentalidade precisam refletir”, disse o porta-voz do ministério das Relações Exteriores, Hua Chunying.
“Se não há confiança mútua, não há espaço para cooperação. A China espera que a Austrália tome medidas práticas e corrija seu preconceito contra a China ”.
Mas a confiança é uma via de mão dupla.
No início do mês, a China voltou atrás sobre não querer militarizar as ilhas artificiais do Mar da China Meridional.
A negação era feita em contraposição às provas crescentes mostradas por satélites sobre instalação de bunkers, sistemas e sensores de armas, e pistas militares.
Agora, um porta-voz do ministério da Defesa chinês declarou que a China tem o “direito natural como nação soberana” de colocar tropas e equipamentos militares nas Ilhas Spratly.
A admissão aconteceu logo após ter sido divulgado que equipamentos de interferência eletrônica haviam sido instalados na Barreira de Corais Mischief, nas ilhas Spratleys, ao lado de um enorme campo de pouso e de armamentos.
Imagens de vigilância publicadas pelo serviço de notícias filipino, The Inquierer, no início deste ano, mostraram dois navios de transporte de tropas e uma plataforma de assalto anfíbio na Barreira de Corais Mischief descarregando soldados e equipamentos. Na semana passada, outra fotografia revelou aviões de combate da Força Aérea chinesa na pista da ilha.
“Acho que, desde o começo, nós sabíamos que a China estava militarizando a área, recuperando-as e usando-as como bases militares”, disse o porta-voz presidencial das Filipinas, Harry Roque.
Marinha forte: China segura
Todos os sinais vindos de Pequim são de que os impasses naquela que é considerada a hidrovia mais movimentada do mundo só vão aumentar em tamanho e frequência.
O recém-nomeado presidente vitalício da China, Xi Jinping, participou, em 12 de abril, de uma revista da frota com mais de 40 navios de guerra e submarinos no Mar da China Meridional, exibindo o novo patamar da Marinha chinesa com a flotilha Liaoning e a nova geração de submarino nuclear”, disse o Global Times. “A capacidade da China de defender a paz mundial e regional atingiu outro marco”.
Em um discurso para os marinheiros, o presidente Xi disse que a necessidade de uma Marinha forte nunca foi tão urgente.
“É crucial destacar isso no ambiente internacional de hoje – e o seu tom tinha um forte senso de missão”, disse o serviço de notícias. “Xi expressou em vários relatórios importantes que a China está mais perto do que nunca de alcançar o grande rejuvenescimento da nação chinesa. No entanto, a história nos lembra que quanto mais nos aproximamos de realizar um objetivo glorioso, maiores são a pressão e o risco. Construir uma Marinha forte, assim como a defesa nacional, nunca foi tão significativo para a China. ”
O segundo porta-aviões da China, o primeiro que ela mesma construiu, deve zarpar pela primeira vez no final deste mês.
“A China deve ignorar o alarde da teoria da ‘ameaça militar chinesa’ feita por alguns países ocidentais”, diz o editorial. “A teoria é uma deturpação do papel da China como a segunda maior economia do mundo e para a garantia da paz global. A teoria também discrimina o status da China como uma das maiores potências do mundo ”.
Tradução por Solange Reis
* Artigo originalmente publicado em 22/04/2-18, em http://www.news.com.au/world/us-admiral-warns-only-war-can-now-stop-beijing-controlling-the-south-china-sea/news-story/0f8f99c3fb4492366cec09d234937ab2