Política Doméstica

Paul Ryan, presidente da Câmara desiste da reeleição

por Tatiana Teixeira

Mais cedo do que se esperava, o presidente da Câmara de Representantes, o republicano Paul Ryan (R-WI), de 48 anos, anunciou em 11 de abril que não buscará a reeleição, abrindo caminho para a disputa pelo comando na Casa. O líder da maioria, Kevin McCarthy (R-CA), e o líder da bancada (majority whip), Steve Scalise (R-LA), são os mais cotados até o momento. A questão que se coloca agora é se Ryan seguirá como um lame duck até o fim de seu mandato, em janeiro de 2019, ou se será pressionado pelo partido a convocar eleições para renovar o posto no menor prazo possível. O objetivo seria evitar o prolongamento de um atrito intrapartidário a mais para os republicanos em um decisivo ano eleitoral.

A saída de Ryan também gera preocupações entre os correligionários sobre uma possível revoada de doadores, que poderiam se retrair ao anteverem uma derrota republicana em 6 de novembro. Como afirmou o ex-líder da maioria na Câmara Eric Cantor, essa desistência pode enviar um “sinal” de que os republicanos “não têm chances” de manter o controle da Casa.

Objeção de consciência

Sua decisão teria começado a ganhar força após a histórica aprovação da reforma tributária, em dezembro passado. Com o objetivo de ajudar a garantir a arrecadação de fundos para o partido em uma campanha que se anuncia como muito apertada em vários estados, Ryan cogitou se candidatar e ficar até pouco depois das midterms. Acabou abandonando a ideia, alegando “consciência” em relação a seus eleitores. Apesar do cacife político acumulado nos últimos anos, ele garante, pelo menos por enquanto, que esta será sua aposentadoria em Washington, D.C.

Paul Ryan está no Congresso desde 1999 como representante pelo estado de Wisconsin. Já foi presidente do Comitê de Finanças e Tributação (Ways and Means Committee) e do Comitê Orçamentário. Ainda que relutante, Ryan assumiu o cargo em 2015, no lugar de John Boehner (R-OH), que vinha sendo pressionado pelos conservadores. Em 2012, Ryan concorreu à Presidência dos Estados Unidos como vice na chapa de Mitt Romney e, até a vitória de Trump em 2016, era visto como forte candidato para a disputa de 2020.

Elogio e convite democrata

Em geral em lados opostos, o líder da minoria no Senado, o democrata Chuck Schumer (D-NY), elogiou Paul, declarou que seu partido está aberto para o diálogo e o convidou a se alinhar mais com os republicanos moderados nos “livres” meses que lhe restam no cargo. O convite foi reforçado pela companheira de sigla e líder da minoria na Câmara, Nancy Pelosi (D-CA). Em um breve tuíte, o presidente Trump apontou o “legado de conquistas que ninguém pode questionar”. Em discurso em plenário, o líder da maioria no Senado, o republicano Mitch McConnell (R-KY), chamou Ryan de “líder conservador transformacional”, enaltecendo seu “legado”.

‘Fator Trump’

No anúncio de sua despedida, Ryan disse que pretende ficar mais tempo com a família. Entre os momentos de sua passagem pela Câmara dos quais mais se orgulha, citou a aprovação da reforma tributária e o generoso aumento dado para o orçamento do Departamento da Defesa. Negou que sua saída seja preventiva a uma possível derrota nas urnas e à reconquista da Casa por parte dos democratas. Também descartou que sua decisão esteja relacionada com o “fator Trump”, embora seja incontestável que a relação foi acompanhada por divergências e pelo desgaste desde antes da chegada do empresário à Casa Branca.

Democratas já sonham com maioria

O fato é que Ryan é apenas o mais visível entre os muitos republicanos que desistiram da reeleição. São ao menos 46 até agora. Destes, em meio a uma série de escândalos envolvendo congressistas, vários manifestaram sua preocupação com o resultado das midterms e com a extrema polarização (inclusive dentro da legenda) na Washington de Trump. No cálculo eleitoral, os democratas já começam a sonhar com as 24 cadeiras necessárias para recuperar a maioria na Casa. Em seu distrito eleitoral, Wisconsin, por exemplo, o cenário é tenso para os republicanos. O estado assiste às acirradas primárias entre os democratas Randy Bryce e Cathy Myers, cujo vencedor enfrentará o único candidato republicano: Paul Nehlen, representante da alt-right, abertamente antissemita e defensor da supremacia branca.

Briga pela Presidência

Os dois negam, mas o fato é que já começou – ainda que discretamente – a movimentação de busca por alianças. Também aumentaram as aparições na imprensa, assim como as viagens e as reuniões de ambos para ajudar na arrecadação de doações para os candidatos nessas midterms.

Em entrevista recente, Scalise disse “não estar competindo com Kevin para nada”, advertindo que o importante é garantir a maioria republicana na Câmara. Congressista experiente após anos como whip e um bom arrecadador de fundos, o líder da bancada, de 52 anos, ganhou as páginas dos jornais recentemente, após sobreviver a um tiroteio. Nessa mesma linha, ao ser questionado, McCarthy desconversa. Afirma que está concentrado em manter sua cadeira nas eleições de novembro e levar a agenda do presidente Trump adiante. McCarthy tem relações próximas com o empresário nova-iorquino. Seu apoio seria crucial para angariar fileiras da ala mais radical do partido, especialmente do arredio House Freedom Caucus, de extrema direita, que vê nele um “republicano liberal“, traidor da causa conservadora.

Mais voz e espaço nos comitês é algo que está na mesa de negociações de Scalise e de McCarthy para dobrar um grupo – a linha-dura do partido – que se diz alijado e pouco ouvido nas principais decisões da Casa. Posturas mais contundentes em temas como imigração, segurança interna e terrorismo estão na lista de promessas que os mais conservadores esperam conseguir para, somente então, dar seu voto.

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