As tarifas de Trump sobre aço são mero teatro político
por James K Galbraith
Artigo traduzido do The Guardian*
O efeito prático das tarifas será pequeno, então, por que Trump fez isso? A resposta é: política.
Na quinta-feira, Donald Trump anunciou uma tarifa de 25% sobre o aço e de 10% sobre o alumínio, provavelmente excetuando o Canadá e o México – e, talvez no devido tempo, a Austrália, parceiro estratégico dos Estados Unidos. É claro que foi uma coisa impressionante.
Qual foi a última vez em que um presidente dos Estados Unidos fez algo tão chocante? Na verdade, foi na primeira semana de março de 2002, exatamente no mesmo ponto de um primeiro mandato presidencial. O presidente era George W. Bush, do Partido Republicano, e a tarifa de aço imposta foi de 30%. E antes disso? Ronald Reagan, com suas “restrições de exportação voluntárias”.
Como o homem de Vaudeville correu ao palco para anunciar: não aplaudam muito alto, esse é um teatro velho.
A diferença é que tanto Reagan como Bush eram a favor do livre-comércio, do globalismo e de implodir os sindicatos, e dedicados à ideologia aprovada para esses assuntos. Quando impuseram as tarifas, obtiveram ampla permissão, exceto de alguns liberais de princípios em suas próprias equipes, como Gary Cohn o fez agora.
Por outro lado, quando um protecionista declarado como Trump faz um movimento desse tipo a tolerância é zero. Mas desde quando uma tarifa de 25% é superior à tarifa de 30%? (Sugestão: não é).
O efeito prático das tarifas será pequeno. A indústria siderúrgica emprega 150 mil trabalhadores no total; a indústria de alumínio diz ter a mesma quantidade. Nenhum produtor vai se comprometer a investir os bilhões necessários para expandir a capacidade sabendo que tarifas vem e vão. As tarifas de Bush foram retiradas depois de apenas dois anos. Se houver capacidade excedente a ser colocada em funcionamento com a barreira tarifária, ela se refletirá em aumento de produtividade, e não em muitos novos empregos.
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Tampouco acontecerá muito aumento de produção porque não haverá tanto efeito sobre as importações, nem mesmo sobre os custos de importação. Se o México e o Canadá (e, eventualmente, a Austrália) forem isentos, o que os impedirá de aumentar suas próprias exportações para os EUA, ao mesmo tempo em que incrementam as importações de países não isentos – como o Brasil – para atender às suas necessidades domésticas? Talvez, mas nesse caso não fica claro como poderiam ser considerados “isentos”. Da forma como estão planejadas, as tarifas seriam pouco mais do que uma dança de cadeiras metalúrgicas.
E mesmo onde mordem – como acontecerá em alguns casos -, as tarifas serão capazes de frear alguma coisa, em se considerando a expansão fiscal já em curso? Não muito.
Então, por que Trump fez isso? Os motivos são óbvios.
Primeiro motivo: política. Estamos em março do ano das eleições de meio de mandato para Trump. Ele precisa dizer que cumpriu suas promessas aos trabalhadores americanos. Agora já pode.
Segundo motivo: política. Há uma eleição especial no oeste da Pensilvânia na terça-feira, e acredita-se amplamente que o candidato republicano seja fraco num distrito que Trump levou por 20 pontos. O anúncio das tarifas não vai custar nada nesse caso.
Terceira razão: também política. É claro que os inimigos de Trump chiaram. Os economistas sabichões. Os globalistas de Wall Street. A imprensa financeira. Foi um excelente exemplo do que os britânicos chamam de campanha do medo. “As tarifas vão trazer uma guerra comercial!”. Elas vão paralisar a indústria da construção!”. “Idiotice!”. Até Jean-Claude Juncker, o presidente da Comissão Europeia, interveio ameaçando retaliação contra a Harley-Davidson e a Levi Strauss, embora não contra o Citigroup ou o Goldman Sachs. Toma, América!
É claro que tudo isso faz o presidente rir na Casa Branca. Ele está de olho nas pesquisas, confiante na subida dos números. As eleições de meio de mandato estão entrando no foco e as coisas estão no caminho certo.
James K Galbraith ensina Economia na LBJ School of Public Affairs, da Universidade do Texas, em Austin. Seu livro mais recente é “Desigualdade: o que todo mundo precisa saber” (Oxford, 2016).
* Artigo originalmente publicado em 09/03/2018, em: https://www.theguardian.com/commentisfree/2018/mar/09/trumps-steel-tariffs-political-theater