Política Doméstica

Prestes a Completar um Ano no Mandato, Qual o Futuro de Trump?

por Rafael R. Ioris*

Em meados da campanha presidencial de 2016, precisamente a um mês da eleição de 8 de novembro, emergiu a gravação de uma conversa de Donald Trump com um apresentador de um programa de TV do país. O então candidato afirmava que, frente ao seu suposto imenso charme com as mulheres, estas deixariam que ele fizesse qualquer coisa, inclusive ‘pega-las pela v.’ (ou seja a parte íntima).

A notícia sacudiu fortemente o ambiente da campanha, e muitos passaram a achar que as chances de vitória do magnata imobiliário de Nova Iorque estariam terminadas. Como sabemos, de maneira supreendente para todos analistas, eleitorado em geral, e talvez mesmo o próprio candidato, Trump ganharia a eleição no antiquado sistema de colégio eleitorial, vindo a se tornar o quadragésimo quinto presidente dos Estados Unidos.

Completando o ciclo de afirmações de cunho sexual que utiliza não só no ambiente privado mas também, agora em especial, como instrumento político, Trump afirmou no início de 2018, às vésperas do aniversário do seu primeiro ano de mandato, em resposta ‘a ameaça do presidente norte-coreano de que disporia de um botão para ativar um ataque nuclear contra os Estados Unidos, que ele, o presidente norte-americano, detinha um botão maior e que somente este é que funcionaria. Da mesma forma, há duas semanas o mandatário se referiu a países africanos como ‘lugares de m***’, de onde o país não deveria, na sua visão aceitar imigrantes.

É difícil imaginar na história moderna dos Estados Unidos um presidente que se utiliza-se de tais expressões no ambiente público. Mas Trump tem  retiradamente supreendido a todos com seu estilo agressivo e chulo de comunição que, interessantemente, lhe garantiu apoio suficiente no eleitorado conservador para que chegasse onde está. A pergunta que vem sido feita ao longo desse primeiro ano da adminstração é até que ponto essa nova lógica política pode se manter. Os principais comentaristas da midia norte-americana tem afirmado, noite após noite na televisão, assim como nas páginas dos jornais diários, que essa dinâmica estaria fadada a terminar logo. Essa situação derivaria ou do fato de que Trump estaria minando a tal ponto a decência do cargo que viria em algum momento a sofrer um processo de impeachment, algo também motivado pelo escândalo da interferência do governo russo no processo eleitoral, ou do fato de que ele seria de alguma forma forçado por seus assessores a mudar seu estilo de comunicação.

Levando em consideração a mensagem de Trump no dia ontem na sua conta pessoal do twiter, onde descreve o tamanho de seu botão nuclear, claramente a última opção não estaria se efetivando. Resta saber se há reais possibilidades de que um impeachment venha a ocorrer. Embora seja arriscado prognosticar sobre eventos envolvendo elementos incertos como o comportamento de Trump, parte da resposta está ligada às investigações sobre o possível conluio com a Rússia, assim como às dinâmicas partidárias locais.

Pouco deve-se esperar da investigações congressuais sobre o episódio russo, já que estas sempre foram controladas pelos Republicanos, que recentemente passsaram a questionar de modo mais virulento a própria necessidade da investigação. Por sua vez, o trabalho do ‘promotor especial’ Robert Mueller pode vir a trazer danos mais forte ao presidente, mas ainda assim é difícil prever que suas conclusões venham a apontar crime de responsabilidade direta do próprio Trump, tendendo, mais provavelmente, a limitar a culpabilidade de possíveis crimes ao nível de assessores da camapanha. E ainda que haja algum achado que venha a ser usado pelos Democratas para justificar um processo de impeachment, é, por ora, difícil de imaginar que esse pudesse ser aprovado no Congresso.

Dados os recentes ganhos eleitorais de candidatos Democratas, inclusive em redutos Republicanos, como o estado do Alabama, não é surpreendente que os opositores do presidente estejam animados com as eleições congressuais de novembro próximo. Mas ainda que obtenham maioria em ambas as casas, algo de possível mas difícil consecução, ainda seriam necessários votos Republicanos para que um voto pro-impedimento presidencial viesse a ser aprovado. No atual contexto de alta polarização no país, é pouco provável que esse cenário se concretize.

Tem se especulado por aqui que agora que os Republicanos obtiveram um de seus maiores objetivos, uma reforma tributária que reduz fortemente a tributação empresarial, que eles poderiam se descartar de Trump, com seu estilo vergonhoso para o eleitorado conservador cristão, já que o vice-presidente Mike Pence seria mais alinhado com esse fundamental segmento eleitoral Republicano.

É pouco provável que isso venha a ocorrer já que, embora frente a população em geral sua aprovação seja baixa, Trump continua com forte apelo junto as bases Republicanas. De fato, frente aos últimos eventos envolvendo o lançamento do recente livro Fire and Fury, que trata dos bastidores do governo de uma maneira nada positiva, ao invés de tentarem se afastar de Trump, a maioria dos Republicanos repudiaram as críticas do até então conselheiro de Trump, o ultra-nacionalista Steve Bannon. Da mesma forma, supreedendo a maioria dos analistas que esperam por um rompimento do partido com o presidente, o que vemos hoje é que os Republicanos vem sendo pautados cada vez mais por Trump, especialmente a versão ultra-nacionalista de Trump.

Assim, ainda que os Estados Unidos tenha hoje um presidente que certamente rompe com todos os padrôes de etiqueta e mesmo da normalidade da condução do cargo, é quase certo que Trump continue sendo o líder máximo do país pelos próximos 3 anos, pelo menos.

* Professor de História Latino-americana e Política Comparada na Universidade de Denver, autor de Qual Desenvolvimento? Os Debates, Sentidos e Lições da Era Desenvolvimentista. (Paco Editorial, 2017).

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