EUA de Trump revoga avanços e endurece políticas para Cuba

por Domingos de Almeida

Eleito em novembro de 2016, Trump comprometeu-se a colocar a América em primeiro lugar. E no que diz respeitos às relações com Cuba, o político republicano agigantou a potência do norte para impedir que o embargo econômico, comercial e financeiro fosse flexibilizado, ou mesmo, suspenso, conforme defendia o ex-presidente Barack Obama.

Desde que foi eleito, Trump deu sinais de que cumpriria a promessa de cancelar as medidas adotadas durante o governo Obama com relação a Cuba, se o governo dos Castros não se dispusesse a negociar “um acordo melhor”, asfixiando ainda mais o regime político da Ilha. O primeiro anúncio oficial de Washington sobre a revisão de todas as políticas dos EUA para Cuba veio no dia 3 de fevereiro, durante uma coletiva de imprensa do então porta-voz da Casa Branca, Sean Spicer.

As medidas concretas foram anunciadas por Trump em 16 de junho em um comício realizado no Manuel Artime Theater, que leva o nome de uma das brigadas da fracassada invasão da Baía dos Porcos, em 1961, localizado em Little Havana, na cidade de Miami, tradicional polo de exilados cubanos ou, como são conhecidos, cubanos-norte-americanos, nos Estados Unidos.

Na cerimônia, o mandatário reforçou o embargo contra a Ilha, adotando novas restrições a viagens de americanos a Cuba, e proibindo empresas norte-americanas de fazer negócios com empresas cubanas controladas pelas Forças Armadas, o que responde a mais de 60% do mercado do país latino-americano.

Ao retroceder na política de reaproximação diplomática com Cuba para por fim ao bloqueio econômico, que já se encontra defasado, apesar de continuar prejudicando fortemente o povo cubano, Trump estava agradecendo e retornando o apoio recebido da dissidência cubana, que resolveu apoiá-lo, insatisfeita com a decisão de Obama de restabelecer relações com o país socialista.

A dissidência cubana de Miami se transformou em um poderoso lobby anticastrista que movimenta valores milionários, com poder e influência nos resultados eleitorais do país e, por isso, busca garantir a permanência das medidas hostis estadunidenses, conta com o apoio da maioria republicana que controla o Congresso e promete travar qualquer tentativa de terminar o embargo comercial a Cuba.

Os cubanos-norte-americanos formam um grupo ressentido pela perda de suas propriedades (algumas delas da máfia), desapropriadas por Castro no início da revolução. No entanto, Cuba vem demonstrando força nos últimos anos, depois de ter suportado as mais duras restrições e os momentos mais agressivos do embargo econômico. E o apoio dos países latino-americanos tem sido decisivo para a integração do país caribenho aos organismos regionais, como a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC) e a participação na 7º Cúpula das Américas, realizada no Panamá, em abril de 2015, e a inserção efetiva no sistema internacional.

Em 2015, pelo vigésimo-quarto ano consecutivo, a Organização das Nações Unidas (ONU) condenou o bloqueio econômico estadunidense a Cuba; apenas Israel e Estados Unidos votaram contra. Em 2016, esses dois países se abstiveram, consolidando o apoio internacional à reivindicação cubana para por fim ao bloqueio econômico. Ao se abster, EUA acenou positivamente para a comunidade internacional, mas principalmente para a América Latina, região onde sua hegemonia não é mais unânime e se encontra ameaçada.

Obama foi obrigado pela história a reatar relações com Cuba, ao mesmo tempo em que esteve pressionado pelas forças da direita conservadora de seu país, contrárias ao processo. As mesmas forças que apoiaram Trump na disputa presidencial e que agora o pressionam para que ele endureça as políticas do bloqueio que já custaram a perda de mais de US 100 bilhões aos cubanos.

Passaram-se mais de cindo décadas até os Estados Unidos reconhecer a soberania de Cuba e a legitimidade de seu governo, nação que ousou fazer uma revolução socialista e desafiar o poderio da maior potencia do planeta. Além de resistir a todas as tentativas de ingerência norte-americana. E isso pesou na decisão de Trump, que apesar de retroceder, não cancelou todos os avanços diplomáticos alcançados por seu antecessor, o que lhe rendeu duras críticas da dissidência cubana de Miami, que esperava medidas mais rigorosas contra a Ilha.

Trump sentiu a responsabilidade de ser presidente de uma nação, e entendeu que a adoção de medidas não pode ser feita de forma monocrática e sem levar em consideração a conjuntura na qual se está inserido. Existem forças que atuam no grande tabuleiro da política, incapazes de serem controladas. E os próximos passos da política externa norte-americana para a normalização das relações diplomáticas com Cuba são incertos, pelo menos enquanto durar a gestão Trump.

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