Política Doméstica

Comey, Spicer, Priebus, Scaramucci: qual será a próxima demissão de Trump?

Se, no início do governo Donald Trump em janeiro de 2017, a pergunta era sobre quem seria o primeiro a sair, agora, seis meses e muitos escândalos e polêmicas depois, a pergunta é quem ficará até o final. Para seus críticos e adversários políticos, aliás, quando será esse final é uma questão relativamente em aberto. Seja por decisão pessoal, seja por determinação (ou pressão indireta) do presidente, é grande e incomum o número de baixas registradas no alto escalão do Executivo americano em tão curto tempo de administração. Também é incomum o número de cargos de prestígio ainda não preenchidos, assim como de indicações à espera de aprovação no Congresso. Boa parte das saídas relevantes está relacionada a um imbróglio que assombra a Casa Branca desde a entrada de seu novo hóspede: a suspeita de que membros de sua equipe de campanha, assim como de seu entorno pessoal mais íntimo, tenham orquestrado um conluio com o governo russo para minar a credibilidade e derrotar sua adversária na corrida presidencial de 2016, a ex-secretária de Estado Hillary Clinton.

Últimas baixas

Julho foi marcado por um ritmo intenso na dança das cadeiras washingtoniana, com quase dez saídas e substituições de alto perfil do governo Trump. A última aconteceu no dia 31, encerrando não apenas o mês como também uma escalada de troca de acusações e de mal-estar no gabinete. Com uma Casa Branca operando de incêndio em incêndio, uma comunicação clara é cada vez mais essencial e, na mesma medida, cada vez mais difícil – dentro do governo, com a imprensa e com os demais atores políticos. O agora ex-diretor de Comunicações da Casa Branca Anthony Scaramucci foi demitido menos de duas semanas depois de ter sido convocado por Trump. Generoso doador da campanha do magnata republicano e conhecido por sua lealdade ao presidente, Anthony Scaramucci havia assumido a posição que estava vaga desde a saída de Michael Dubke, em maio.

Três dias antes (28) e como resultado do recrudescimento das divergências com Scaramucci, o ainda chefe de gabinete da Casa Branca, Reince Priebus, deixou o governo. Ele estava na função desde a posse de Trump, em 20 de janeiro – o que é muito pouco tempo para os padrões dos mandatos recentes. Em seus dois governos, o presidente democrata Barack Obama teve quatro chefes de gabinete (Rahm Emmanuel, Bill Daley, Jack Lew e Denis McDonough) e um interino (Pete Rouse). Todos duraram mais de um ano no cargo. Seu antecessor, o republicano George W. Bush, contou com Andrew Card e Joshua B. Bolten nos oito anos de sua gestão.

Para substituir Priebus, Trump deslocou seu então secretário de Segurança Interna, general John Kelly, que pressionou pela saída do polêmico lobista, na tentativa de fazer algum tipo de controle de danos dos últimos acontecimentos. Em inflamadas e pouco elogiosas declarações à imprensa e no Twitter, Scaramucci expôs Priebus, apontando-o como um dos possíveis “vazadores” da Casa Branca. Também ameaçou demitir toda sua equipe por conta dos vazamentos para os jornais.

Ambos são antigos desafetos. Foi Priebus que embarreirou sua entrada no início do governo. O lobista chegou a vender sua empresa, a SkyBridge Capital, para poder integrar o gabinete. Agora, nessa derradeira queda de braço, o ex-presidente do Comitê Nacional Republicano perdeu. Aliado de Priebus, o porta-voz da Casa Branca, Sean Spicer, havia renunciado em 21 de julho, em protesto contra Scaramucci, que tomou posse nesse mesmo dia. Sarah Huckabee Sanders assumiu o lugar de Spicer. O então vice-secretário de Imprensa, Michael Short, também abandonou a equipe, na esteira do “efeito Scaramucci”.

Ainda nesse mês, no dia 6, Walter Shaub já havia deixado o posto de diretor do Gabinete de Ética do Governo por discordar das participações financeiras de Trump. E saiu disparando. Segundo ele, a gestão do republicano é “motivo de chacota”, com potenciais conflitos de interesse entre o papel do presidente e seus negócios, ignorados pela Casa Branca. “Vão começar a se referir a nós como uma cleptocracia”, denunciou.

Estrago russo

Em fevereiro, o então conselheiro de Segurança Nacional, Michael Flynn, teve de renunciar, após menos de um mês no cargo, por ter omitido do vice-presidente Mike Pence contatos com o embaixador de Moscou nos Estados Unidos, Sergey Kislyak – antes e depois da campanha de 2016. Ambos teriam discutido sobre sanções adotadas na gestão Obama contra a Rússia. No dia seguinte à sua renúncia, o presidente Trump teria-se reunido com o ainda diretor do FBI, James Comey, para lhe pedir que arquivasse a investigação sobre seu ex-conselheiro. Logo no início do governo, a procuradora-geral interina, Sally Yates, chegou a informar a Casa Branca sobre a possibilidade de Flynn ser chantageado pelos russos. Além de alertar sobre Flynn, Sally irritou Trump ao se recusar a cumprir o travel ban, decreto de proibição de entrada nos EUA de cidadãos de países de maioria muçulmana. Foi demitida em 30 de janeiro.

Agravando um cenário já pouco favorável, de forma inesperada, Trump anunciou a demissão de Comey, em 9 de maio. Ele foi o segundo diretor do FBI a ser demitido por um presidente. O primeiro foi William S. Sessions, demitido por Bill Clinton em 1993. Trump justificou sua decisão, alegando má condução da investigação sobre o uso de e-mails por parte de Hillary, quando ela esteve à frente do Departamento de Estado. Em testemunho no Senado, porém, o ex-diretor se defendeu, denunciando ter sido demitido por causa da investigação sobre o conluio entre membros da equipe de Trump e o governo russo.

Em 1º de agosto, por 92 votos contra cinco (todos democratas), o Senado confirmou o novo diretor do FBI, Christopher Wray. Funcionário de alto escalão do Departamento de Justiça durante o governo W. Bush, esse advogado formado em Yale assume com a responsabilidade de manter a independência da agência, exposta à forte pressão do Executivo de Trump em meio a uma densa e potencialmente explosiva agenda investigativa. Nas audiências para confirmação do cargo, Wray garantiu que renunciará se lhe for pedido que faça algo ilegal, ou imoral.

Expectativa

Primeiro senador a dar seu apoio à improvável candidatura do magnata nova-iorquino, o secretário de Justiça, Jeff Sessions, vem sendo fritado há semanas. Sua saída parece ser uma questão de (pouco) tempo. Em recente desabafo à imprensa, lamentou as críticas “dolorosas” de Trump, em especial depois que o presidente disse se arrepender de tê-lo nomeado. Com o aumento dos vazamentos relacionando pessoas de seu círculo mais próximo – entre elas seu filho mais velho, Donald Jr., e seu genro, Jared Kushner – ao escândalo russo, Trump reclamou que Sessions tenha-se declarado impedido de participar das investigações em curso. Também acusou-o de fraqueza em relação às denúncias contra Hillary e contra os responsáveis pela divulgação de informações confidenciais. A recusa faz todo sentido, já que o próprio secretário admitiu ter tido contatos com o embaixador Kislyak. O último procurador-geral a ser demitido do posto foi Howard McGrath, em 1952, no governo de Harry Truman, por afastar o procurador independente que investigava a corrupção nesse mesmo Departamento.

Além dele, as especulações têm aumentado quanto à saída do secretário de Estado, Rex Tillerson, e do conselheiro de Segurança Nacional, H.R. McMaster – segundo no cargo em pouco mais de seis meses. Nos dois casos, são fortes os rumores de conflitos com Trump, tanto em questões pontuais, como a relação com a Rússia, quanto em termos mais gerais de Política Externa e Segurança Nacional.

por Tatiana Teixeira

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